Memória, experiência e montagem

Autores

  • Rodrigo Amboni UFSC

DOI:

https://doi.org/10.5007/2176-8552.2017n23p195

Resumo

Partindo das cartas recebidas por Tarkovski após o lançamento do filme
O espelho e algumas ideias lançadas no seu livro Esculpir o tempo, este texto
faz uma aproximação dos conceitos benjaminianos de narração, memória e
experiência a uma ideia de montagem poética. Tarkovski fala que poesia é a
consciência do mundo. No ensaio proponho, a partir de Benjamin, que poesia
é a inconsciência do mundo. Uma montagem poética, para conservar sua potência,
não deve partir do que já foi processado pela consciência, pois estaria
apenas transformando potências em atos fechados. Quando Tarkovski fala
em uma lógica poética, em contraponto à lógica “realista” da dramaturgia que
se apoia em um enredo predeterminado, proponho pensar numa falta de
lógica. Na falta de lógica da narrativa poética o que se tem é uma operação
do pensamento que se aproxima da experiência a partir do inconsciente do
mundo. Uma montagem poética opera com impressões da memória e faz essa
operação deixando as marcas daquele que monta. As impressões da memória
são esquecimentos. São as fissuras provocadas no acontecimento objetivo pela
subjetividade do autor. A subjetividade do autor é o esquecimento – que permanece
como impressão – do “puro em si” da coisa narrada.

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Publicado

2017-06-26