Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da
Informação
CULTURA DO CIBERESPAÇO
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos
Ireneu da Costa. São Paulo : Ed. 34, 1999. 260 p. (Coleção
TRANS)
O termo cibercultura, conceituado
por Levy (p. 17), significa o "conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atividades, de modos de pensamento
e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço".
Este livro surge de um relatório
encomendado pelo Conselho Europeu, aborda as implicações
culturais do desenvolvimento das tecnologias digitais de informação
e de comunicação. Deixando de fora as questões econômicas
e industriais, os problemas relacionados ao emprego e as questões
jurídicas.
O livro inclui introdução,
18 capítulos divididos em três partes, conclusão, e,
um glossário com termos da telemática elaborado pelo tradutor
(da respectiva obra). Na introdução, o autor, utiliza a metáfora
do dilúvio informacional para que a sociedade consiga resgatar e
transmitir conhecimentos para a humanidade considerando a universalidade
das mensagens.
Quanto aos aspectos da apresentação
gráfica, o leitor toma contato direto com a obra pelas orelhas e
dorso, e pelo sumário que retrata as partes, os capítulo
e suas subseções possibilitando um acesso mais dinâmico
sobre os temas abordados. As citações e notas do tradutor
são apresentados em notas de rodapé facilitando a consulta
e sua leitura. Os destaques gráficos para frases marcantes ou as
inúmeras situações intercaladas na obra. Aparecem
três quadros na primeira parte da obra, tornando-a bastante didática
para esclarecer os conceitos.
A primeira parte (Definições)
engloba cinco capítulos com os quais o autor apresenta de forma
acessível aos leigos ponderações sobre os impactos
sociais e culturais das novas tecnologias, fornecendo uma descrição
dos conceitos técnicos que exprimem e sustentam a cibercultura.
No primeiro capítulo, Lévy enfoca as técnicas e seus
impactos nas sociedades, sobre as condicionantes e suas determinantes,
a participação do ser humano na cibercultura tornando-se
uma necessidade. O segundo capítulo apresenta o uso da informática
nos últimos 50 anos onde é impossível traçar
limites ou definir sua abrangência se considerado apenas o tecno-cosmo-ciberespaço.
Em seguida com o relato sobre o "Bezerro de Ouro", destacando o vazio interior
das coisas, num resgate sucinto de suas obras anteriormente publicadas
enfoca os conceitos sobre o que é o virtual, digital, hiperdocumentos
e multimídia. O quarto capítulo trata dos diferentes tipos
de interatividade na comunicação em relação
a mensagem. E finaliza abordando o ciberespaço introduzindo o leitor
no mundo das navegações na World Wide Web e seus diferentes
ambientes.
A Segunda Parte do livro
enfoca as proposições e implicações culturais
do desenvolvimento do ciberespaço e integra 8 capítulos.
O autor resgata as tendências da evolução técnica
que baseiam a universalidade desprovida de significado central - um "universo
sem totalidade" - da civilização emergente. Faz uma análise
sobre a nova pragmática das comunicações instaurada
pelo ciberespaço, conduzindo a explicação teórica
do conceito de universal sem totalidade. Desta forma é possível
compreender o movimento social que propaga a cibercultura, de suas formas
estéticas e de sua relação com o saber e as reformas
educacionais necessárias na cibercultura. Ao final desta parte,
são articulados os conceitos sobre a virtualidade do ciberespaço,
a cidade e a democracia eletrônica.
A terceira parte do livro
( Problemas) é constituída por cinco capítulos que
tratam dos aspectos negativos da cibercultura, principalmente dos conflitos
e críticas que provoca. Lévy discute principalmente a crítica
da substituição a qual negligencia a análise das práticas
sociais efetivas e parece cega à abertura de novos planos existenciais:
nos modos de relação (comunicação interativa
e comunitária); nos modos de conhecimento, de aprendizagem e de
pensamento ( simulações, navegações transversais
em espaços de informação abertos, inteligência
coletiva); e, nos gêneros literários e artísticos (hiperdocumentos,
obras interativas, ambientes virtuais, criação coletiva distribuída).
No capítulo sobre
a crítica da dominação, o autor pretende resgatar
todo o dinamismo da cibercultura que está relacionado ao entrelaçamento
e à manutenção de uma verdadeira dialética
da utopia e dos negócios, mencionando que o ciberespaço também
pode ser colocado a serviço do desenvolvimento individual ou regional,
e usado para a participação em processos emancipadores e
abertos de inteligência coletiva.
Apresenta a crítica
da crítica e as perguntas mais freqüentes sobre a cibercultura
e suas diferentes respostas, levando o leitor a uma profunda reflexão.
No capítulo da conclusão
- a cibercultura ou a tradição simultânea - o autor
enfoca que a cibercultura transmuta o conceito de cultura. Defende a tese,
conforme coloca na página 248 que "a cibercultura inventa uma outra
forma de fazer advir a presença do virtual do humano frente a si
mesmo que não pela imposição da unidade de sentido."
Distingue três grandes etapas da história: - a das pequenas
sociedades fechadas, de cultura oral, que vivem uma totalidade sem universal;
- a das sociedades "civilizadas", imperialistas, usuárias da escrita,
que fizeram surgir um universal totalizante; e - da cibercultura, correspondendo
à globalização concreta das sociedades, que inventa
um universal sem totalidade."
Trata-se de uma obra clássica
para intensificar as reflexões ocorridas pelas mudanças culturais
provocadas pelo uso intensificado das telecomunicações e
da informática, temas abordados em obras anteriores deste autor,
principalmente "As tecnologias da Inteligência" e "O que é
o virtual". Trata-se de leitura relevante principalmente para pesquisadores
das áreas de Ciências da Informação, Comunicação
(Mídia e Conhecimento), Educação, Psicologia e Sociologia.
Ursula Blattmann
Universidade Federal de Santa Catarina
Disponibilizado na WWW em 26/04/1999.
Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN
1518-2924, Florianópolis, Brasil.