Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação

O BIBLIOTECÁRIO NO OLHAR DO PÚBLICO ESCOLAR
Denise Mancera Salgado - Patricia Becker 
RESUMO
Analisa a percepção social formada acerca do profissional bibliotecário pelo público escolar em estabelecimento de ensino de I grau
 

1. Introdução

O bibliotecário é um profissional da informação capacitado a planejar, organizar, gerenciar Bibliotecas - públicas, escolares, universitárias, infantis; Centros, Serviços e Redes de Informação e Documentação em empresas, bancos, sindicatos, discotecas, editoras, arquivos, museus e outras organizações. É um profissional de nível superior, conforme a Lei n. 4.084, de junho de 1962. A formação deste profissional, dá-se através do processo formal oferecido por cursos de graduação e de pós-graduação, por conhecimentos adquiridos em seu local de atuação, ou oferecidos pelas associações profissionais. Dá-se também, pela atualização permanente influenciada pelas exigências do mercado, dentro das características políticas, econômicas, sociais e culturais de cada região, estado e país.

A formação bibliotecária tem por base a erudição e a técnica. A primeira escola de biblioteconomia de nível superior, foi fundada em Paris, 1821: École de Chartes calcada na erudição. A segunda escola surgiu quase meio século depois na América em 1887, com enfoque técnico: School of Library Economy fundada por Melvil Dewey - Universidade de Columbia (Fonseca, 1992).

O bibliotecário é um dos profissionais de informação responsável principalmente pelo tratamento de informação bibliográfica produzida nos meios acadêmicos e intelectuais, e parece ser inegável seu papel no tratamento e acesso à informação. No entanto, apesar de seu papel histórico na intermediação e produção do conhecimento, o seu reconhecimento social e profissional é pouco visível. Onde estariam as razões deste pouco conhecimento e reconhecimento?
 

 1.1 A Biblioteconomia no Brasil

A trajetória da formação dos profissionais bibliotecários no Brasil, na concepção de Souza (1990), é um projeto da elite, desde a idéia até a clientela de alunos. O primeiro curso tinha como disciplinas básicas os setores da Biblioteca Nacional - bibliografia, paleografia, diplomática, iconografia e numismática - refletindo a escola francesa, de formação erudita. Em 1929 a Biblioteconomia brasileira recebe influência da escola norte-americana de formação técnica. Segundo Tálamo (1992), desde o início, o ensino e a prática bibliotecárias caracterizam-se pela dissociação entre a teoria e prática, agravada pela adoção do enfoque tecnicista a partir da década de 30, que levou o ensino da área à um processo de aprendizagem do fazer pelo fazer, no qual os aspectos teóricos, metodológicos e sociais passam desapercebidos.

A hipótese levantada por Souza, acerca do caráter elitista da profissão e o distanciamento entre teoria e prática citada por Tálamo, poderiam explicar o pouco conhecimento da área de biblioteconomia e do profissional bibliotecário, na sociedade brasileira. Porém, Guimarães e Guarezzi (1994) levantam um aspecto negligenciado pela categoria profissional: A divulgação do profissional em biblioteconomia. Esses autores afirmam que:
"Divulga-se a biblioteca, estuda-se o usuário, dissemina-se a informação. Isso é fato. Mas não é tão comum divulgar-se a bibliote-conomia, estudar-se o bibliotecário, disseminar-se a informação sobre a profissão. Navegar, pois é preciso, nos mares da profissão, analisando o perfil do profissional e sua importância na atualidade. Afinal, quem é o profissional da informação?"

A literatura da década de 70 já alertava a problemática da falta de divulgação da profissão. Num trabalho publicado por Targino (1986), é detectado que o desconhecimento leva a conseqüente desvalorização da profissão do bibliotecário. Na percepção de Antônio Miranda: "o homem só ama aquilo que conhece. Na literatura é questionado ainda autores a quem caberia tal divulgação?" (Guimarães e Guarezzi, 1994). Porém, já é possível afirmar que o interesse pelo estudo da questão profissional vem crescendo a nível nacional e internacional . Em termos nacionais podemos citar autores como: Pimentel (1985), Mueller (1989), Giuliano ( 1982) , Oliveira (1983), Almeida Junior (1985), Robredo (1985) e Souza (1991). Em nível internacional temos os esforços levados a cabo na Inglaterra (pela Library Association), Espanha e França Ruse (1989) , Amat (1991), Michel (1993) citados por Guimarães e Guarezzi (1994). Destaca-se ainda a constituição do grupo MIP - Modern Information Professional pela Federação Internacional de Documentação - FID.

Para Guimarães e Guarezzi (1994):  "Igualmente importante, é atingir os usuários - de hoje e de amanhã - estes entendidos não apenas como os que se valem dos serviços bibliotecários mas, indo além, aqueles que, por tal razão, poderão vir a contratar tais serviços".

Ampliando o universo apontado por Guimarães e Guarezzi, é necessário incluir neste universo de divulgação o público infantil, principalmente em nível escolar.

1.2 A percepção no processo de divulgação profissional

Nenhum indivíduo nasce membro da sociedade, nasce sim com predisposição para a sociabilidade, em outras palavras, ele se faz membro da sociedade a medida que interioriza um acontecimento objetivo subjetivamente significativo para ele e para a sociedade onde está inserido. Para Berger e Luckman (1990): "Esta apreensão não resulta de criações autônomas de significado por indivíduos isolados, mas começa, com o fato do indivíduo assumir o mundo no qual os outros já vivem".

A socialização de um indivíduo acorre em dois níveis: a socialização primária e secundária. A socialização primária, é experimentada na infância, é quando o indivíduo se torna membro da sociedade. A socialização secundária é um processo subsequente, baseada nas instituições da sociedade constituída. A socialização é processo dialético entre realidade objetiva e subjetiva percebida pelo indivíduo desde sua mais tenra idade (Berger e Luckmann, 1990).

A percepção do mundo objetivo e subjetivo é o conhecimento e adquirido através dos sentidos, é formação de idéias, a partir do mundo objetivo que chegam ao indivíduo por diferentes formas de comunicação.

A percepção não deve ser analisada de uma única maneira. Por ser uma atividade psicológica deve ser interpretada com base no contexto em que o indivíduo se encontra. Segundo Pinto (1990) a percepção depende das experiências que o percebedor tem de si mesmo, combinada à experiência que ele tem do objeto, no contexto onde esse é percebido.

O modo de se perceber as pessoas difere do modo de perceber "coisas" ou objetos materiais. Na percepção interpessoal um fator de grande importância é a comunicação. Se o percebido emite mensagens de recusa em relação ao percebedor, a percepção não será realizada ou poderá ocorrer de forma difusa. Assim boa percepção e boa comunicação mutuamente se implicam.

A divulgação de uma categoria profissional tem como elementos a socialização imbuídas da percepção em nível primário e secundário do indivíduo. Miranda citado por Guimarães e Guarezzi ( 1994), afirma que só amamos o que conhecemos. Qual seria a percepção, conhecimento ou aproximação do público escolar com a figura do bibliotecário? Quais seriam as variáveis percebidas pelo público escolar com relação ao bibliotecário? O quê a criança pensa a respeito do bibliotecário? O ambiente informacional tem alguma influência na sua percepção em relação ao profissional bibliotecário?

1.3 A biblioteca escolar e o profissional bibliotecário

A biblioteca escolar no Brasil apresenta problemas estruturais e políticos que fazem desse assunto uma problemática nacional. Em muitos casos as bibliotecas escolares são meros depósitos de livros, em salas adaptadas e que não atendem as reais necessidades e finalidades para as quais a mesma foi criada. Para Amato e Garcia (1989) "a biblioteca escolar deve existir como um órgão de ação dinamizadora e não cair na passividade que, às vezes, nos leva a não efetuar um trabalho difusor de informações por não sentirmos estimulados e respaldados por aqueles que seriam, em primeira instância, beneficiados pelo trabalho da biblioteca."

Esse descaso leva os profissionais envolvidos no processo a terem uma atitude passiva e cômoda em relação a problemática gerada. Mais que uma instituição difusora do conhecimento, a biblioteca escolar tem como função primordial a de criar cidadãos, contribuindo com a escola no processo de ensino/aprendizagem, ou seja, desempenhando um importante papel na educação da população. Na visão de Nery (1989)"A biblioteca escolar é o centro do fazer educativo."

Dentro desse contexto a biblioteca escolar deve ser administrada de forma a estar sempre voltada para atender as necessidades que os programas escolares exigem, sendo de vital importância a participação dos professores e demais componentes da escola nas atividades desenvolvidas pela biblioteca. Para Silva, E. (1989) sem a participação dos professores, a dinamização da biblioteca escolar dificilmente será viabilizada na prática, pois é o planejamento do ensino que determina o tempo acadêmico dos alunos.

O profissional bibliotecário, em especial o bibliotecário escolar, tem dentre suas funções primordiais a de educar. Segundo Sobral (1982) o bibliotecário é um educador de forma geral e um programador de meios em especial. Cabe a ele exercer real influência sobre a qualidade do programa geral da escola e, diretamente, sobre a programação total da biblioteca. "Cabe ao profissional em atuação na biblioteca escolar torná-la objeto de reflexão e espaço de participação para todos os segmentos da escola e da comunidade na qual ela se insere."(Silva, W. 1995)

Dentro deste contexto foram levantadas questões de reflexão dentro do Projeto de Extensão O BIBLIOTECÁRIO: QUEM É? O QUE FAZ? atuando na formação continuada e garantindo o direito a informação/UDESC/FAED. As inquietações resultaram em investigar a percepção social que o público escolar de 1ª a 4ª série tem sobre o profissional bibliotecário, tendo como objetivos específicos:

- Identificar qual a imagem elaborada acerca do bibliotecário pelo público escolar de 1ª a 4ª série do I grau;

- Verificar qual a imagem percebida pelo público escolar do bibliotecário através da técnica do desenho e da redação;

- Valorizar o profissional bibliotecário nas atividades desenvolvidas pelo público escolar;

- Garantir a divulgação da atividade bibliotecária no processo de socialização do público escolar de 1ª a 4ª série do I grau.

2 Metodologia

A metodologia utilizada neste estudo foi do tipo exploratório-descritivo. A investigação acerca da percepção (imagem) formulada sobre o profissional bibliotecário foi efetuada em dois estabelecimentos de ensino do município de Florianópolis que oferecem o ensino de 1ª a 4ª série do I grau: o Colégio Coração de Jesus (C.C.J) com cerca de 1.160 alunos e o Colégio Estadual Getúlio Vargas (C.E.G.V) com cerca de 1.600 alunos de 1ª a 4ª série. A amostra estudada compõe-se de 227 alunos.

A coleta de dados efetuou-se através da técnica do desenho para a 1ª e 2ª série, e a técnica da redação livre para os alunos da 3ªe 4ª série do público alvo do estudo. Para complementar os dados foram solicitadas descrições das coordenadoras do C.C.J. e pela orientadora educacional do C.E.G.V., acerca das turmas onde os dados foram coletados.

    1. Caracterização do campo de pesquisa
    1. Colégio Coração de Jesus
Fundado a 15 de janeiro de 1898, o C.C.J. localiza-se no centro urbano do município de Florianópolis. Dirigido pelas Irmãs da Divina Providência, foi o primeiro estabelecimento de ensino com internato no Estado.

Em 1919 começou a oferecer aos alunos o Curso Normal, responsável pela formação de educadores. Atualmente abriga 5176 alunos, 271 professores e 135 funcionários, e oferece ensino do pré-escolar ao II grau, sendo que no I grau oferece Educação Especial para alunos portadores de deficiências. No II grau oferece os seguintes cursos: Educação Geral, com Terceirão; Técnico em Enfermagem e Magistério de I grau.

      1. Colégio Estadual Getúlio Vargas
Criado em 1940, o C.E.G.V., localiza-se no bairro Saco dos Limões, no município de Florianópolis. Até 1970 o Grupo Escolar Getúlio Vargas, como era chamado, atendeu a clientela de 1ª à 4ª séries. Em 1971, torna-se Escola Básica e passa a atender alunos de 5ª à 8ª séries. A partir de 1979, transforma-se em Colégio Estadual, atuando também no ensino de 2º grau. Com a reforma do prédio em 1981 passa a ter capacidade para atender 2.500 alunos.

Atualmente o C.E.G.V. oferece ensino da pré-escola ao 2º grau, sendo que no 2º grau oferece os cursos: Técnico de Administração, Desenhista de Instalações Elétricas, Magistério e Educação Geral, além do curso de preparação pré-vestibular (O Terceirão). Em convênio com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, a escola oferece o Curso de Alfabetização de Jovens e Adultos e Supletivo de 1ª à 8ª séries.

3 Análise e apresentação dos dados

3.1 Público escolar de 1ª e 2ª série

Na análise dos dados referentes a 1ª e 2ª série dos Colégios Coração de Jesus e Getúlio Vargas percebemos que as crianças enfatizam o profissional bibliotecário em seu ambiente de trabalho (biblioteca), conforme pode ser observado na figura abaixo.

Figura 1- A percepção do profissional bibliotecário pelo público escolar de I grau do C.C.J. e C.E.G.V.

Esse fato confirma o conceito de que as crianças tendem a perceber o profissional no contexto o qual está inserido. Para a criança é difícil a dissociação entre bibliotecário e biblioteca. Para Sá (1994), "a criança tende a generalizar suas percepções. O objeto se confunde com a própria percepção e o conceito substitui integralmente o objeto." Para Kesserlring (1990), a criança com idade entre 1 a 8 anos está no segundo nível de desenvolvimento, neste período reduz a perspectiva de outras pessoas a sua perspectiva - não tem capacidade de diferenciação.

Essa mesma conceituação pode ser utilizada para explicar os percentuais obtidos nos Colégios Coração de Jesus e Getúlio Vargas na categoria bibliotecário versus estante, que denota a confusão ou generalização feita pelas crianças entre objeto e contexto. Allport, citado por Pinto, 1990, afirma que "o processo de perceber pessoas é e não é como os outros processos perceptuais. A principal diferença é que os objetos humanos, ao contrário dos outros objetos, nos impressionam com suas finalidades, sua animação, suas intenções para conosco e sua relativa imprevisibilidade. Uma excitação específica liga-se à percepção de pessoa."

Essa conceituação é confirmada ainda nos dados levantados no que refere-se a descrição por parte dos alunos do bibliotecário e das funções por ele desempenhadas. Segundo Sobral (1982) o bibliotecário escolar no desempenho de suas funções, realiza atribuições administrativas, educativas e técnicas. As atribuições administrativas relacionam-se com a organização do acervo, planejamento de instalação e manutenção da biblioteca etc; as educativas, ao incentivo à leitura, planejamento de atividades relacionadas ao currículo escolar, orientação de uso da biblioteca, interação com os professores, etc; e as técnicas, ao processamento técnico, seleção e aquisição de acervo, organização do serviço de empréstimo etc. Assim, o bibliotecário foi retratado realizando alguma função profissional, ou seja, buscando um livro na estante, sentado na mesa atendendo a um usuário, atrás do balcão de empréstimo, fazendo a "hora do conto" etc.

As atividades retratadas não relacionam-se as atividades técnicas, mas as atividades educativas e administrativas. Para Silva, W., 1995 "... o bibliotecário escolar é uma espécie de coordenador da biblioteca, responsável, como já denota o termo, pela coordenação das sugestões, idéias, atividades vindas de todos os pontos da escola, sempre visando a transformação da biblioteca escolar num espaço dinâmico e articulado com o trabalho desenvolvido pelo professor.(...), o florescimento da postura de educador no bibliotecário escolar implica o seu desprendimento das tarefas mais técnicas. (...), não é possível admitir que o bibliotecário, especialmente o escolar, prenda-se a minúcias tecnicistas e, como conseqüência, relegue a planos inferiores o seu papel principal, qual seja, a orientação do leitor, sobretudo dos mais inexperientes, no contato com a biblioteca. A difusão da informação e a promoção da leitura."

3.2 Público escolar de 3ª e 4ª série

A percepção acerca do profissional bibliotecário e suas atividades representadas através das redações pelo público escolar de 3ª e 4ª série do I grau do C.C.J. e do C.E.G.V., demonstram que o bibliotecário é considerado uma pessoa amigável, ou seja, com boa capacidade de diálogo e predisposto a auxiliar o aluno em suas necessidades informacionais. Isso pode ser observado na freqüência com que relacionam a função bibliotecária de atendimento e auxílio à pesquisa citada pelos alunos do C.C.J. e de atendimento citada pelas crianças do C.E.G.V., conforme pode ser observado na figura 2 abaixo.

Figura 2 - Representação das funções profissionais referentes ao bibliotecário percebidas pelo público escolar de 3ª e 4ª série do C.C.J.

A função bibliotecária de atendimento é percebida com bastante ênfase elos alunos do C.E.G.V., conforme a figura 3 abaixo:

Figura 3 - Representação das funções profissionais referentes ao bibliotecário percebidas pelo público escolar de 3ª e 4ª série do C.E.G.V.

A literatura atual aponta a problemática da interação biblioteca e escola. Para Amato e Garcia (1989) "os bibliotecários recebem alunos sem orientação para os trabalhos de pesquisa e se revoltam com o que costumam chamar ‘de falta de orientação dos professores’, que, por sua vez, alienam completamente a biblioteca do contexto educação, como se o bibliotecário não fizesse parte do trabalho educativo."

Ao analisar-se os dados obtidos detecta-se a freqüente relação entre atendimento e auxílio à pesquisa por parte dos alunos; observando ainda os dados referentes ao comportamento amigável do bibliotecário leva a crer que essa realidade não pôde ser detectada na população estudada, contrastando com a opinião da literatura na área. Essa afirmação pode ser confirmada através dos textos abaixo, retirado das redações.

"A bibliotecaria ela ajuda a pesquisar, ajuda a fazer trabalhos, ela amostra onde esta os livros mais ela não procura que a gente que no livro mas nos perguntamos o que nos queremos ela pega o livro."
"Quando nós entramos na biblioteca nós somos bem atendidos. Ela nos atende muito bem ..."
Sobral, 1982, nos alerta que "o bibliotecário escolar é exigido que possua qualidades (inerentes e adquiríveis), julgadas indispensáveis no exercício de suas funções." Dentre essas funções a autora destaca: disponibilidade, cooperação, orientação, bom relacionamento, entusiasmo, dinamismo e colaboração.

Essas qualidades são complementadas por Amato e Garcia, 1989, que consideram que o responsável pela biblioteca escolar "deve ser um elemento sempre atento às atividades que são desenvolvidas pelos professores, auxiliando-os na função pedagógica. Deve ter criatividade, interesse, um certo conhecimento em organização de bibliotecas, para que os serviços prestados visem a um arranjo que facilite o manuseio do acervo e o atendimento do leitor."

Através dos dados coletados no C.E.G.V. percebe-se a importância que os alunos atribuem a função do bibliotecário de emprestar e localizar as obras, revelando o conceito por parte desses alunos do papel intermediador do bibliotecário entre o usuário e o livro, conforme pode ser observado nos gráficos, já apresentados.

Os alunos da 3ª e 4ª série do C.C.J. enfatizam a função bibliotecária lazer, o que não pôde ser observado nos dados do C.E.G.V., que não faz menção a essa função. Esse fato explica-se pelo motivo de que no C.C.J. a hora do conto é uma atividade constante e freqüente, envolvendo professores, plano de aula e alunos. As professoras e bibliotecárias Amato e Garcia (1989) defendem que a ação dinâmica da biblioteca deverá servir ao programa escolar: daí a necessidade de atividades em grupo, tais como: dramatização, jogos, hora do conto... Essas atividades encontram-se refletidas na realidade do C.C.J., fazendo com que na opinião dos alunos a biblioteca seja um local de lazer, conforme observa-se nos textos das redações obtidas na coleta de dados.

"Na biblioteca nós pegamos livros, brincamos e conversamos."

"Lá dentro da biblioteca é feito muitas coisas, como: gincanas, leituras, e muitas outras coisas."

Em ambos colégios verificou-se que a biblioteca é um local importante para o estudo, onde os alunos vão pesquisar, ler e ampliar seus conhecimentos. Portanto para esses alunos a biblioteca consegue desempenhar sua principal função, a de educar. Para Amato e Garcia (1989) os objetivos da biblioteca escolar são: - ampliar conhecimentos, visto ser uma fonte cultural;

- colocar à disposição dos alunos um ambiente que favoreça a formação e desenvolvimento de hábitos de leitura e pesquisa;

- oferecer aos professores o material necessário à implementação de seus trabalhos e ao enriquecimento de seus currículos escolares;

- colaborar no processo educativo, oferecendo modalidades de recursos, quanto à complementação do ensino-aprendizagem, dentro dos princípios exigidos pela moderna pedagogia;

- proporcionar aos professores e alunos condições de constante atualização de conhecimentos, em todas as áreas do saber;

- conscientizar os alunos de que a biblioteca é uma fonte segura e atualizada de informações;

- estimular nos alunos o hábito de freqüência a outras bibliotecas em busca de informação e/ou lazer;

- integrar-se com outras bibliotecas, proporcionando: intercâmbios culturais, recreativos e de informações."

Alguns desses objetivos são alcançados por esses colégios, conforme pode ser observado nos textos das redações dos alunos "A biblioteca serve para pesquisarmos sobre alguma coisa que não sabemos, para ler livros e para muitas coisas.

(...)

Eu sempre vou a biblioteca para duas coisas: Pesquisar e Aprender."

 "A biblioteca ela nos ensina e as bibliotecária nos empestra livros e da de fazer trabalhos e nos ensina as coisas que ajente não sabe tudo que a biblioteca faz anós..."

 "Quando eu quero fazer pesquisas e preciso de algum livro para procurar eu vou direto a biblioteca buscar, e uma das bibliotecárias vem me ajudar."
 

As crianças manifestaram-se também com relação a biblioteca como um local onde existem regulamentos e normas a serem cumpridos, sendo que no C.E.G.V. esses dados são predominantes. Os dados que revelam a atitude de severidade detectada pelos alunos por parte da bibliotecária, fazem crer que esse fato é de grande importância para os mesmos. Para Silva, W. (1995), se na escola a relação do aluno com a biblioteca for caracterizada por imposições, proibições, desconforto, padronizações de gosto ou buscas fracassadas, ela poderá carregar consigo as marcas dessa convivência negativa.

É importante ressaltar que a bibliotecária no exercício de suas funções deve estar atenta aos direitos e deveres dos usuários para que as normas e regulamentos da biblioteca não impeçam os alunos de terem livre acesso ao acervo e as informações. A professora Nery, 1989, traz como reflexão o fato de que:

"Se há uma biblioteca com um espaço físico determinado, que ele esteja sempre aberto, que seja agradável, acolhedor, conquistador, sem cão de guarda, sem cartazes proibitivos: por que não avisos mais simpáticos? Menos autoritários? Feitos pelos próprios freqüentadores da biblioteca?"

4 Considerações Finais

Os dados levantados no Colégio Coração de Jesus e no Colégio Estadual Getúlio Vargas revelaram que as atitudes ou o comportamento do bibliotecário em seu local de trabalho determinam a imagem formulada do mesmo pelos alunos. Em ambos estabelecimentos de ensino, o comportamento amigável: de simpatia e cordialidade do bibliotecário possuem índices significativos de representação. Desse modo, para um maior desenvolvimento e divulgação do profissional bibliotecário, é necessário que se invista na qualidade do atendimento e na atuação do bibliotecário no serviço de referência.

A associação constante do bibliotecário ao seu ambiente de trabalho e aos aspectos físicos do ambiente demonstram que os alunos percebem o profissional em seu contexto, percebendo seu desempenho e formulando seu perfil a partir da apresentação física estrutural da Biblioteca. Portanto se a biblioteca (o ambiente) estiver desorganizada, mal cuidada em seu aspecto físico, com aparência confusa e entulhada, esta será a percepção formulada pelo aluno com respeito ao próprio profissional. Assim, um ambiente claro, limpo e bem organizado é demonstração, para os alunos, de um profissional capaz, eficiente e dinâmico.

As atividades desenvolvidas na biblioteca do C.C.J. proporcionam aos alunos uma maior interação com a biblioteca, fazendo com que a percepção formulada pelos mesmos seja voltada para um compartilhamento de idéias entre bibliotecário e biblioteca. Desse modo, as atividades inerentes ao profissional bibliotecário podem ser melhor analisadas e compreendidas pelos alunos, que se encontram inseridos no contexto da biblioteca. A promoção de tais atividades torna possível uma maior divulgação do profissional e das atividades por ele desempenhadas.

Para uma maior divulgação do profissional bibliotecário, então, é necessária uma nova postura. O bibliotecário deve sair detrás do balcão e procurar uma maior interação com seu público. O usuário só é capaz de (re)conhecer o trabalho ou atividade desenvolvida pelo bibliotecário se for parte atuante da mesma, ou seja, se puder manter contato direto com o profissional responsável pelo atendimento de suas necessidades informacionais.

Para atuar no serviço de referência e atendimento ao público, algumas qualidades pessoais são necessárias: cordialidade, bom diálogo, paciência e amabilidade, tornam o bibliotecário um profissional mais receptivo. Através dessas qualidades e de uma boa atuação nas atividades bibliotecárias acima citadas, o bibliotecário poderá promover sua profissão e quebrar paradigmas que ainda estão no imaginário popular acerca do profissional bibliotecário. Assim, a imagem de profissional emburrado, desmotivado e apático, poderá ser substituída por uma postura profissional mais dinâmica, flexível, criativa e de maior credibilidade.

O profissional bibliotecário, escolar ou não, deve buscar valorizar sua profissão repensando suas atitudes e atividades. Assim, a prioridade para o profissional bibliotecário deve ser atender as necessidades reais e potenciais de seus usuários, em tempo hábil e de forma eficaz e eficiente. Somente dessa maneira sua profissão será valorizada, visto que, estará promovendo um desenvolvimento de outras atividades pelas quais ela é responsável em dar suporte.
 

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Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis, Brasil.