As mudanças sociais são geralmente vistas de duas posturas: como uma nova oportunidade ou como um perigo. Oportunidade de fazer surgir uma nova e melhor qualidade de vida e ameaça quando capaz de transformar a situação atual em algo pior ou mais adverso.
Percebe-se que, em parte, estas posturas são construídas a partir de como são recebidas as informações, o que varia de acordo com o nível sócio-econômico, cultural e intelectual de cada grupo social. De fato a participação da educação formal em todos os níveis, como um todo, e das práticas pedagógicas como a base dos processos de sociabilização, permitem o surgimento de mentes criadoras e inovadoras, fazendo a sociedade querer novos padrões de comportamento e conduta.
Partindo do princípio de que as realidades sociais são construídas por ações individuais e/ou coletivas, percebe-se que o homem tem suas ações comprometidas com sua visão de mundo e com um projeto de sociedade específico do qual faz parte. É portanto o homem um produtor e resultado do meio em que vive, influenciando e sendo influenciado por ele, e é neste cenário que a informação passa a ser o grande objeto das transformações que geram novas informações, novos cidadãos e assim sucessivamente.
Talvez seja por isso que a informação tenha se tornado instrumento de poder e de valor muito elevado dentro do contexto da globalização, onde a capacitação profissional é fator fundamental para uma boa colocação no mercado de trabalho, gerando profissionais cada vez mais preocupados com a qualidade das informações e em como obtê-las e com isto, buscando na educação formal mecanismos de qualificação profissional, capazes de mantê-los no mercado de trabalho.
Dentro deste contexto nota-se que a qualidade de vida está também ligada ao nível - alto ou baixo - de informações geradas e passadas para a sociedade, criando um ciclo entre educação, informação, capacitação e desenvolvimento.
De acordo com Labourdette, existe uma interrelação entre a informação e desenvolvimento, sendo este último responsável pelo fortalecimento dos países no que diz respeito à competitividade mundial.
É pensando desta forma que os países da América Latina têm discutido amplamente sobre a educação como um todo e qual sua participação e contribuição para a formação não só do profissional mas do cidadão enquanto ser humano participativo de todos os processos políticos, sociais e culturais, como um ser global.
No Brasil em especial, a educação passa por transformações profundas que, com certeza, mudarão a postura e visão de mundo dos futuros profissionais e cidadãos.
Partindo do conceito sociológico de educação nota-se que ela "é o processo de transmissão e indução de cultura que se dá no convívio entre gerações numa determinada sociedade", destacando a idéia de que a transmissão é a informação enquanto patrimônio cultural passada de uma geração a outra, e que indução é a criação do novo através do convívio social das gerações.
Vem-se observando que as novas tecnologias tornaram o processo de recuperação e transmissão de informações muito rápido e acessível a um grande número de pessoas, que com certeza tende a aumentar cada vez mais. Faz-se necessário então, que a grade curricular ofereça os mecanismos essenciais para a formação de novos profissionais aptos a participar do mercado globalizado.
A fim de se tornarem modernos, grande parte dos países, se não todos, começaram a investir em si mesmos, através da adoção dos meios técnicos e científicos que consciente ou inconscientemente passaram a ser considerados como os grandes alicerces geradores da modernidade. E como consequência dessa modernidade, temos a chamada globalização, capaz de desterritorializar as barreiras referentes ao tempo e espaço.
A partir disso tem-se a unificação de todos os indivíduos do mundo inteiro, facilitando não só a comunicação entre tais indivíduos localizados em pólos distintos, mas também trazendo a sensação de se poder estar em qualquer lugar em fração de segundos, propondo a "democratização da informação".
Contudo, tal democratização não se faz de forma simples, uma vez que para isso exige-se a decifração de códigos que correspondem a dois elementos básicos.
A eletrônica é citada como sendo o primeiro elemento, pelo simples fato de que para ocorrer a comunicação virtual, faz-se necessário a existência de máquinas e equipamentos apropriados. Além disso, para se transportar através dos endereços eletrônicos, tem-se que possuir e dominar as linguagens trabalhadas junto aos sistemas localizados no CPU dos computadores.
O segundo elemento que permite o acesso ao "mundo sem barreiras", refere-se ao chamado cartão de entrada universal, isto é, à questão lingüística, que independente da vontade própria , obriga cada usuário a ter um certo domínio sobre o inglês, já que tudo ou quase tudo vem exposto nesse idioma.
Como se pode ver, a modernidade, além de proporcionar algumas vantagens, já que é capaz de beneficiar o cotidiano das pessoas, traz também seus pontos negativos.
Diz-se pontos negativos devido à realidade brasileira. Em que pese o Brasil lutar desde a sua proclamada independência para se tornar contemporâneo dentro do seu tempo, com o intuito de se igualar aos países industrializados, desenvolvidos, avançados, predominantes, civilizados e informatizados, o fato da maioria da população não possuir domínio junto às questões lingüísticas e eletrônicas, torna a realidade moderna um tanto dicotômica, trazendo uma outra visão da globalizacão que, apesar de se mostrar tão clara, passa desapercebida, já que as pessoas preferem considerar o surgimento da globalização como algo universalizador, capaz de agrupar em uma só aldeia global todas as pessoas e coisas.
A regionalização é outro aspecto paradoxal da globalização, pois mesmo conseguindo transpor as barreiras espaço-temporal, as pessoas que vivem no sul possuem um modo de vida totalmente diferente das demais que vivem no norte do Brasil; afinal, cada região apresenta suas culturas fortemente enraizadas, isto é, experiências de vida diferenciadas e sem a menor chance de unificação, como espera a moderna sociedade globalizada.
A partir disso, observa-se superficialmente a controvérsia da modernidade,
pois ao mesmo tempo que a globalização objetiva unificar o mundo,
transformando-o numa grande aldeia global, em função das pessoas possuírem modo
de vida próprio e diferenciado entre si jamais farão parte de um universo uno e
verdadeiro.
Entretanto observa-se que a introdução de mudanças tecnológicas, por exemplo, alteraram os mecanismos de propagação da informação sem, entretanto, democratizá-la integralmente.
Mas, os tempos mudaram e com ele tudo o que existia na natureza sofreu alterações ou modificações e, dentre tais elementos, cita-se o surgimento de variadas fontes de informação.
Isto promoveu uma mudança profunda no desempenho de profissionais formados para captar, organizar, armazenar e disseminar a informação. Trata-se do bibliotecário.
A variedade de fontes de informação é fato nos dias atuais, e pode-se encontrar e recuperar a informação através não só da forma convencional, como também por formas não-convencionais.
Por formas não-convencionais, entende-se os suportes que não se encontram no formato tradicional (livro) ou nas formas impressas, podendo-se desta maneira, obter-se a informação por meios auditivos, audiovisuais, sonoros, fotográficos e muitos outros.
Isto implica em afirmar que se está utilizando as fontes de informação, independentemente da forma em que ela esteja exposta, a partir do momento em que se consegue disseminar a informação que proporciona a satisfação pessoal do usuário.
Pensando desta forma, os que fazem parte do campo da Biblioteconomia têm que ser os primeiros a mudar a mentalidade de que o bibliotecário só deve trabalhar em bibliotecas, utilizando apenas o livro como instrumento de trabalho.
A mudança de conduta encontrará ressonância também na formação oriunda dos vários cursos de Biblioteconomia, pois as experiências vividas e sentidas no âmago da sociedade moderna demonstram que os usuários de hoje já não são mais os mesmos de tempos atrás.
Hoje, os usuários que frequentam as bibliotecas, não apenas sabem o que querem e o que esperam dela, como também exigem que a informação chegue às suas mãos de forma muito mais rápida e segura, isto é, de forma completa e atual o bastante para lhe gerar a satisfação.
Por esta razão, é mais sensato denominar a biblioteca como unidade de informação e o usuário como um cliente, pois baseando-se em Abaillí, deve-se considerar a biblioteca como sendo uma importante empresa social, tornando-se desta forma, essencial para o desenvolvimento intelectual do indivíduo, da comunidade, da sociedade e consequentemente da nação, através da disseminação da informação certa.
É informação certa, quando se refere à localização e recuperação dos documentos que realmente serão úteis ao usuário.
Isto implica afirmar que os documentos que existem em um acervo, ao servirem a um certo usuário, não necessariamente servirão aos demais, necessitando estar o profissional responsável pela disseminação da informação, bastante atento para as necessidades de sua clientela especialmente sob dois aspectos:
A partir disso, tal unidade de informação não se prende apenas à biblioteca tradicional, podendo ser os demais locais conhecidos como centro de documentação ou outras formas existentes.
Por profissional da informação, considera-se aqueles bibliotecários que apresentam, por opção, uma mudança de postura através da consciência da importância para a comunidade, uma vez que sua missão e papel continuarão os mesmos, ou seja, desenvolver a comunidade através da informação certa e a um custo baixo e, sobretudo, de forma rápida, segura e eficaz.
Já os usuários citados como clientes se apresentam como seres ativos em uma sociedade transformada por mudanças constantes.
Com os processos da modernidade e, particularmente, com a globalização, se faz necessário acima de tudo, que os profissionais da área de Biblioteconomia, cujo instrumento de trabalho é básicamente a informação, passem a estar paralelamente consonantes com as novas exigências da moderna sociedade globalizada da qual fazem parte.
Para isso os cursos de Biblioteconomia ministrados no Brasil devem buscar sua adaptação às novas técnicas existentes e trabalhadas hoje no processo de recuperação da informação, já que, atualmente, qualquer profissional pode trabalhar com a informação, desde que se capacite para tal.
Em virtude disso, perguntamos: por que a grade curricular de Biblioteconomia ainda não é voltada para a realidade moderna? O que está faltando para reverter a situação de que o bibliotecário não faz falta junto ao desenvolvimento da nação?
A resposta liga-se diretamente à estrutura dos atuais cursos de Biblioteconomia existentes em nosso país, pois, em sua maioria, continuam conservando o perfil tradicional de forma inconsciente, uma vez que sem tomarem consciência os professores apresentam um discurso moderno, enfatizando sobre a necessidade de mudança, e uma prática carregada de receios, ou mesmo acomodação em tornar realidade fatual tal discurso.
Viu-se também que na moderna sociedade globalizada a informação tem um custo que neste país apresenta alto, já que o controle da mesma se restringe a poucos, não permitindo, na realidade, que a população de uma forma geral consiga recuperá-la em seu próprio benefício.
Segundo Guimarães, as atividades do novo profissional concentram-se nos seguintes pontos:
Os países da América Latina já concluíram que é através de uma educação com excelência que capacite seus profissionais tanto de nível técnico como superior que poderão competir nos mais variados campos com os países considerados desenvolvidos.
No Brasil, também a SESu/MEC está convocando as instituições a apresentarem propostas para as novas diretrizes curriculares dos cursos superiores, visto que, frente à nova realidade, os currículos plenos devem ser construídos de forma mais flexível.
Sendo a informação/conhecimento, fonte de poder e transformação contínua é necessário que o bibliotecário/profissional da informação, tenha uma formação que lhe dê condições de contribuir da melhor maneira possível para o desenvolvimento da comunidade, sociedade e nação da qual faz parte.
Dentro da área da informação - especificamente a Biblioteconomia - vem-se buscando, através de estudos e debates na América Latina, chegar a um consenso para intercâmbio que levará à evolução dos cursos e profissionais da área.
Destacam-se dentro destes estudos:
Área 1- Fundamentos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação
Ementa: Comunicação e informação. Cultura e sociedade. Biblioteconomia. Documentação. Arquivologia, Museologia, Ciência da informação e áreas afins. Unidades e serviços de informação. O profissional da informação: fomação e atuação. História e tendências da produção dos registros do conhcimento das unidades e dos sistemas nacionais e internacionais de informação.
Área 2- Processamento da Informação
Ementa: Organização do conhecimento e tratamento da informação. Tratamento descritivo dos documentos. Tratamento temático: teoria da classificação: análise da informação; teoria da indexação. Práticas, tecnologias e produtos. Geração e organização de instrumentos de recuperação da informação.
Área 3- Recursos e Serviços de Informação
Ementa: Fundamentos, princípios, processos e instrumentos para: seleção, aquisição, avaliação, descarte, preservação, conservação e restauração de recursos de informação documentais e virtuais. Norma relativa ao desenvolvimento de coleções. Fontes de informação documentais e virtuais; conceitos, tipologias, características, acesso, utilização e evolução. Estudo e educação de usuários. A indústria da informação: geração, produção e comercialização de documentos, fontes e serviços de informação. Serviços de provisão e acesso. Serviços de referência e informação. Serviços de extensão e ação cultural.
Área 4- Tecnologia da Informação
Ementa: Aplicação da tecnologia da informação e comunicação nas unidades de informação: análises, evolução e desenvolvimento (hardwere e softwere). Gestão de base de dados e bibliotecas virtuais. Análises e evolução de sistemas e redes de informação. Informatização das unidades de informação.
Área 5- Gestão de Unidades de Informação
Ementa: Teoria geral da administração: teoria organizacional, teoria de sistemas. Técnicas modernas de gestão. Gestão de unidades e serviços de informação: leitores, usuários, clientes e ambiente social; formulação de projetos de informação; gestão de recursos humanos; gestão financeira; gestão do espaço físico; medição e evolução de serviços e unidades de informação.
Área 6- Pesquisa
Ementa: Epistemologia da pesquisa científica. Metodologia da pesquisa social. Pesquisa em Biblioteconomia e Ciência da Informação: produção e comunicação científica.
Marco específico: entende-se que a área de pesquisa deve compreender a transferência de conhecimentos teórico/metodológico, instrumentais e seu exercício prático na realidade.
Estas mudanças na grade curricular dos cursos de Biblioteconomia aproximarão os profissionais da nova realidade global e integrarão os países latinos facilitando o intercâmbio de profissionais e do conhecimento de forma geral.
Ressalta-se que os cursos de Biblioteconomia nas universidades brasileiras
estão promovendo estudos, debates e seminários para que as mudanças necessárias
sejam feitas o mais rápido possível, atendendo assim às exigências do mercado
nacional, internacional e dos próprios profissionais e graduandos.
ABAILLÍ, Isidro Fernández. Principales misiones del programa general de información de la America Latina. In: Encontro de Educadores Iberoamerica e Caribe, 3, 1996, Porto Rico: Universidade de Porto Rico, 1996.
BOTELHO, Deyse Enne. Disseminação da Informação I. Manaus: Univ. do Amazonas/Depto. Biblioteconomia, 1996. (notas de aula).
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade; tradução de Raul Fiker. São Paulo: Editora da Universidade Paulista, 1991. (biblioteca básica).
GUIMARÀES, José Augusto Chaves. Moderno profissional da informação: elementos para sua formação no Brasil. In: Encontro de dirigentes dos Cursos Superiores de Biblioteconomia dos Países do Mercosul, 1996, Porto Alegre. Porto Alegre: ABEDB, 1996.
IANNI, Octavio, 1926, 3.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. 228p.
LABOURDETTE, Maria Cristina Santos. Realidades contextuales de la formación de los profisionales de la información em América Latina y Cuba. Ciencias de la Información, Havana, v.24,n.1, mar. 1993.
MONLEVADE, João. Educação pública no Brasil: contos & de$conto$, Ceilândia-DF.: Idéia Editora, 185p. 1997.
Disponibilizado na WWW em 26/10/1998.