Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação

Encontros BIBLI Número 1, Florianópolis, maio de 1996.

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Produzido por Francisco das Chagas de Souza - Doutor em Educação Professor do Departamento de Biblioteconomia e Documentação Universidade Federal de Santa Catarina 88040-900 Campus Universitário - Trindade Florianópolis - Brasil - Telefone: 048 2319304 Fax: 048 2335351

Preliminar
Um curriculo para o Curso de Biblioteconomia

1 Introdução

1.1 Objetivo geral do Curso

1.2 Objetivos específicos do Curso

2 Projeto fundamento

2.1 Justificativa

2.2 Objetivos

3 Projeto profissionalização
3.1 Justificativa

3.2 Objetivos

4 Projeto Biblioteca Escola

4.1 Justificativa

4.2 Objetivos

5 A organização do Curriculo
6 A execução do Curriculo
Bibliografia Consultada

PRELIMINAR

Inicialmente, é necessário afirmar que esta é uma experiência nova e particular, com a qual desejo estar abrindo um espaço de debate com a[o]s colegas envolvidos em todo o País com a discussão em torno de algumas questões do ensino de Biblioteconomia e, em especial, com a questão do Currículo.

De outro lado, poderia ser uma oportunidade de se estar resgatando e fortalecendo formas de ampliação do diálogo acadêmico que, embora esteja crescendo em vários outros campos profissionais, não acontece com a mesma intensidade na Biblioteconomia.

Assim, o que se deseja com esta mensagem que está sendo remetida aos Cursos de Biblioteconomia existentes no País, é estar apostando que -- para além dos eventos técnico-científicos e das parcas publicações, tanto em formato livro, quanto em formato seriado, aí inserida a publicação periódica, -- ainda há gente nesses cursos. Gente no sentido de que pensa como indivíduo e cidadão integrado na sociedade, sendo, portanto, responsável pelo fazer das profissões e não se deixando ser escravo e submisso às profissões. Sendo capaz de perceber que há uma ética nas relações humanas e que, por mais boa vontade que se tenha, não dá para deixar simplesmente nas mãos das profissões toda a tomada de decisão sobre o que é bom para o utilizador. Ou seja, é preciso se discutir se a regência da relação leitor-bibliotecário pode se dar por satisfeita com a aplicação do Código de Ética que, se sabe, sustenta-se no que é pensado pela categoria profissional e que é, por isto, um Código Moral.

Espera-se que esta mensagem receba a atenção de todos, isto é, que possa ser um instrumento de ampliação efetiva do debate.

Francisco das Chagas de Souza, maio de 1996.


UM CURRÍCULO PARA O CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Professor Francisco das Chagas de Souza, Dr.

1 INTRODUÇÃO

Um dos grandes dilemas do ensino universitário é como manter-se tão atual que, ao concluir sua carreira acadêmica formal, para obter uma licenciatura ou um bacharelado, o estudante tenha tanto o maior volume possível de conhecimento básico pertinente à sua profissão quanto a maior habilidade possível em acessar e processar as informações sobre como se manter suficientemente atualizado em qualquer momento de sua futura carreira profissional.

Para a maioria dos docentes a solução do dilema se dá pela rotineira “atualização” do currículo, entendendo por isso, a reordenação das disciplinas, a alteração de conteúdos, etc. Isso, em princípio, não está certo nem errado, pois o que se tem a fazer é cuidar criteriosamente de separar:

  • a) conhecimentos fundamentais e profissionais de um campo disciplinar;
  • b) o ensino e a pesquisa das disciplinas que compõem esse campo; e
  • c) a prática profissional exercida pelos profissionais formados com os conhecimentos e informações desse campo. Isto é necessário, na medida em que estes três fatores se inscrevem na ação universitária e, portanto, inserem-se na atuação do docente e do estudante, ainda que ambos tenham na escola expectativas diferentes, mas tendo um ponto comum de encontro no futuro, ao se relacionarem como profissionais credenciados pela mesma Ordem ou Conselho profissional.

    Esta separação do que se designa como: a) conhecimento; b) ensino e pesquisa; e c) prática profissional é importante como consideração básica na discussão da “atualização” de um currículo, na medida em que um currículo não pode ser simplesmente atualizado, mas terá talvez que ser modificado conforme o objetivo social a que o egresso do Curso satisfará e, a partir disso, do conhecimento sobre o agente que representa este objetivo social em dada sociedade.

    Em qualquer cincunstância, porém, o agente que interpreta o objetivo social, enquanto profissional, é um cumpridor de papéis e, portanto, é antes uma pessoa humana, que em outras circunstâncias representará o papel de utilizador de serviços. Compreender que socialmente existem papéis e que num dado momento se é professor e mais adiante se é utilizador de bibliotecas, por exemplo, ou que hoje se é estudante e amanhã se é professor ou vice- versa, ter isso claro em todas as ações, vai evidenciar que o fundamento das profissões é a comunicação; que a comunicação é o instrumento a permitir as mudanças de papéis de uma mesma pessoa; que a visão do profissional [um fornecedor de serviço dotado do poder que a circunstância lhe dá] não deve embaralhar o comportamento da pessoa que está atrás do papel a sí atribuído pois mais adiante ela será um leigo, um não profssional em relação a outro domínio especializado.

    Igualmente como em outras profissões, o profissional bibliotecário não poderá mais ser formado sob a visão clássica da Comunicação em que ele se identifica como EMISSOR e o outro, o leitor, como RECEPTOR, mas na visão socioloógica do conhecimento de que as pessoas vivem papéis que existem, ou que se dão, em situações relacionais nas quais tanto ele quanto o utilizador de serviços cumprem ambos papéis ao realizarem uma transação informativa.

    Deste modo, também o curríulo não será um algo permanente por algum tempo, portanto já provisório, mas será um instrumento facilitador de comunicação, um recurso para a interação, devendo ser tão plástico quanto o possível para o manejo das relações de trabalho pedagógico e aplicação das técnicas e práticas de ensino. Com isso, a idéia de mudança de currículo desloca-se mais para o sentido de fomento e aperfeiçoamento da comunicação pedagógica em que o currículo formal é um roteiro para um currículo real a determinar-se na situação dos discursos e contra-discursos do ambiente pedagógico.

    Nesta perspectiva, a discussão iniciada em 1995 pelo Curso de Biblioteconomia da UFSC, com o envolvimento dos estudantes ao responderem um questionário em dez de maio e dos professores ao responderem ao mesmo questionário em trinta e um de maio, revelou-se como uma indicação relevante na direção da otimização comunicativa ao apontar a melhoria da execução do currículo como item a ser indiscutivelmente ressaltado. Coerente com isso, no detalhamento das idéias, ficou como marca mais expressiva a necessidade de um melhor aproveitamento do tempo para dar mais significado aos conteúdos propostos, expressando a carência de uma boa comunicação pedagógica, capaz de ser mais eficaz na transmissão voltada à fixação de conhecimentos e ao manuseio de fontes de informação relacionadas ao próprio curso.

    Adicionalmente à discussão interna do Curso, o 14º Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, realizado de 23 a 25 de outubro do mesmo ano, desenvolvido com base no tema central Capacitação Profissional para o próximo milênio, concluiu que o Perfil do profissional para o futuro precisa considerar o seguinte:

  • “O perfil do Bibliotecário que o mercado profissional está exigindo, obriga- nos a redirecionar os rumos da Biblioteconomia;
  • “Os conhecimentos humanísticos, científicos, técnico/tecnológicos e de idiomas necessitam de uma readequação à nova ordem social;
  • “... a mudança dos currículos dos Cursos de Biblioteconomia faz-se necessária frente à nova realidade da sociedade, do contrário a profissão estará condenada ao desaparecimento;
  • “O tecnicismo se reduzirá dando lugar mais amplo ao saber humanístico, aproximando o bibliotecário de seu público alvo. O profissional irá adquirir uma bagagem de conhecimentos diversos, que o habilitará a trabalhar com públicos e realidades distintas;
  • “Os conteúdos devem ser ministrados de forma mais motivadora, visando satisfazer também as necessidades mercadológicas, que estão em constante mudança de acordo com as transformações sociais que ocorrem mundialmente;
  • “... que sejam reformuladas e/ou incluídas, no currículo mínimo de Biblioteconomia, as seguintes disciplinas de conteúdo humanístico: Psicologia social, Psicologia da Educação, Psicologia das Relações Humanas, Lógica, Filosofia, Política, Evolução do Pensamento científico, História geral, Linguistica e História da Literatura;
  • “... que a disciplina Metodologia Científica [ministrado no Curso] seja voltada para a investigação científica, abordando aspectos teórico-práticos de métodos e análise de resultados;
  • “Em relação aos conhecimentos técnico/tecnológicos.... a ênfase deve ser dada para a área de Indexação, Automação ... e Administração;
  • “Procurando proporcionar ao aluno de Biblioteconomia o conhecimento da realidade profissional, através da aplicação de conceitos teórico-práticos em situações reais, foi sugerido aos cursos de Biblioteconomia a criação de BIBLIOTECAS-LABORATÓRIO, como recurso didático. Estas bibliotecas serão gerenciadas pelos próprios alunos e atenderão à comunidade local, tornando-se um componente essencial no processo de ensino-aprendizagem;
  • “... Sugere-se que o Inglês passe a ser uma disciplina com carga horária maior, ministrada durante todo o curso e voltada à realidade biblioteconômica;
  • “... necessidade do Espanhol como disciplina obrigatória para o Curso de Biblioteconomia...;
  • “Foi recomendado uma integração das Escolas de Biblioteconomia com o Mercado de Trabalho, o profissional interagindo com a Associação de Classe e esta junto às Escolas de Biblioteconomia, visando um processo de Educação continuada, através de ações conjuntas, proporcionando uma troca de experiências e, consequentemente, uma melhor atuação.”

    A partir disso, o que o 14º Painel deixou claro foi a manifestação da comunidade bibliotecária catarinense no sentido de a Escola se integrar aos profissionais e efetivar aproximações reais [não apenas formais] com o mercado, isto é, de a Escola por em prática um processo de comunicação interinstitucional e intracategoria profissional.

    Com isto em vista, os tópicos arrolados nas partes seguintes deste texto representam uma proposta preliminar para discussão, que considera indispensável:

  • a. Ver o Curso de Biblioteconomia pelos seus segmentos temáticos, respeitando o espírito teórico da Resolução 08/82 do CFE;
  • b. Ver o Curso de Biblioteconomia como podendo ter: 1. Uma distribuição lógica de seus conteúdos; 2. Uma distribuição cronológica de ministração desses conteúdos; 3. Uma distribuição temática de seu conteúdo; e d. uma carga horária deste conteúdo, com estes quatro itens podendo ser tratados como variáveis distintas porém operacionalmente integradas;
  • c. Ver: 1. na distribuição lógica o conhecimento a ser ministrado; 2. na distribuição cronológica a organização da comunicação pedagógica construída para transmitir, fixar e praticar os conhecimentos operacionais; 3. na distribuição temática a consistência de abordagem e uma ordem ideal de discurso pedagógico.

    Nestes termos, a proposta se divide em três definida, pelos temas, como projetos, por parecer um procedimento mais adequado ao gerenciamento por uma Coordenação e Colegiado de Curso que valorizem o ensino e a formação de futuros profissionais.

    Com a execução de proposta assim estruturada poder-se-á dar maior consistência aos atuais objetivos do Curso, melhorando os termos em que está redigido para fixar um entendimento mais determinado.

    1.1 OBJETIVO GERAL DO CURSO

    Formar profissionais habilitados a contribuir na formação e desenvolvimento de utilizadores de bibliotecas, bem como preparados para o atendimento dos utilizadores de quaisquer sistemas e/ou serviços de documentação e/ou informação que, por suas atividades, dependam de conhecimentos e/ou informação em quaisquer campos do saber e registradas por quaisquer processos em quaisquer tipos de suportes.

    1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO CURSO

  • a. Apresentar uma formulação teórico-metodológica que leve o estudante de biblioteconomia a assimilar os fundamentos básicos para o exercício de sua profissão futura, construída a partir de uma Epistemologia afirmadora do objetivo desta profissão na realidade social concreta;
  • b. Dispor de uma oganização curricular em que os conteúdos instrumentais e profissionalizantes sejam ministrados sobre uma adequada fundamentação de conhecimento e precedam um bem definido ambiente pedagógico que permita ao estudante interagir com a realidade concreta de seu contexto sócio-hitórico;
  • c. Manter um ambiente pedagógico que proporcione ao estudante prática e experimentação de interação com públicos reais, como meio para o fortalecimento de uma adequada formação profissional, orientada pela ética das relações sociais.

    2 PROJETO FUNDAMENTO

    2.1 JUSTIFICATIVA

    As discussões mais críticas sobre a questão do currículo tendem a captá-lo não como a organização neutra de disciplinas integradas numa ordem de aparência natural, mas como uma estrutura construída para responder a interesses determinados. No entanto, dirá também que em sua execução jamais será totalmente hegemônico e que, portanto, sofrerá resistências as quais, embora possam não levá-lo a ser alterado formalmente, produzirão modificações no processo de sua execução. Neste sentido, é que ele se adequa à realidade e os resultados alcançados em grupos diferentes de receptores apresentam variações, que se podem distinguir conforme categorias como espaço, tempo e capacidade de contra-discurso existente no grupo.

    Embora esta percepção possa sugerir uma certa imponderabilidade na execução de um dado currículo, -- por vezes desmotivando a construção de novas propostas curriculares, como tentativas de dar respostas às novas determinações de dada sociedade para os grupos profissionais a eles submetidos, -- ela é imediatamente negada na medida em que o contexto social muda permanentemente, e em geral essa mudança produz uma acirrada concorrência no mercado de trabalho com o surgimento de outras variantes profissionais que, juntando saberes de áreas disciplinares fronteiriças, pode se habilitar socialmente para o exercício de atividades novas e admitidas pela sociedade como melhor para o alcance de respostas já não fornecidas adequadamente pelas profissões pré-existentes. A propósito, mais recentemente a informatização tem oferecido à sociedade a possibilidade de não sentir tão intensamente quanto antes a necessidade de certas atividades profissionais, na medida em que parte importante destas, até então, identificadas a profissões estabelecidas, pode ser rotinizada num arcabouço de informação e disposta em meios acessáveis automaticamente pelo próprio utilizador.

    Nas últimas décadas alguns teóricos da sociedade lançaram-se na demonstração de que certas profissões como Administração, Contabilidade, Engenharia, Comunicação, Biblioteconomia, Economia, Estatística, Marketing, Publicidade, Pesquisa de Opinião, Computação, etc. podiam ser compreendidas como grandes conglomerados de informação, podendo ser explicadas como profissões da informação, tanto por seu processo quanto por seu produto. A par disso, pode-se ver, e exemplos estão sendo mostrados pela imprensa, que outras profissões como a profissão médica, pode ser transformada, na maior parte de suas subáreas especializadas em bancos de dados, ou softwares especialistas, através dos quais autodidatas em Medicina, ao utilizá-los eficazmente, podem diagnosticar e prognosticar, dispensando o pouco acessível profissional médico. Isso, como uma situação que pode ser abordada sob diversos ângulos, mostra que o fator essencial que distingue as profissões é o volume de conhecimento e informação para elas produzido e o que distingue os profissionais é a capacidade individual e o interesse pessoal em assimilar um montante mínimo indispensável para sua qualificação desse conhecimento e dessa informação e, além disso, a habilidade em torná-la utilizável e produtora dos resultados esperados pela sociedade.

    Por esta via de discussão é possível compreender que embora sustentada em conhecimento e informação cada profissão representa uma parcela dos saberes produzidos em torno de um objetivo particular, ou melhor, principal em relação a uma demanda, o qual determinará a natureza e a quantidade de conhecimento mínimo a ser ministrado aos aspirantes ao exercício daquela.

    Assim, profissões que foram definidas em dado momento social e histórico como de perfil tecnológico, biológico, etc. vão buscar seu fundamento, sua sustentação teórica, em certas ciências puras naturais ou ideais, enquanto outras mesmo envolvidas com o mundo físico, ao terem sido definidas como de perfil social buscarão seus fundamentos nas ciências humanas e nas ciências da sociedade o que as orienta -- enquanto profissões sociais -- para a busca dos conhecimentos culturais, históricos, linguísticos, comunicacionais, econômicos, políticos, sociais e lógicos. Desse modo, desde que mantido seu perfil nos posteriores momentos de mudança social -- como perfil de caráter social -- têm essas profissões a necessidade de aprofundar sua base de sustentação teórica e apropriar o conhecimento mais atual, mais profundo, existente nesse sentido.

    A despeito dos desvios provocados pela informatização na maioria das profissões e a despeito dos recursos que ela oferece na implementação de novas estratégias de ação profissional, ela será sempre e tão somente um instrumento mais novo tanto para as profissões de perfil tecnológico, quanto biológico e social, podendo otimizar processos ou serviços, facilitar combinações de informações, agilizar respostas, mas não podendo, necessariamente, mudar a base epistemológica de um campo de conhecimento.

    Aproximando essa discussão da profissão bibliotecária, percebe-se que não mudou sua razão de ser, que o objetivo que ela ainda tem a alcançar é a atenção às pessoas que utilizam os meios documentais para usufruir do conhecimento registrado de qualquer modo, por qualquer processo e em qualquer suporte, bem como aproximar essas pessoas da informação, de qualquer informação. É uma profissão que existe para leitores os quais interagem através da comunicação, os quais existem como sujeitos históricos, os quais se constroem socialmente, os quais existem culturalmente e que, portanto, produzem, decidem suas ações e cultivam organizadamente a vida. A profissão bibliotecária é uma profissão que existe para fomentar a relação entre as pessoas, as pessoas e suas idéias, falas e expressões e as pessoas e o conhecimento. É, por isso, uma profissão que se funda na comunicação e que, ao usar seus códigos de descrição bibliográfica e os seus sistemas de identificação e expressão de assuntos, deve usá-los apenas como meios especiais, como recursos para facilitar a comunicação do mesmo modo como o alfabeto, a escrita, a fonética, etc. são meios para a comunicação humana em geral. E da mesma forma que para dar habilidade a uma boa comunicação interpessoal não se concede ao aprendizado de uma língua mais que o caráter instrumental não se pode dar aos instrumentos biblioteconômicos mais que um caráter instrumental e prático reduzindo-os ao ponto de componente de segundo plano.

    Com este dimensionamento, o ensino de Biblioteconomia, no Curso de Biblioteconomia da UFSC, poderia ser iniciado e realizado nos três primeiros semestres com uma forte formação para a comunicação bibliotecária. Não seria a mesma formação do profissional de comunicação social de massa, mas sim um tipo de formação para um profissional em relação direta com o público, dominando uma espécie de técnica de comunicação institucional pública que faz interagir produtores de mensagens em aproximação construtiva, embora com papéis distintos. Essa fundamentação para a comunicação bibliotecária não deixaria de inserir a temática da Educação, por seus métodos e técnicas, na medida em que se pode conceber a comunicação enquanto produtora de significado como uma ação pedagógica.

    2.2 OBJETIVOS

    GERAL - Conceber uma formulação teórico-metodológica que leve o estudante de biblioteconomia a assimilar os fundamentos básicos para o exercício de sua profissão, construída a partir uma Epistemologia afirmadora do objetivo desta profissão na realidade social concreta.

    ESPECÍFICOS -

  • a. Instituir o Bloco de disciplinas de Fundamentação a ser ministrado nos três semestres letivos iniciais do Curso;
  • b. Dar caráter integrado a cada um destes semestres, estabelecendo uma diretriz temática para cada um de modo que a 1ª fase trate de CULTURA; a 2ª de SOCIEDADE e a 3ª de CONHECIMENTO;
  • c. Definir as disciplinas conforme a diretriz temática que respeita as matérias do Currículo Mínimo, conforme estabelecido em 1982 pelo CFE;
  • d. Constituir o Colegiado do Bloco de disciplinas de Fundamentação, no âmbito do Colegiado do Curso de Biblioteconomia, do Centro de Ciências da Educação, composto por todos os Professores das três primeiras fases;
  • e. Instituir reunião pedagógica mensal de cada fase do Bloco de disciplinas de Fundamentação, a fim de ser posto em prática o acompanhamento desta estratégia pedagógica;
  • f. Planejar o ensino do elenco de disciplinas de cada fase do Bloco com a efetiva participação de todos os professores nelas envolvidos;
  • g. Estabelecer o total de 360 horas/aula-atividades como mínimo para cada um dos três semestres iniciais do Curso. 

    3 PROJETO PROFISSIONALIZAÇÃO

    3.1 JUSTIFICATIVA

    A curta história da universidade brasileira representa claramente os dois principais caminhos que têm orientado nos últimos 400 anos a história da universidade ocidental. Por um lado, é um instrumento de investigação e conservação de um saber elitista, centrado no humanismo clássico e numa ciência dita desinteressada e, por outro, é instrumento para o progresso material em que o dito conhecimento desinteressado seria transformado em conhecimento aplicado transformando-se em bens e serviços a fim de produzir retorno econômico para um dado capital. No primeiro caso, os egressos dos cursos universitários, quando empregados, atuariam no âmbito das burocracias estatais ou religiosas ou, de outro jeito, poderiam dedicar-se ao exercício liberal das profissões para as quais se habilitaram e, em ambos casos, podendo dedicar parte expressiva de seu tempo ao prazer estético e ao fazer filosófico, coisas mais correntes em estruturas não industriais ou em situações em que, superindustrializadas como hoje, se enxerga o conhecimento humanista como de utilidade para o cultivo de mentes livremente criadoras e imaginadoras. No segundo caso, tais egressos dos cursos universitários, ainda que inicialmente atuando no âmbito do Estado, partiam de uma perspectiva produtivista, eficientista, pragmatista, claramente atendendo a uma exarcebada divisão de tarefas produtora de extrema segmentação da realidade.

    No Brasil, o primeiro modelo -- elitista -- se dá explicitamente como justificativa ao projeto de criação da USP a qual no ideário de seus criadores seria uma universidade voltada à produção de pensadores e dirigentes da sociedade. O segundo modelo -- pragmatista -- embora incorporado mais tarde à estrutura de todas as universidades do país, inclusive na da USP, se dirige mais claramente à preparação de profissionais de profissões voltadas à execução técnica, justificadas pela necessidade do Estado Moderno, então em implantação no país, e pela necessidade de implantação, expansão e consolidação de uma indústria nova e, especialmente, pela exigência das camadas sociais médias que enxergavam no credencialismo educacional [universitário] um meio, ou o caminho para a acumulação de um capital cultural, em condições de produzir a elevação social de seus membros e garantir progresso material individual.

    Embora se possa discutir o valor do credencialismo educacional [universitário] profissionalista como um instrumento de elevação social, o fato é que o acesso ao ensino superior estava vinculado à exigência de expansão econômica que seria inviabilizada apenas com o investimento em ensino superior de Filosofia, Ciências Puras e Letras e pelo patrocínio das ditas pesquisas desinteressadas. Desse modo, na mesma época em que surgiu a USP no cenário educacional brasileiro, o modelo pragmatista, ainda que limitado ao âmbito das Ciências Sociais, também se estabelece no Estado de São Paulo pela implantação da Escola Livre de Sociologia e Política na qual o estudo da sociedade não era feito por meio de uma reflexão pelo raciocínio distante da realidade imediata, mas sim decorrente da investigação em campo, numa aproximação do conhecedor, do pesquisador, com o universo real de conhecimento procurando identificar a correspondência entre uma hipótese sobre o funcionamento da sociedade e a realidade expressa concretamente pelas pessoas investigadas.

    Esses dois modelos, um mais claramente dirigido para educar a elite ao raciocínio, a abstração, à pesquisa dos estados puros, essenciais, etéreos e o outro modelo para educar trabalhadores sociais orientados ao contato com as populações, veio a reproduzir na universidade brasileira um sentido clássico de Torre de Marfim e um outro sentido de instituição compromissada com a realidade imediata. Pelo segundo caminho, o de estar voltada à realidade concreta, não se construiu apenas uma universidade pragmática, não se possibilitou apenas o maior acesso às camadas médias da populaçào, mas se patenteou o credencialismo profissionalista como um papel fundamental a ser cumprido pela universidade no país, fruto de uma ordem histórico-social constituída a partir do final do século passado.

    Para consagrar o profissionalismo e credenciar os profissionais, a universidade e as diferentes associações de profissionais universitários vão buscar do Estado, além do reconhecimento formal das profissões, a padronização do currículos, explicitando os mínimos de conteúdos, como mecanismo assegurador de uma uniformização afirmadora de um domínio mínimo necessário para que os credenciados academicamente possam ser credenciados administrativamente pelo Estado, a partir de seu registro junto aos Conselhos e Ordens profissionais. Desse modo, os currículos mínimos têm como objetivo importante indicar as matérias, conhecimentos ou habilidades profissionais indispensáveis a serem ministradas nos Cursos Universitários para que seus egressos possam -- em tese -- dar respostas satisfatórias à sociedade naquilo que é tido como prática consagrada pelo exercício de tal profissão.

    Como em outras profissões, a profissão de bibliotecário requer a aplicação de certos saberes práticos que a Escola deverá ministrar -- em abordagem teórica e prática. A ministração acadêmica desses saberes práticos deverá se dar sobre um conjunto de saberes fundamentais, básicos, também previstos pelo currículo mínimo e ministrados com o objetivo de fornecer um alicerce para a compreensão do objetivo social e origem epistemológica da profissão. Desse modo, num processo cumulativo, esses saberes fundamentais serão os explicadores dos conhecimentos prático-profissionais, exigindo dos professores desses últimos a capacidade, domínio e habilidade de, ao transmitirem os seus conhecimentos prático-profissionais, resgatarem e unirem os saberes fundamentais e os conhecimentos prático-profissionais.

    A partir dessa perspectiva, poder-se-á propor ao Curso de Biblioteconomia da UFSC realizar do quarto ao sétimo semestres a ministração do Bloco de disciplinas Instrumento-Profissionais, de tal maneira que ocorra uma acumulação de conhecimentos e ampla integração de conteúdos, cuja consistência seria fornecida pelo Bloco de disciplinas de Fundamentação. Um Ensino de graduação em Biblioteconomia realizado sob esta forma provavelmente evitaria as lacunas atualmente produzidas no Curso pelo modo como se estruturou e se desenvolve o Currículo formal.

    3.2 OBJETIVOS

    GERAL - Propor uma organização curricular em que os conteúdos instrumentais e profissionalizantes sejam ministrados sobre uma adequada fundamentação de conhecimento e precedam um bem definido ambiente pedagógico que permita ao estudante interagir com a realidade concreta de seu contexto sócio-histórico.

    ESPECÍFICOS -

  • a. Instituir o Bloco de disciplinas instrumento-profissionais a ser realizado em quatro semestres letivos, cursados da 4ª a 7ª fases do Curso;
  • b. Dar caráter temático a cada fase de modo que a 4ª fase seja dedicada ao tema INFORMAÇÃO APLICADA; a 5ª ao tema PRODUÇÃO E CONTROLE BIBLIOGRÁFICO DOS REGISTROS DO CONHECIMENTO; a 6ª ao tema DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO E FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES e a 7ª ao tema ADMINISTRAÇÃO DE BIBLIOTECAS;
  • c. Constituir o Colegiado do Bloco de disciplinas instrumento- profissionais, no âmbito do Departamento de Biblioteconomia e Documentação do Centro de Ciências da Educação, composto pelos professores atuantes nas respectivas fases;
  • d. Intituir reunião pedagogica mensal de cada fase do Bloco a fim de promover o adequado acompanhamento desta estratégia pedagógica;
  • e. Estabelecer o mínimo de 360 horas/aula-atividades para cada um dos semestres onde se insere este Bloco de conteúdo;
  • f. Planejar o ensino destas fases como unidade integrada, com o envolvimento dos professores nelas atuantes.

    4 PROJETO BIBLIOTECA ESCOLA

    4.1 JUSTIFICATIVA

    A idéia de projetos institucionais funcionarem como Escola [jornal escola, hospital-escola, farmácia-escola, etc.] tem sido utilizada no ensino de alguns cursos universitários com o objetivo de envolver os estudantes em situações reais em que, sob supervisão docente, um público concreto pode ser beneficiado e um campo de pesquisa experimental pode ser desenvolvido.

    Embora essa idéia, assim executada, seja uma herança das antigas corporações de Artes e Ofícios é, por outro lado, o reconhecimento de que o objetivo mais importante da Universidade tem sido o de proporcionar um continuado acréscimo de força de trabalho aos campos profissionais, no mundo inteiro. E tanto melhor será o ingresso dessa nova força de trabalho nos seus respectivos campos profissionais quanto mais intensa for sua inserção no mundo das práticas de trabalho pertinente aos domínios daqueles campos.

    Mesmo sem desprezar uma séria e competente fundamentação teórica, cada vez mais tem sido exigida da Universidade uma intensificação na abertura aos seus estudantes de espaços para práticas e experimentações reais. Práticas e experimentações que envolvam o estudantado no fazer, práticas e experimentações que permitam ao estudantado tomar decisões, práticas e experimentações que coloquem o estudantado diante de situações em que se configure a oportunidade de, usando a teoria aprendida, fazer escolhas.

    Esse procedimento pedagógico que tem já uma tradição no ensino médico, no ensino de comunicação social, no ensino de farmácia, dentre outros, não está consolidado ou nem foi iniciado em outras disciplinas. Nessa última situação se encontra a Biblioteconomia ensinada no Brasil que, mais grave, subsiste ainda atrelada à noção de biblioteca enquanto acervo organizado. Porém, ainda que esta seja uma pré-condição para o funcionamento da biblioteca, está cada vez mais evidente que a Biblioteca-Escola, como a Farmácia-Escola, o Jornal-Escola, etc., deve centrar sua atenção mais para o público, no atendimento ao público, deixando aos processos somente a atenção necessária à implementação das atividades dirigidas ao utilizador. A isso, os bibliotecários ingleses e americanos, desde o final do século passado, deram a maior ênfase de sua atuação, e denominaram de Serviço de Referência, isto é, ressaltando como mais importante o contato direto com o público, a aproximação mais intensa com o leitor. É com base nisso que foi construída a moderna biblioteconomia anglo-saxã.

    Apesar de ser fato sabido, deve-se ressaltar que a estratégia do ensino biblioteconômico brasileiro orientou-se sempre para uma didática do processo e não para uma didática da relação bibliotecário-leitor. Foi [e continua sendo] no processo, até mesmo porque se deu como necessidade brasileira implantar o modo organizacional de base norte-americana para os acervos bibliográficos depositados nas bibliotecas, que se concentrou o ensino biblioteconômico. Disso resultou que muitas gerações de bibliotecários, assim modelados, sairam da Escola biblioteconômica para as salinhas de catalogação e de classificação de suas instituições, deixando seu leitor sem assistência e orientação presencial.

    Hoje, com uma razoável padronização da indústria editorial brasileira que apresenta a maioria de seus produtos já normalizados, incluindo a catalogação na fonte, boa parte dos bibliotecários pode sair da condição de processadores, envolvidos com catalogação e classificação, para uma atuação relacional direta com o leitor, uma atuação dirigida ao serviço de referência, uma ação presencial. Isso se torna ainda mais claro, à medida em que as redes telemáticas, a exemplo da Internet, colocam produtos informacionais em caráter final, já processados, ao alcance do utilizador que necessita, portanto, de orientação ao acesso e uso o que requer, necessariamente, outro enfoque do ensino biblioteconômico. É aqui, neste momento, que surge a necessidade de se constituir não a antiga biblioteca laboratório, mas uma Biblioteca Escola como espaço de experimentação e prática da relação bibliotecário-leitor e, por isso mesmo, como instrumento de avaliação permanente do ensino de biblioteconomia.

    A exemplo do hospital-escola, da farmácia-escola, do escritório jurídico-escola, é possível à UFSC constituir a sua biblioteca-escola? Ou serão várias bibliotecas-escolas? Uma biblioteca universitária-escola? Uma biblioteca escolar-escola? Uma biblioteca pública-escola? Uma biblioteca técnica-escola?

    Em qualquer das situações acima, e todas são indispensáveis, a prática seria centrada na relação estudante de biblioteconomia e utilizador da biblioteca. O estudante teria como experiência fundamental que encontrar ou criar leitores e produzir soluções para problemas trazidos pelos leitores e não orientar-se para resolver problemas estruturais da biblioteca. O estudante não iria para a biblioteca para realizar exercícios de processos técnicos. Sua ação principal seria diagnosticar quais as leituras a fornecer ao seu público, providenciando o material bibliográfico, ou um acesso satisfatório a uma fonte a fim de que a solução seja alcançada e, quando for o caso, orientá-lo no manuseio do material ou caminho indicado. Desse modo, o enfoque do Curso de Biblioteconomia, a maior parte de sua carga de ensino, irá para conteúdos relacionados ao conhecimento da Sociedade, dos Indivíduos e dos métodos e técnicas de interação com pessoas orientadas para a descoberta.

    4.2 OBJETIVOS

    GERAL - Criar ambiente pedagógico que proporcione ao estudante de Biblioteconomia da UFSC prática e experimentação de interação com públicos reais, como meio para o fortalecimento de adequada formação profissional, orientada pela ética das relações sociais.

    ESPECÍFICOS -

  • a. Instituir o Programa Biblioteca Escola na UFSC;
  • b. Criar a Coordenação Especial de Biblioteca Escola na estrutura administrativa da Biblioteca Universitária, a ser ocupada privativamente por docente do Departamento de Biblioteconomia e Documentação, do Centro de Ciências da Educação, membro do Colegiado do Programa Biblioteca Escola, com voz e voto nas deliberações da BU;
  • c. Criar a disciplina Biblioteca Escola no Curso de Biblioteconomia, do Centro de Ciências da Educação, sob a responsabilidade do Colegiado do Programa Biblioteca Escola;
  • d. Assegurar aos docentes do Programa Biblioteca Escola da UFSC a alocação semestral de todos os estudantes da disciplina Biblioteca Escola, do Curso de Biblioteconomia da UFSC, no Sistema de Bibliotecas da UFSC, incluindo todas as Setoriais, sem exceção;
  • e. Assinar convênios com os Órgãos mantenedores de Bibliotecas Públicas no Estado e Municípios catarinenses para o desenvolvimento do Programa Biblioteca Escola em seus espaços, através da disciplina Biblioteca Escola, ou de outras atividades que venha a criar;
  • f. Constituir o Colegiado do Programa Biblioteca Escola no Departamento de Biblioteconomia e Documentação, do Centro de Ciências da Educação, composto por professores especializados por tipo de biblioteca: Universitária, Escolar e Pública, aos quais competirá a ministração da disciplina Biblioteca Escola;
  • g. Elaborar e aprovar no âmbito do Colegiado do Curso de Biblioteconomia, submetendo ao CED e ao CEPE, o Regimento do Programa Biblioteca Escola da UFSC.

    5 A ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO

    A estratégia de exposição até aqui adotada exige que concretamente se pense o currículo como um elenco de possibilidades de ação a cobrar da Coordenação de Curso uma visão pedagógica e uma postura que não seja meramente administrativa. Isso leva a que o currículo seja estruturado mais orientado pelo seu componente intelectual-lógico do que por uma forma tradicional-voluntarista.

    Desse modo, a distribuição lógica dos segmentos do currículo se completará com uma distribuição temática que defina uma distribuição cronológica da transmissão dos conteúdos constituída por blocos temáticos semestrais. Tal estrutura pode ser expressa como apresentada no quadro abaixo da seguinte maneira:

    DISTRIBUIÇÃO CURRICULAR

    Lógica
    Temática

    Bloco Temático

    Cronológica

    Semestre

    Conteúdos
    Fundamentação
    Cultura
    I
    Comunicação 72 h

    Cultura 72 h

    Sociologia Geral 72

    Economia Geral 72 h

    Inglês I 72 h

    Fundamentação
    Sociedade
    II
    Língua e Lit. Por tuguesa 72 h

    Sociedade bras. 72 Economia bras. 72 h

    Estado bras. 72 h

    Inglês II 72 h

    Fundamentação
    Conhecimento
    III
    Comunicação bibliotecária 72 h

    Lógica 72 h

    Pesquisa e produção do conhecimento 72

    Antropologia filosófica 72 h

    Inglês III 72 h

    Profissionalização
    Informação Aplicada
    IV
    Métodos e técnicas educacionais 90 h

    Sociologia do conhecimento 90 h

    Psicologia soc. 90h

    Metodologia da pesquisa bibliot. 90h

    Profissionalização
    Produção e Controle
    V
    Suportes e formatos textuais 90 h

    Produtores de conhec. e inf. 90 h

    Instituições armazenadoras de doc. e inf. 90 h

    Instituições controladoras da circul. da inf. 90 h

    Profissionalização
    Formação de Coleções e Disseminação
    VI
    Métodos e técnicas de dissem. 126 h

    Uso da informatização nas instituições armazenadoras da doc. 126 h

    Organização de Instituições armazenadoras e dissem. de inf. 144 h

    Profissionalização
    Administração de Bibliotecas
    VII
    Métodos e técnicas 120 h

    Projetos 240 h

    Profissionalização
    Biblioteca Escola
    VIII
    Desenvolvimento de Serviços 300 h

    Monografia final 60

    Uma inovação apresentada por esta estrutura constitui-se na abordagem cumulativa das matérias evitando-se uma segmentação aleatória de disciplinas. Com isso se abre a possibilidade da realização de estudo-ensino por projetos, especialmente das 4ªs às 7ªs fases, momento em que se dará a transmissão/ assimilação de conteúdos instrumento-profissionais, culminando com a fase de Biblioteca Escola, a 8ª fase, cuja execução decorrerá de um projeto apresentado pelo aluno, a ser aprovado e assistido por um professor, e estará concluído com a apresentação escrita e oral-pública de uma monografia. Com essa característica, o currículo traz outra inovação que é a de levar o aluno a enfrentar um mundo real de estudo e prática durante toda a sua formação. 

    6 A EXECUÇÃO DO CURRÍCULO

    A execução de uma proposta curricular construída como instrumento orientador da comunicação pedagógica requer a realização de uma série de esforços de reciclagem didático-pedagógica dos docentes, bem como a sua profissionalização. Essa necessidade de profissionalização passa a ocorrer na medida em que o docente tende a ainda se comportar como um técnico, com as posturas e os vícios da atuação técnica, embora seja já um profissional da educação, via de regra trabalhando em dedicação exclusiva e, portanto, com a responsabilidade de pesquisa e comunicar pedagogicamente resultados de pesquisas, ao mesmo tempo podendo transformar sua ação educacional em atividades experimentais [extensão] para gerar novas questões para futuras pesquisas. Desse modo, o ensino pensado no conjunto de uma proposta assim configurada pressupõe que o Curso apresente alguns requisitos a fim de tornar-se funcional e pedagogicamente produtivo. Alguns desses requisitos são:

    1. Ter um colegiado pedagógico que funcione, composto pelo Coordenador formal do Curso e pelos Coordenadores ou Articulares das fases;

    2. Ter um professor com a missão de ser um articulador ou coordenador de fase, isto em cada fase;

    3. Desenvolver cada fase como um efetivo Bloco Temático [vide quadro anterior], inviabilizando, pela necessidade de melhor qualificar o ensino, a mobilidade dos alunos em diversas fases simultaneamente;

    4. Desenvolver em cada fase, de cada semestre letivo, um ensino centrado em temas identificados pelo Corpo Docente, relacionados com o tema geral do Bloco Temático da fase e articulado com os temas dos demais Blocos em realização nas outras fases;

    5. Exigir do aluno, ao final da 7ª fase, a apresentação individual de um projeto de serviço a ser executado na 8ª fase, sob a supervisão docente;

    6. Exigir do aluno, ao final da 8ª fase, a apresentação e defesa oral- pública de monografia individual resultante do desenvolvimento do projeto proposto no final da fase anterior;

    7. Avaliar a monografia final da 8ª fase com base em: a. coerência com as ações propostas no projeto desenvolvido; b. competência na revisão da literatura existente sobre o tema do projeto; c. qualidade de elaboraçao do texto; d. habilidade na normalização documental do trabalho.

    8. Ter como pofessores supervisores da execução dos projetos aqueles com a titulação mínima de Mestre;

    9. Realizar sessões públicas de apresentação de projeto individual do aluno e de apresentação de Monografia final de Curso pelos seus autores.

    A viabilização do cumprimento desse conjunto de requisitos como condição para a execução do Curso, uma vez efetivada, permite a realização prática de uma ampla ação comunicativa: a. dos professores entre si; b. dos alunos e professores; c. dos alunos entre si; e d. dos alunos, professores e público a ser atendido com os projetos executados. Além disso, envolve a comunicação interpessoal oral, a comunicação formal e a produção textual. A soma de tudo isso, proporcionará a formaçào de um substancial banco de textos, tornando possível a edição de um periódico e a realização de outras atividades como Simpósios, Jornadas, etc., numa ação integrada e integradora. 

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    MOTA, C. G. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974); pontos de partida para uma revisão histórica. 6. ed. São Paulo: Ática, 1990.

    SEVCENKO, N. Orfeu extático na metrópole; São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

    SOUZA, F. C. O ensino da biblioteconomia nova no Brasil; o marco da construção de um projeto de ensino superior. Ed. Preliminar. Florianópolis: 1995.

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    Disponibilizado na Web em 09/09/96 - Última atualização realizada em 19/09/97 

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