Mulheres nas Ciências como temática para uma Feira de Ciência: investigando perspectivas de estudantes do Ensino Médio relacionadas a algumas pós-verdades
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1404Resumo
Na maioria das vezes, a estratégia de ensino baseada em Feiras de Ciências é vista como um evento que se resume à apresentação de trabalhos relacionados às disciplinas da área de Ciências feitos por estudantes, muitas vezes em espaços fora das salas de aula. Porém, perspectivas mais contemporâneas sugerem que tal estratégia seja compreendida como o desenvolvimento de processos integrados ao currículo escolar regular, de modo a promover o acesso a informações e à construção de conhecimentos em diferentes espaços, e resultando em situações de divulgação científica para a escola e a comunidade externa. Sob essa perspectiva, e considerando o contexto atual de ampla divulgação de pós-verdades, buscamos compreender o papel de uma Feira de Ciências com a temática Mulheres nas Ciências, desenvolvida em uma escola da Rede Estadual situada em uma grande cidade do Sudeste do Brasil, na relativização de “verdades” relacionadas a tal temática. Além disso, buscamos investigar as contribuições da participação na mesma para alguns estudantes participantes, entrevistados no dia da divulgação dos resultados para a comunidade externa, em termos de formação de opiniões públicas sobre ciências. Os resultados indicam que Feiras de Ciências podem contribuir para o aprendizado e a tomada de consciência de estudantes sobre pós-verdades frequentes na sociedade atual.
Referências
AGUIAR JR, O. O Papel do Construtivismo na Pesquisa em Ensino de Ciências. Investigações em Ensino de Ciências, v. 3 n. 2, p. 107-120, 1998. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/620. Acesso em: 16 jan. 2020.
BARBOSA, M. C.; LIMA, B. S. Mulheres na Física do Brasil: Por que tão poucas? E por que tão devagar? In: YANNOULAS, S. C. (Org.). Trabalhadoras: análise da feminização das profissões e ocupações. Brasília: Abaré, 2013. p. 69-86.
BARCELOS, N. N. S.; JACOBUCCI, G. B.; JACOBUCCI, D. F. C. Quando o Cotidiano Pede Espaço na Escola, o Projeto da Feira de Ciências “Vida em Sociedade” se Concretiza. Ciência & Educação, v. 16, n. 1, p. 215-233, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132010000100013&lng =pt&tlng=pt. Acesso em: 08 abr. 2020.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2006. 229 p.
BELEI, R. A.; GIMENIZ-PASCHOAL, S. R.; NASCIMENTO, E. N.; MATSUMOTO, P. H. V. R. O Uso de Entrevista, Observação e Videogravação em Pesquisa Qualitativa. Cadernos de Educação, v. 30, p. 187-199, 2008.
BERKOWITZ, M.; SIMMONS, P. Integrating Science Education and Character Education: The Role of Peer Discussion. In: ZEIDLER, D. (Org.). The Role of Moral Reasoning on Socioscientific Issues and Discourse in Science Education. Dordrecht: Kluwer, 2003. cap. 6, p. 117-38.
BERTOLDO, R. R.; CUNHA, M. B. Feiras de ciências na escola. Revista Atos de Pesquisa em Educação, v. 11, n. 1, p. 293-318, 2016. Disponível em: https://gorila.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/4865/3285. Acesso em: 05 jan. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica Fenaceb. Brasília: MEC, 2006, 88 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EnsMed/fenaceb.pdf. Acesso em: 06 jan. 2020.
CECIRS. Centro de Treinamento para Professores de Ciências do Rio Grande do Sul. Boletim, v. 5, p. 1-20, 1970.
CHEN, M. H. M. How Biographies of Women in Science, Technology, and Medicine Influence Fifth Graders’ Attitudes Toward Gender Roles. SAGE Open, v. 9, n. 4, p. 1-9, 2019. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/2158244019893704. Acesso em: 01 maio 2020.
COHEN, L.; MANION, L.; MORRISON, K. Research Methods in Education. 7th ed. London: Routledge, 2011. 758 p.
CONCEIÇÃO, A. C. L.; ARAS, L. M. Por uma ciência e epistemologia(s) feminista(s): avanços, dilemas e desafios. Muitas Vozes, v. 2, n. 1, p. 115-128, 2013. Disponível em: https://revistas.apps.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/view/5607/pdf_98. Acesso em: 26 mai. 2020.
CONNER, L. D. C.; PERIN, S. M.; PETTIT, E. Tacit knowledge and girls’ notions about a field science community of practice. International Journal of Science Education, v. 8, n. 2, p. 164-177, 2018. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/21548455.2017.1421798. Acesso em: 07 mai. 2020.
CREPALDE, R. S.; AGUIAR JR, O. G. A formação de conceitos como ascensão do abstrato ao concreto: da energia pensada à energia vivida. Investigações em Ensino de Ciências, v. 18, n. 2, p. 299-325, 2013. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/132/92. Acesso em: 07 abr. 2020.
EL-HANI, C. N.; MACHADO, V. COVID-19: The need of an integrated and critical view. Ethnobiology and Conservation, v. 9, p. 1-20, 2020. Disponível em: https://www.ethnobioconservation.com/index.php/ebc/article/view/408. Acesso em: 29 mai. 2020.
FORD, D. R. Politics and pedagogy in the “post-truth” era: Insurgent philosophy and praxis. London: Bloomsbury, 2019. 157 p.
FUERTES-PRIETO, M. A. et al. Pre-service Teachers’ False Beliefs in Superstitions and Pseudosciences in Relation to Science and Technology. Science & Education, p. 1-20, 2020. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11191-020-00140-8. Acesso em: 02 jul. 2020.
GAYLES, J. G.; AMPAW, F. To stay or leave: Factors that impact undergraduate women’s persistence in science majors. NASPA Journal About Women in Higher Education, v. 9, n. 2, p. 133-151, 2016. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/19407882.2016.1213642. Acesso em: 10 mai. 2020.
GODEC, S. Sciencey girls: Discourses supporting working-class girls to identify with science. Education Sciences, v. 8, n. 1, p. 1-19, 2018. Disponível em: https://www.mdpi.com/2227-7102/8/1/19. Acesso em: 03 mai. 2020.
HODSON, D. In search of a meaningful relationship: an exploration of some issues relating to integration in science and science education. International Journal of Science Education, v. 14, n. 5, p. 541-562, 1992. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0950069920140506. Acesso em: 25 mai. 2020.
IGNOTOFSKY, R. As cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo. São Paulo: Blucher, 2017. 128 p.
JACOBUCCI, D. F. C. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da cultura científica. Em Extensão, v. 7, n. 1, p. 55-66, 2008. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/20390/10860. Acesso em: 22 mai. 2020.
JUSTI, R.; ALMEIDA, B; SANTOS, M. Scientific Literacy: Going beyond decision-making. In: CONFERENCE OF THE EUROPEAN SCIENCE EDUCATION RESEARCH ASSOCIATION, 19, 2019, Bologna.
KOLSTØ, S. D. Scientific literacy for citizenship: Tools for dealing with the science dimension of controversial socioscientific issues. Science Education, v. 85, n. 3, p. 291-310, 2001. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/sce.1011. Acesso em: 28 abr. 2020.
KOLSTØ, S. D. Science education for democratic citizenship through the use of the history of science. Science & Education, v. 17, n. 8-9, p. 977-997, 2008. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11191-007-9084-8. Acesso em: 20 abr. 2020.
LACKOVIĆ, N. Thinking with digital images in the post-truth era: A method in critical media literacy. Postdigital Science and Education, v. 2, n. 2, p. 442-462, 2020. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s42438-019-00099-y. Acesso em 26 jul. 2020.
LIMA, N. W. et al. Educação em Ciências nos Tempos de Pós-Verdade: Reflexões Metafísicas a partir dos Estudos das Ciências de Bruno Latour. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 19, p. 155-189, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/4933/9956. Acesso em: 26 mai. 2020.
LIMA, N. W; NASCIMENTO, M. M. Opinion Page: A new challenge in the environmental scenario: Will Science Education defeat Post-Truth? In: MATTHEUS, M. (Org.). HPS&ST Newsletter, July, 2020. p. 12-15. Disponível em: https://www.hpsst.com/uploads/6/2/9/3/62931075/2020july.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020.
LIMA, N. W.; VAZATA, P. A. V.; MORAES, A. G.; OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J. H. Educação em Ciências nos Tempos de Pós-Verdade: Reflexões Metafísicas a partir dos Estudos das Ciências de Bruno Latour. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 19, p. 155-189, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/4933/9956. Acesso em: 26 maio 2020.
MCINTYRE, L. Post-Truth. Cambridge, MA: MIT Press, 2018. 240 p.
MANCUSO, R. A Evolução do Programa de Feiras de Ciências do Rio Grande do Sul: Avaliação Tradicional x Avaliação Participativa. 1993. 334 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
MANCUSO, R. Feiras de ciências: produção estudantil, avaliação, consequências. Contexto Educativo: Revista Digital de Educación y Nuevas Tecnologias, n. 6, p. 1-5, 2000. Disponível em: http://www.redepoc.com/jovensinovadores/FeirasdeCienciasproducaoestudantil.htm. Acesso em: 10 jul. 2019.
MANCUSO, R.; LEITE FILHO, I. Feiras de Ciências no Brasil: uma trajetória de quatro décadas. In: Ministério da Educação. Programa Nacional de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica Fenaceb. Brasília: MEC/SEB, 2006, 84 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EnsMed/fenaceb.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019.
MORAES, R. Debatendo o ensino de ciências e as feiras de ciências. Boletim Técnico do Procirs, v. 2, n. 5, p. 18-20, 1986.
NASCIMENTO, T. G.; REZENDE, M. J. F. A produção sobre divulgação científica na área de educação em ciências: referenciais teóricos e principais temáticas. Investigações em Ensino de Ciências, v. 15, n. 1, p. 97-120, 2016. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/317/204. Acesso em: 21 mai. 2020.
ORMASTRONI, M. J. S. Manual de Feira de Ciências. Brasília: CNPq, AED, 1990. 30 p.
OXFORD DICTIONARY. Oxford Dictionary 2016 word of the year, 2016. Disponível em: https://en.oxforddictionaries.com/word-of-the-year/word-ofthe-year-2016. Acesso em: 22 abr. 2020.
PINHEIRO, B. C. S. Educação em Ciências na Escola Democrática e as Relações Étnico-Raciais. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 19, p. 329-344, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/13139/11886. Acesso em: 25 mai. 2020.
ROSA, K.; MENSAH, F. M. Educational pathways of Black women physicists: Stories of experiencing and overcoming obstacles in life. Physical Review Physics Education Research, v. 12, n. 2, p. 1-15, 2016. Disponível em: https://journals.aps.org/prper/abstract/10.1103/PhysRevPhysEducRes.12.020113. Acesso em: 12 mai. 2020.
ROSA, K; SILVA, M. R. G. Feminismos e Ensino de Ciências: análise de imagens de livros didáticos de Física. Revista Gênero, v. 16, n. 1, p. 83-104, 2015. Disponível em: https://periodicos.uff.br/revistagenero/article/view/31226/18315. Acesso em: 22 mai. 2020.
ROSA, P. R. S. Algumas Questões Relativas a Feiras de Ciências: Para que Servem e Como Devem Ser Organizadas. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 12, n. 3, p. 223-228, 1995. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/viewFile/7086/6557. Acesso em: 20 dez. 2019.
SANTOS, A. B. Feiras de Ciência: Um incentivo para desenvolvimento da cultura científica. Revista Ciência em Extensão, v. 8, n. 2, p. 155-166, 2012. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/717/677. Acesso em: 02 dez. 2019.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, 1995. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/71721/40667. Acesso em: 07 abr. 2020.
SILVA, H. C. O que é divulgação científica? Ciência & Ensino, v. 1, n. 1, p. 53-59, 2006.
SILVA, F. F.; RIBEIRO, P. R. C. A participação das mulheres na ciência: problematizações sobre as diferenças de gênero. Revista Labrys Estudos Feministas, v. 10, p. 1-25, 2011. Disponível em: https://www.labrys.net.br/labrys20/brasil/fabiene.htm. Acesso em: 15 fev. 2020.
SKIPPER, Y.; CARVALHO, E. “I Have Seen the Opportunities That Science Brings”: Encouraging Girls to Persist in Science. The Educational Forum, v. 83, n. 2, p. 199-214, 2019. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00131725.2019.1576820. Acesso em: 15 mai. 2020.
TORNERO, J. M. P. et al. How to confront fake news through news literacy? State of the art. Doxa Comunicación, v. 26, p. 211-235, 2018. Disponível em: https://recyt.fecyt.es/index.php/doxacom/article/view/66582. Acesso em: 18 jul. 2020.
TURNBULL, S.; HOWE-WALSH, L.; SHUTE, J. Women in science and technology: a global development leadership pilot scheme. NASPA Journal About Women in Higher Education, v. 7, n. 2, p. 252-254, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1515/njawhe-2014-0018. Acesso em: 14 mai. 2020.
VAN CLEAVE, J. Scientifically based research in a post-truth era. Education Policy Analysis Archives, v. 26, n. 150, p. 1-24, 2018. Disponível em: https://epaa.asu.edu/ojs/article/view/3392/2168. Acesso em: 20 jul. 2020.
WAGHID, Y. Action as an educational virtue: Toward a different understanding of democratic citizenship education. Educational theory, v. 55, n. 3, p. 323-342, 2005. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1741-5446.2005.00006.x. Acesso em: 06 mai. 2020.
WHITE, K. Are we serious about keeping women in science?. Australian Universities' Review, v. 57, n. 2, p. 84-86, 2015. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1073638.pdf. Acesso em: 10 mai. 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE Certifico que participei da concepção do trabalho, em parte ou na íntegra, que não omiti quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e companhias que possam ter interesse na publicação desse artigo. Certifico que o texto é original e que o trabalho, em parte ou na íntegra, ou qualquer outro trabalho com conteúdo substancialmente similar, de minha autoria, não foi enviado a outra revista e não o será enquanto sua publicação estiver sendo considerada pelo Caderno Brasileiro de Ensino de Física, quer seja no formato impresso ou no eletrônico.
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, SC, Brasil - - - eISSN 2175-7941 - - - está licenciada sob Licença Creative Commons > > > > >