“Os sentimentos eles nunca vão indenizar”: tecendo memórias de mulheres ribeirinhas atingidas por barragens

Autores

  • Ana Daisy Araújo Zagallo Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO http://orcid.org/0000-0002-8422-9659
  • Marina Hainzenreder Ertzogue Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2018v15n3p91

Resumo

O presente artigo tem por objetivo abordar a vulnerabilidade emocional das mulheres ribeirinhas atingidas pela Usina Hidrelétrica de Estreito (MA/TO), com ênfase no registro da história de vida de mulheres idosas, remanescentes da Ilha de São José, em Babaçulândia (TO). A desestruturação do modo de vida das comunidades rurais tornou as mulheres desterritorializadas vulneráveis não apenas em relação aos aspectos econômicos, mas, sobretudo, os aspectos emocionais e simbólicos causados por perda do modo de vida tradicional. Analisamos a relação afetiva com o rio, o lugar de vivência e a memória. Diagnosticamos que a vulnerabilidade afetiva decorrente do deslocamento trouxe para elas, além do sentimento de incertezas quanto ao futuro, tristeza e depressão. Tais impactos não são relevantes em estudos ambientais apresentados por empreendedores do setor hidrelétrico e tampouco há mitigação prevista, embora, estudos na área do direito ambiental apontem para a necessidade de indenização por danos de valor afetivo.

Biografia do Autor

Ana Daisy Araújo Zagallo, Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente da Universidade Federal do Tocantins e docente da mesma universidade, Araguaína, TO

Marina Hainzenreder Ertzogue, Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Professora no curso de História, no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente, em Comunicação e Sociedade da Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, TO

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Publicado

13.09.2018

Edição

Seção

Artigos - Estudos de Gênero