Jornalismo, polarização política e a querela das fake news

Autores

  • Luis Felipe Miguel Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasilia (UnB)

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-6924.2019v16n2p46

Resumo

Neste artigo, discuto a posição da imprensa brasileira diante do chamado problema das “notícias falsas”, no contexto de uma crescente polarização política da qual essa imprensa era um importante estimulador, o que amplia as ambiguidades de sua reação. A questão é analisada à luz dos desafios que as novas tecnologias trouxeram ao jornalismo profissional, tanto como instituição quanto como empresa econômica, e à medida que o discurso sobre notícias falsas é mobilizado, em primeiro lugar, para reforçar sua posição tradicional. A grande imprensa brasileira, no entanto, encontra-se em uma posição ambígua diante do avanço do bolsonarismo, que é simultaneamente a última salvação contra uma vitória indesejada do Partido dos Trabalhadores (PT) e uma ameaça ao capital político do próprio jornalismo. Concluindo, tento demonstrar como as crises paralelas da democracia liberal e do jornalismo são reflexos de suas limitações históricas e não podem ser combatidas simplesmente com a aspiração de um retorno improvável ao passado.

Biografia do Autor

Luis Felipe Miguel, Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasilia (UnB)

Professor titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasilia (UnB), onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). Pesquisador do CNPq. E-mail: luisfelipemiguel@gmail.com

Referências

BENKLER, Yochai, Robert FARIS e Hal ROBERTS. Network propaganda: manipulation, disinformation, and radicalization in American politics. Oxford: Oxford University Press, 201).

BROWN, Wendy. “American nightmare: neoliberalism, neoconservatism, and de--democratization”. Political heory, vol. 34, nº 6, p. 690-714, 2006.

CARLSON, Matt. “Fake news as an informational moral panic: the symbolic deviancy of social media during the 2016 US presidential election”. Information, Communication & Society, DOI: 10.1080/1369118X.2018.1505934, 2018.

CASTELLS, Manuel. Ruptura: la crisis de la democracia liberal. Madrid: Alianza, 2017.

CROUCH, Colin. Post-democracy. Cambridge: Polity, 2004.

ETTEMA, James S. e heodore L. GLASSER. Custodians of conscience: investigative journalism and public virtue. New York: Columbia University Press, 1998.

FUKUYAMA, Francis. he end of history and the last man. New York: Free Press, 1992.

GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre: Tchê!, 1987.

GIDDENS, Anthony. he consequences of modernity. Stanford: Stanford University Press, 1990.

LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, David. How democracies die. New York: Crown, 2018.

LIMA, Venício A. de (org.). A mídia nas eleições de 2006. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

LOPES, Mauro. “As quatro famílias que decidiram derrubar um governo democrático”. In: JINKINGS, Ivana; DORIA, Kim; CLETO, Murilo (Orgs.), Por que gritamos golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2016.

MANIN, Bernard. he principles of representative government. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

McCHESNEY, Robert W. Digital disconnect: how capitalism is turning the internet against democracy. New York: he New Press, 2013.

MELLO, Patricia Campos. Empresas bancam disparos de campanha anti-PT nas redes. Folha de S. Paulo, 18 de outubro, p. A1, 2018.

MIGUEL, Luis Felipe. Política e mídia no Brasil: episódios da história recente. Brasília: Plano, 2002.

MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

MIGUEL, Luis Felipe; MEIRELES Adriana Veloso. O im da velha divisão? Público e privado na era da internet. In: 43º Encontro Anual da Anpocs, 2018, Caxambu. Paper, 2018.

MORETZSOHN, Sylvia Debossan. “A mídia e o golpe: uma profecia autocumprida”, em FREIXO, Adriano de. RODRIGUES, hiago (Orgs.), 2016, o ano do golpe. Rio de Janeiro: Oicina Raquel, 2016.

MORETZSOHN, Sylvia Debossan. O terço do papa e o que realmente importa. 2018. Objethos – Observatório da Ética Jornalística. Disponível em: https://objethos.wordpress.com/2018/06/18/o-terco-do-papa-e-o-que-realmente-importa/. Acesso em: 31 jan. 2019.

OFFE, Claus [1984]. “De quelques contradictions de l’État-providence moderne”. Les démocraties modernes à l’épreuve. Paris: L’Harmattan, 1997.

PERSILY, Nathaniel. Can democracy survive the internet? Journal of Democracy, vol. 28, nº 2, p. 63-76, 2017.

PIKETTY, homas. Le capital au XXIe siècle. Paris: Gallimard, 2013.

PRONER, Carol et al. (orgs.). Comentários a uma sentença anunciada: o processo Lula. Bauru: Canal 6: 2017.

ROCHA, Maria Eduarda da Mota. O Jornal Nacional e o rito de destituição de Dilma Roussef. Revista de Ciênciais Sociais (RCS), Fortaleza, v. 5, n. 2, p.359-398, set. 2019. Trimestral. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/31495. Acesso em: 09 set. 2019.

RODRIGUES, heóilo Machado. O papel da mídia nos processos de impeachment de Dilma Roussef (2016) e Michel Temer (2017). Contracampo, vol. 37, nº 2, p. 37-58, 2018.

RUBIM, Antonio Albino Canelas (org.). Eleições presidenciais em 2002 no Brasil: ensaios sobe mídia, cultura e política. São Paulo: Hacker, 2004.

RUNCIMAN, David. How democracy ends. New York: Basic Books, 2018.

SCHUDSON, Michael. he sociology of news. New York: Norton, 2003.

SOUZA, Hugo. O curioso fact-checking de ‘reformas e ajustes’ que não passaram pelas urnas. Medium, 2018. Disponível em https://medium.com/@hugorcsouza/fact-checking-f8c8289c717b. Acesso em 4 fev. 2019. 2018.

SUNSTEIN, Cass R. Republic.com. Princeton: Princeton University Press, 2002.

VAN DIJK, Teun A. How Globo media manipulated the impeachment of Brazilian President Dilma Roussef. Discourse & Communication, vol. 11, nº 2, p. 199-229, 2017

Downloads

Publicado

2019-11-11