O Velho Chico e suas bordas culturais: as vozes poéticas da Canoa Sidó e outras personagens fantásticas do Rio São Francisco no filme Espelho d’água
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e70516Resumo
Pelas águas imaginárias do Velho Chico navegam uma série de histórias, as quais muitas são compostas de personagens fantásticas como a Mãe d’Água, o Nego d’Água, o Minhocão e outros. Será utilizado como corpus de análise o filme Espelho d'Água: uma viagem no Rio São Francisco (2004), dirigido por Marcus Vinicius Cezar, no qual, se destaca como narradora a personagem Sidó, uma canoa velha, que, juntamente com outros personagem fantásticos, por meio de suas vozes poéticas, tecem a trama envolvente da narrativa fílmica. Tais personagens influenciam diretamente na vida da maioria dos ribeirinhos, os quais tomam os ensinamentos e exemplos das narrativas como modelos de conduta e de vivência. Assim, pretende-se refletir sobre o cunho moralizante, a importância e o lugar de representação ideológica que essas personagens e narrativas ocupam nessas comunidades ribeirinhas, uma vez que, por serem de autoria coletiva, presentes também em uma memória coletiva, contribuem diretamente para a manutenção das tradições e construção das identidades culturais. Tais personagens fazem parte de uma trama cultural diversa, a qual se situa, como versa Jerusa Pires, nas bordas, mas que, pela sua força, vem se firmando, indo em direção a um centro de reconhecimento. Como procedimento metodológico, amparou-se em uma leitura de teóricos que discutem sobre memória, identidades, cultura, narrativas fantásticas e outros aportes pertinentes. Depois, partiu-se para uma análise do filme, quando se buscou fazer uma leitura detalhada dessas personagens fantásticas associando com seu papel e importância na cultura ribeirinha. Além disso, é válida também a experiência do autor desse texto, o qual é pesquisador de narrativas orais semelhantes às trazidas nesse filme, tendo desenvolvido pesquisa qualitativa e etnográfica na região de Xique-Xique, Bahia. Por fim, pode-se chegar à conclusão de que essas personagens fantásticas presentes no filme ou mesmo nas narrativas orais analisadas fazem parte do cotidiano dos ribeirinhos das margens do Velho Chico, tornando-se seres integrantes dessas comunidades, nas quais uma grande maioria, como se percebe no filme e também em depoimentos colhidos em Xique-Xique, trazem um testemunho de histórias que viveram ou ouviram contar sobre tais personagens.
Referências
BARZANO, Marco A. L. Griôs: dobras e avessos de uma ONG, Pedagogia, Ponto de Cultura. Feira de Santana: UEFS Editora, 2013.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
CANDAU, Joel. Memória e Identidade. Trad. de Maria Lúcia Ferreira. São Paulo: Contexto, 2011.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
ESPELHO D’Água: uma viagem no Rio São Francisco. Direção de Marcos Vinícius Cezar. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 2004. 1 DVD (110min.).
FERREIRA, Jerusa Pires. Armadilhas da memória e outros ensaios. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
FERREIRA, Jerusa Pires. Cultura das bordas: edição, comunicação, leitura. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2010.
HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Trad. de Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Trad. de Adelaine La Guardia Resende [et al.]. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
LE GOFF. História e memória. Trad. de Bernardo Leitão et al. 5. ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003.
QUEIROZ, Amarino de oliveira. As inscrituras do verbo: dizibilidades performáticas da palavra poética africana. 2007. 310 f. Tese (Doutorado em Teoria da Literatura) Centro de Artes e Comunicação, Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. de Alain François [et al.]. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007.
TODOROV, Tzevtan. Introdução à literatura fantástica. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.
ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad. de Jerusa Pires Ferreira, Maria Lúcia Diniz Pochat e Maria Inês de Almeida. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Nerivaldo Alves Araújo
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Esta revista proporciona acesso público a todo seu conteúdo, seguindo o princípio de que tornar gratuito o acesso a pesquisas gera um maior intercâmbio global de conhecimento. Tal acesso está associado a um crescimento da leitura e citação do trabalho de um autor. Para maiores informações sobre esta abordagem, visite Public Knowledge Project, projeto que desenvolveu este sistema para melhorar a qualidade acadêmica e pública da pesquisa, distribuindo o OJS assim como outros software de apoio ao sistema de publicação de acesso público a fontes acadêmicas. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.