Anne Carson tradutora de Antígona

performance e tradução de um grito

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2020v25n2p119

Resumo

Anne Carson é atualmente uma das mais aclamadas poetas, ensaístas, dramaturgas e tradutoras de língua inglesa, entretanto, a precisão destes termos se torna nebulosa diante da autora que tem como traço fundamental a mescla e desarticulação dos limites literários. Este procedimento marca Carson como alguém que pensa o literário a partir do ato tradutório, entendido por ela como a possibilidade de deixar duas realidades distintas visíveis, criando um ambíguo local que não pode existir, porém que é apresentado e performado a nossa frente. Dentro deste escopo, proponho olhar sua tradução da Antígona de Sófocles, titulada Antigonick, como um artefato de linguagem, uma partitura para realização de um ato de linguagem, para a realização do grito que chamamos de Antígona. Esta será pensada junto à tese de multiplicidade tradutória linguística presente em Borges, Cassin e Ricoeur, em que a tradução pode ser compreendida como um elogio ao múltiplo, como um saber se movimentar entre fronteiras e limites, um mover rumo a diferenças; fato que está presente na tentativa de Carson de traduzir algo distinto – o silêncio – de uma forma distinta – catástrofe –, de pensar outra possibilidade para aquela linguagem que fuja ao discursivo comum, dando voz a uma fúria contra o clichê e tendo como base a ololyga, grito ritual feminino da Grécia antiga, e as concepções da mulher como aquela que rompe limites por excelência, aquela que polui, que desloca e que toca com a voz. Por fim, a partir das concepções de Carson, argumento que a tradução e a performance são modos privilegiados para pensar o mundo, a multiplicidade e as diferenças.

Biografia do Autor

Otávio Guimarães Tavares, Universidade Federal do Pará

Professor no Instituto de Letras e Comunicação (ILC), atuando na Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (FALEM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutor (2015) em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É líder do grupo de pesquisa NELAA – Núcleo de Estudos em Literaturas e Artes Anglófonas. Atua nas áreas de Teoria Literária, Literatura de Língua Inglesa, Estética e Filosofia da arte, Poesia, Literatura Digital e Literaturas Experimentais.

Referências

AITKEN, Will. Antigone undone: Juliette Binoche, Anne Carson, Ivo Van Hove, and the art of resistance. Saskatchewan: University of Regina Press, 2018.

BECKETT, Samuel. The Selected works of Samuel Beckett. New York: Grove Press, 2010. v. 3.

BECKETT, Samuel. The Letters of Samuel Beckett. Edição de Martha Dow Fehsenfeld e Lois More Overbeck. London: Cambridge University Press, 2014. v. 1.

BORGES, Jorge Luis. As versões homéricas. In: BORGES, Jorge Luis. Discussão. Trad. de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p.103-110.

BRAIDA, Celso. Sobre a tradução de textos filosóficos. In: CESCO, Andréa; ABES, Gilles; BERGMANN, Juliana (Orgs.). Teoria e prática da tradução: legendagem, HQ, textos técnicos e científicos. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2019, p. 143168.

BRECHT, Bertold. Collected plays: eight. Trad. de David Constantine. Edição de Tom Kuhn e David Constantine). London: Bloomsbury, 2003. v.8.

BULTER, Judith. Can’t stop screaming. Public books, 5 set. 2012. Disponível em: www.publicbooks.rg/fiction/cant-stop-screaming. Acesso em: 12 abr. 2020.

BUTLER, Judith. Antigone's Claim: kinship between life and death. New York: Columbia University Press, 2000.

BUTLER, Judith. Precarious life: the power of mourning and violence. London: Verso Books, 2006.

BUTLER, Judith. The Force of non-violence: an ethico-political bind. London: Verso Books, 2019.

CARSON, Anne. The task of the translator of Antigone. In: SOPHOKLES. Antigonick. Trad. de Anne Carson. New York: New Directions Book, 2012, p. 3-6

CARSON, Anne. Eros the Bittersweet. Champaign: Dalkey Archive Press, 1998.

CARSON, Anne. A Handful of dirt (entrevista). In: AITKEN, Will. Antigone undone: Juliette Binoche, Anne Carson, Ivo Van Hove, and the art of resistence. Saskatchewan: University of Regina Press, 2018, p. 77-126.

CARSON, Anne. Norma Jeane Baker of Troy. London: Oberon Books, 2019.

CARSON, Anne. Variations on the right to remain silent. A Public space, New York, n. 7, 2008.

CARSON, Anne. The Gender of sound. In: CARSON, Anne. Glass, irony & wine. New York: New Directions Book s, 1995, p. 119-142.

CARSON, Anne. Dirt and desire: essay on the phenomenology of female pollution in antiquity. In: CARSON, Anne. Men in the off hours. New York: Vintage/Random House, 2000, p. 130-157.

CARSON, Anne. A note from the translator. In: SOPHOKLES. Antigone. Trad. de Anne Carson. London: Oberon Books, 2015, p. 5-8.

CARSON, Anne. Translator’s foreword: screaming in translation. In: SOPHOCLES. Electra. Trad. de Anne Carson. Oxford: Oxford University Press, 2001, p.41-48.

CASSIN, Barbara. Translation as politics. Javnost - The Public Journal of the European Institute for Communication and Culture, 9 fev. 2018a. Disponível em: https://doi.org/10.1080/13183222.2018.1418800. Acesso em: 2 jan. 2019.

CASSIN, Barbara. Sophistics, rhetorics, and performance; or, how to really do things with words. (Trad. de Andrew Goffey). Philosophy & Rhetoric, v. 42, n. 4, p. 349-372, 2009. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/25655365. Acesso em: 2 jan. 2019.

CASSIN, Barbara. (Coord.). SANTORO, Fernando; BUARQUE, Luisa (Org.). Dicionário dos Intraduzíveis. Belo Horizonte: Autêntica, 2018b. v. 1.

CASTRO, Olga. (Re)examinando horizontes nos estudos feministas de tradução: em direção a uma terceira onda?.Trad. de Beatriz Regina Guimarães Barboza. TradTerm, São Paulo, v. 29, jul.2017.

DERRIDA, Jacques. Learning to live finally: the last interview. Trad. de Pascale-Anne Brault e Michael Naas. New York: Palgrave, 2007.

ESPOSITO, Roberto. As Pessoas e as coisas. Trad. de Andrea Santurbano e Patrícia Peterle. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2016.

FISHER, Jessica. Anne Carson’s stereoscopic poetics. In: WILKINSON, Joshua Marie (Ed.). Anne Carson: Ecstatic lyre. Michigan: University of Michigan Press, 2015, p. 10-16

FRADINGER, Moira. Nomadic Antigone. In: SÖDERBÄCK, Fanny (Ed.). Feminist readings of Antigone. New York: State University of New York Press, 2010, p. 15-23

GENETTE, Gérard. Palimpsest: literature in the second degree. Trad. de Channa Newman, Claude Doubinsky. Nebraska: University of Nebraska Press, 1997.

GÓRGIAS. Elogio a Helena. In: CASSIN, Barbara. O Efeito sofístico: sofística, filosofia, retórica, literatura. Trad. de Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2005, p. 293-302.

HALE, Terry; UPTON, Carole-Anne. Introduction. In: UPTON, Carole-Anne (Ed.). Moving Target: Theatre Translation and Cultural Relocation. New York: Routledge, 2014, p. 1-13.

INGARDEN, Roman. The Literary work of art. Trad. de George Grabowicz. Evanston: Northwestern University, 1973.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Trad. de Carlos Alberto Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

O’SHEA, José Roberto. Introdução. In: SHAKESPEARE, William. O Primeiro Hamlet in-quarto de 1603. Trad. de José Roberto O’Shea. São Paulo: Hedra, 2013, p. 9-40.

RICOEUR, Paul. Sobre a tradução. Trad. de Patrícia Lavelle. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012.

ROBERTS, Deborah H. Reading Antigone in translation: text, paratext, intertext. In: WILMER, S. E.; ZUKAUSKAITE, Audrone (Eds.). Interrogating Antigone in postmodern philosophy and criticism. Oxford: Oxford University Press, 2010, p. 283-312.

SHAKESPEARE, William. Hamlet, Prince of Denmark. The New Cambridge Shakespeare. Edição de Philip Edwards. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

SOKOLOWSKI, Robert. Introduction to phenomenology. New York: Cambridge University, 1999.

SOPHOKLES. Antigonick. Trad. de Anne Carson. New York: New Directions Books, 2012.

SOPHOCLES. The Three Theban plays: Antigone, Oedipus the King, Oedipus at Colonus. Trad. de Robert Fagles. New York: Penguin, 1984.

SOPHOCLES. Sophocles: Oedipus the King, Oedipus at Colonus, Antigone. Trad. de F. Storr. London: Loeb, 1912.

TAVARES, Otávio. Do Teatro ao digital: uma ontologia a partir de Roman Ingarden. Texto Digital, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 12, n. 2, p. 35-58, jul./dez. 2016.

WILKINSON, Joshua Marie. Introduction. In: WILKINSON, Joshua Marie (Ed.). Anne Carson: Ecstatic lyre. Michigan: University of Michigan Press, 2015, p. 1-9.

Downloads

Publicado

2020-10-06

Como Citar

TAVARES, Otávio Guimarães. Anne Carson tradutora de Antígona: performance e tradução de um grito. Anuário de Literatura, [S. l.], v. 25, n. 2, p. 119–138, 2020. DOI: 10.5007/2175-7917.2020v25n2p119. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-7917.2020v25n2p119. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê "Poéticas da Voz"