Interculturalidade crítica na formação de professoras(es) de ciências da natureza: um legado da cooperação brasileira em Timor-Leste
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2021.e66307Resumo
O presente artigo tem como objetivo trazer à reflexão algumas questões e possibilidades de formação de professoras(es) na área de Ciências da Natureza, emergentes dos processos de implementação do Projeto de Acompanhamento do Programa de Qualificação de Docentes e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP), realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tais questões apontam para a importância de reconhecer a diversidade cultural em sala de aula, além de propor uma compreensão de cultura, para, então, pautar a importância da interculturalidade crítica e das práticas formativas decoloniais. Metodologicamente, trata-se de um texto de cunho teórico-empírico, alicerçado na análise de uma experiência no âmbito da cooperação educacional brasileira em Timor-Leste, em que se articula a problematização das formações de cunho assistencialista, pouco dialógica e sem foco nas intersubjetividades das(os) participantes. Como principais considerações, ascenderam a necessidade/oportunidade de entendimento das questões ligadas à compreensão da interculturalidade crítica como conceito associado às práticas pedagógicas em variados contextos, para além dos proporcionados pelas cooperações Sul-Sul. Nesse sentido, aponta-se para a superação de uma noção ingênua e aparentemente transparente de que as relações entre culturas se isolam das relações pedagógicas. Assim, os contextos formativos de professoras(es) como o PQLP põem em pauta o reconhecimento de que os processos de globalização exigem uma transcendência do alcance nacional ou étnico, a fim de contemplar as relações interculturais em todas as esferas de produção de conhecimento, dentre as quais a escola como instituição.
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