Cidadania da sexualidade na imprensa portuguesa do pós-Revolução dos Cravos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2019.e52467

Resumo

Esperando contribuir para o debate sobre a mudança social das vivências afetivo-sexuais no Portugal de transição da ditadura para a democracia, analisei o conteúdo de revistas e jornais (Mulher - Modas & Bordados, Crónica Feminina, Expresso e Diário de Lisboa), publicados entre 1968 e 1978. De que se fala e o que se diz na imprensa sobre direitos sexuais e de gênero, neste período marcado pela euforia da Revolução de 25 de abril de 1974? Neste artigo, analiso uma carta, um manifesto e uma reportagem que marcaram a agenda midiática da cidadania da sexualidade logo após a Revolução dos Cravos. Os três conteúdos associam liberdade política à liberdade sexual e equacionam as nossas vivências íntimas enquanto assunto público e de cidadania: a história pessoal sexual de uma adolescente (Gisela) enviada à redação de uma revista feminina; o primeiro manifesto homossexual português, publicado na imprensa duas semanas após a Revolução dos Cravos; e um documento assinado por 500 prostitutas (reivindicando direitos sociais e políticos), que é trazido à agenda de uma reunião feminista do Movimento Democrático da Mulher. Na imprensa analisada, o direito à sexualidade feminina pré-conjugal (reivindicado por Gisela), o direito à “livre prática homossexual” e o direito ao “amor livre” marcaram, nesse período, a emergência de uma cidadania da sexualidade (ou cidadania íntima), em desenvolvimento até hoje. Porém, apenas a história pessoal sexual de Gisela desperta entre as leitoras um longo debate sobre a importância das questões da intimidade para a democracia.

Biografia do Autor

Isabel Marques Freire, Universidade de Lisboa, Portugal

Doutorada em sociologia, pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), com a tese "A intimidade afetiva e sexual na imprensa em Portugal (1968-1978)". Investigadora associada do ICS-UL, jornalista, editora de conteúdos do site da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (www.spsc.pt) e formadora em sexualidade (Pós Graduação em Sexologia do ISPA, Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida; Mestrado em Psiquiatria Social e Cultural da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Pós Graduação em Sexologia Educacional da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica). Publicou "Amor e Sexo no Tempo de Salazar" (2010, Esfera dos Livros) e uma compilação de várias dezenas de biografias sexuais, intitulada "Fantasias Eróticas – Segredos das Mulheres Portuguesas" (2006, Esfera dos Livros).

Downloads

Publicado

2019-04-23

Como Citar

Freire, I. M. (2019). Cidadania da sexualidade na imprensa portuguesa do pós-Revolução dos Cravos. Perspectiva, 37(1), 140–159. https://doi.org/10.5007/2175-795X.2019.e52467

Edição

Seção

Dossiê Imagens, Mídias e Práticas Corporais