A disforia de gênero como síndrome cultural norte-americana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n356662

Resumo

O diagnóstico “disforia de gênero”, proposto pela quinta edição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), é apresentado como uma “síndrome cultural” norte-americana, ilustrando a tendência expansionista da American Psychiatric Association (APA) em arregimentar as experiências de trânsito de gênero que escapem à matriz de inteligibilidade centrada em torno do masculino/feminino. A esse diagnóstico, forjado pelo pensamento binário estadunidense, nos moldes da chamada disease mongering, opõe-se a experiência da travesti brasileira como alteridade radical para com a matriz de inteligibilidade de gênero instituída.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rogério da Silva Paes Henriques, Universidade Federal de Sergipe

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe.

André Filipe dos Santos Leite, Prefeitura Municipal de Aracaju/SE

Médico pela Universidade Federal de Sergipe. Pós-graduando em Psiquiatria pela Universidade Estácio de Sá. Trabalha na Rede de Saúde Mental e Atenção Psicossocial do munícipio de Aracaju/SE.

Referências

ALESSANDRIN, Arnaud. “Du ‘transsexualisme’ à la ‘dysphorie de genre’: ce que le DSM fait des variances de genre”. Socio-logos, n. 9, abr. 2014. Disponível em: http://socio-logos.revues.org/2837. Acesso em: 27 abr. 2018.

AMARAL, Daniela M. A psiquiatrização da transexualidade: análise dos efeitos do diagnóstico de transtorno de identidade de gênero nas práticas de saúde. 2007. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION – APA. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BENEDETTI, Marcos Renato. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BENTO, Berenice; PELÚCIO, Larissa. “Despatologização do gênero: a politização das identidades abjetas”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 559-568, maio/ago. 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2012000200017. Acesso em: 27 abr. 2018.

BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Loïc. “Sur les ruses de la raison impérialiste”. In: BOURDIEU, Pierre (Dir.). Les ruses de la raison impérialiste. Actes de la Recherche en Sciences Sociales. Paris: Seuil, 1998. p. 109-118. Disponível em: https://doi.org/10.3406/arss.1998.3250. Acesso em: 27 abr. 2018.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

COSTA, Amanda; CAIXOTE, Diogo. “Ministério lança campanha voltada à saúde da população trans”. Portal do Ministério da Saúde, 27/01/2016. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/21893-ministerio-lanca-campanha-voltada-a-saude-da-populacaotrans. Acesso em: 02 maio 2018.

DENIZART, Hugo. Engenharia erótica: travestis no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

FEYERABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.

FRANCES, Allen. Voltando ao normal: como o excesso de diagnósticos e a medicalização da vida estão acabando com a nossa sanidade e o que pode ser feito para retomarmos o controle. Rio de Janeiro: Versal, 2016.

FREUD, Sigmund. “Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”. In: FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. v. IX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 167-186.

FRIGNET, Henry. O transexualismo. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2002.

GAINES, Atwood D. “From DSM-I to DSM-III-R; Voices of Self, Mastery and the Other: A Cultural Constructivist Reading of U. S. Psychiatric Classification”. Social Science and Medicine, Cambridge, v. 35, n. 1, p. 03-24, 1992.

GAUDENZI, Paula; ORTEGA, Francisco. “Problematizando o conceito de deficiência a partir das noções de autonomia e normalidade”. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 10, out. 2016. Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/problematizando-o-conceito-de-deficienciaa-partir-das-nocoes-de-autonomia-e-normalidade/15811. Acesso em: 04 maio 2018.

GHEROVICI, Patricia. Transgender Psychoanalysis: A Lacanian Perspective on Sexual Difference. New York: Routledge, 2017.

HACKING, Ian. Múltipla personalidade e as ciências da memória. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.

HAUSMAN, Bernice L. Changing Sex: Transsexualism, Thechnology and the Idea of Gender. Durham: Duke University Press, 1995.

HENRIQUES, Rogério P. A psiquiatria do DSM: pílulas para que te quero. São Cristóvão: EDUFS, 2015. Disponível em https://www.academia.edu/30598398/A_Psiquiatria_do_DSM_p%C3%ADlulas_para_que_te_quero. Acesso em: 27 abr. 2018.

LANZ, Letícia. O corpo da roupa: a pessoa transgênera entre a transgressão e a conformidade com as normas de gênero. 2014. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR, Brasil.

LEITE JR., Jorge. “Transitar para onde? Monstruosidade (des)patologização, (in)segurança social e identidades transgêneras”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 559-568, maio/ago. 2012. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2012000200016. Acesso em: 27 abr. 2018.

MOYNIHAN, Ray; HEATH, Iona; HENRY, David. “Selling Sickness: The Pharmaceutical Industry and Disease Mongering”. BMJ, v. 324, n. 7342, p. 886-891, abr. 2002. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1122833/. Acesso em: 27 abr. 2018.

PELÚCIO, Larissa. Abjeção e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo da AIDS. São Paulo: Annablume, 2009.

PERELSON, Simone. “Transexualismo: uma questão do nosso tempo e para o nosso tempo”. Rev. Epos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, dez. 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epos/v2n2/04.pdf. Acesso em: 27 abr. 2018.

PERES, William. Subjetividade das travestis brasileiras: da vulnerabilidade dos estigmas à construção da cidadania. 2005. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

PUSSETTI, Claudia. “A patologização da diversidade: uma reflexão antropológica sobre a noção de Culture-Bound Syndrome”. Etnográfica, Lisboa, v. 10, n. 1, p. 05-40, 2006. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/etn/v10n1/v10n1a01.pdf. Acesso em 27 abr. 2018.

SARACENO, Benedetto. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Te Corá Editora/Instituto Franco Basaglia, 1999.

YOUNG, Allan. The Harmony of Illusions: Inventing Post-Traumatic Stress Disorder. New Jersey: Princeton University Press, 1997.

Downloads

Publicado

2019-12-20

Como Citar

Henriques, R. da S. P., & Leite, A. F. dos S. (2019). A disforia de gênero como síndrome cultural norte-americana. Revista Estudos Feministas, 27(3). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n356662

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)