‘Mais branca que eu?’: uma análise interseccional da branquitude nos feminismos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n161749

Resumo

No presente artigo, analisamos como a branquitude apresenta-se nos movimentos feministas, buscando compreender os processos de subjetivação e racialização de mulheres brancas por meio do diálogo com as epistemologias dos feminismos não hegemônicos e estudos críticos da branquitude. Analisamos as falas de quatro feministas brancas que foram entrevistadas de maneira a pensar os desdobramentos da branquitude nos contextos feministas hegemônicos, buscando entender o que ocorre quando feministas brancas estão dispostas a dialogar e refletir sobre sua condição racial. A discussão dos resultados mostra a importância de compreendermos as formas de ser mulher e os feminismos afastando-se de uma via essencialista e universalizante, reconhecendo que se faz necessária a horizontalização dos pensamentos e práticas feministas a partir da intersecção dos marcadores sociais da diferença.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Geórgia Grube Marcinik, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Graduação em Psicologia (2013), Especialização em Gênero e Sexualidade pelo IMS/UERJ (2016) e Mestrado em Psicologia Social pelo PPGPS/UERJ (2018). Atualmente, é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro via apoio FAPEJ (modalidade bolsista) e pesquisadora do DEGENERA - Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros/UERJ.

Amana Rocha Mattos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Amana Mattos é professora adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (PPGPS/UERJ). Possui Graduação em Psicologia (2003), Mestrado em Psicologia (2006) e Doutorado em Psicologia (2011) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez Estágio Doutoral no Exterior pela CAPES, na Rutgers University, EUA, e Pós-Doutorado na Universidade do Porto (2018). Coordena o DEGENERA - Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros/UERJ, e é vice coordenadora do GT Psicologia, Política e Sexualidade da ANPEPP - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia. É coordenadora do Curso de Especialização em Psicologia Jurídica da UERJ. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, principalmente nos seguintes temas: estudos de gênero e sexualidade, teoria feminista, subjetivação política e estudos da juventude.

Referências

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

ALVES, Luciana. Significados de ser branco - a brancura no corpo e para além dele. 2010. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

BENTO, Maria Aparecida Silva. “Branqueamento e Branquitude no Brasil”. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva. Psicologia Social do Racismo. Petrópolis: Vozes, 2014. p. 25-57.

BERGER, Michele Tracy; GUIDROZ, Kathleen. The Intersectional Approach: Transforming the academy through Race, Class an Gender. Chaper Hill, NC: The University of North Carolina Press Chapel Hill, 2009.

BRAH, Avtar. “Difference, Diversity, Differentation”. Cartographies of Diaspora: Contesting Indentities. London/New York, Routledge, 1996, p .95-127.

BRAH, Avtar. “Diferença, diversidade, diferenciação”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 26, p. 329-376, jan./jun. 2006. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf. Acesso em 14/02/2020.

CARNEIRO, Sueli. “Mulheres em movimento”. Estudos Avançados, São Paulo, v. 17, n. 49, p. 117-132, set./dez. 2003a. Disponível em http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9948. Acesso em 14/02/2020.

CARNEIRO, Sueli. “Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero”. In: ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS & TAKANO CIDADANIA (Orgs.). Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano, 2003b. p. 49-58.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.

CARONE, Iray. “Breve Histórico de uma Pesqusa Psicossocial sobre a Questão Racial Brasileira”. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva. Psicologia Social do Racismo: Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2014. p. 13-23.

CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva. Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2014.

CRENSHAW, Kimberlé Williams. “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics and Violence Against Wmen of Color”. In: FINEMAN, Martha Albertson; MYKITIUK, Roxanne. The Public Nature of Private Violence. New York: Routledge, 1994. p. 93-118.

CRENSHAW, Kimberlé Williams. “Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, n. 10, p. 171-188, jan./jun. 2002. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.pdf. Acesso em 14/02/2020.

CURIEL, Ochy. “Crítica poscolonial desde las práticas políticas del feminismo antirracista”. Nómadas, Bogotá, n. 26, p. 92-101, abr. 2007. Disponível em http://ram-wan.net/restrepo/decolonial/25-curiel-critica%20poscolonial.pdf. Acesso em 14/02/2020.

CURIEL, Ochy. Descolonizando el Feminismo: Una Perspectiva desde America Latina y El Caribe. In: PRIMER COLOQUIO LATINO AMERICANO SOBRE PRAXIS Y PENSAMENTO FEMINISTA, 1, 2009, Buenos Aires, Universidad Nacional de Colômbia. Anais... Buenos Aires: Grupo Latinoamericano de Estudios, Formación y Acción Feminista (GLEFAS) y el Instituto de Género de la Universidad de Buenos Aires, 2009. p. 1-8. Disponível em http://feministas.org/IMG/pdf/Ochy_Curiel.pdf. Acesso em 14/02/2020.

ESPINOSA-MIÑOSO, Yuderkis. “Una crítica descolonial a la epistemologia feminista crítica”. El Cotidiano, Azcapotzalco, n. 184, p. 7-12, mar./abr. 2014. Disponível em https://metodologiainvestigacionfeminista.files.wordpress.com/2014/06/yuderkys-espinosa-feminismo-decolonial.pdf. Acesso em 14/02/2020.

ESPINOSA-MIÑOSO, Yuderkis. “De por qué es necesario un feminismo descolonial: Diferenciación, dominación co-constitutiva de la modernidad occidental y el fin de la política de identidad”. Revista Solar de Filosofía Iberoamericana, Lima, v. 12, n. 1, p. 141-171, 2017. Disponível em http://revistasolar.org/wp-content/uploads/2017/07/9-De-por-qu%C3%A9-es-necesario-un-feminismo-descolonial...Yuderkys-Espinosa-Mi%C3%B1oso.pdf. Acesso em 14/02/2020.

HARAWAY, Donna. “Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective”. Feminist Studies, University of Maryland, n. 14, p. 575-599, 1988. Disponível em https://eahn.org/?get_group_doc=14/1527598789-Haraway_SituatedKnowledges.pdf. Acesso em 14/02/2020.

HARAWAY, Donna. “Saberes Localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, 1995. Disponível em https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773. Acesso em 14/02/2020.

hooks, bell. Feminst Theory: from margin to center. Nova York: South End Press, 1984.

hooks, bell. “Black Women: Shaping Feminist Theory”. In: hooks, bell. Feminst Theory: from margin to center. Nova York: South End Press, 1984, p. 1-15.

hooks, bell. Teaching to transgress: education as the practice of freedom. New York, London: Routledge, 1994.

hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.

hooks, bell. “Mulheres negras: moldando a teoria feminista”. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 16, p. 193-210, jan./abr. 2015. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/rbcpol/n16/0103-3352-rbcpol-16-00193.pdf. Acesso em 14/02/2020.

HUIJG, Dieuwertje Dyi. “‘Eu não preciso falar que eu sou branca, cara, eu sou Latina’ Ou a complexidade da identificação racial na ideologia de ativistas jovens (não)brancas”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 36, p. 77-116, jan./jun. 2011. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/cpa/n36/n36a5. Acesso em 14/02/2020.

KAUR, Rupi. Milk and honey. U.S.A: Andrews McMeel Publishing, 2015.

KAUR, Rupi. Outros jeitos de usar a boca. São Paulo: Planeta, 2017.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KILOMBA, Grada. Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism. Budapeste: Unrast, 2010.

LUGONES, María. “Hacia un feminismo descolonial”. La manzana de la discordia, Cali, v. 6, n. 2, p. 105-119, jul./dez. 2011. Disponível em https://hum.unne.edu.ar/generoysex/seminario1/s1_18.pdf. Acesso em 14/02/2020.

MARCINIK, Geórgia Grube; MATTOS, Amana Rocha. “Branquitude e racialização do feminismo: um debate sobre privilégios”. In: OLIVEIRA, João Manuel; AMÂNCIO, Lígia. Géneros e Sexualidades: Interseções e Tangentes. Lisboa: ISCTE-IUL, 2017. p. 159-173. Disponível em https://www.academia.edu/32231167/Branquitude_e_racializa%C3%A7%C3%A3odo_feminismo_um_debate_sobre_privil%C3%A9gios. Acesso em 14/02/2020.

MATTOS, Amana Rocha; CIDADE, Maria Luiza Rovaris. “Para pensar a Cisheteronormatividade na Psicologia”. Periódicus, Salvador, v. 5, n. 1, p. 132-153, maio/out. 2016. Disponível em https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/viewFile/17181/11338. Acesso em 14/02/2020.

MATTOS, Amana; XAVIER, Giovana. “Activist research and the production of non-hegemonic knowledges: Challenges for intersectional feminism”. Feminist Theory, New York, v. 17, n. 2, p. 239-245, 2016. Disponível em https://doi.org/10.1177/1464700116645880. Acesso em 14/02/2020.

MOHANTY, Chandra Talpade. “Bajo los ojos de Occidente: Feminismo Académica y Discursos Coloniales”. In: NAVAZ, Liliana Suárez; CASTILLO, Rosalva Aída Hernández. Descolonizando el Feminismo: Teorias y Práticas des los Márgenes. Madrid: Cátedra, 2008. p. 117-163.

MORAGA, Cherrie; CASTILLO, Ana. Esta Puente, mi espalda: vocês de mujeres tercermundistas en los Estados Unidos. San Francisco: ISM Press, 1988.

NOGUEIRA, Conceição. Interseccionalidade e Psicologia feminista. Salvador: Devires, 2017.

PASSOS, Ana Helena Ithamar. Um estudo sobre branquitude no contexto de reconfiguração das relações raciais no Brasil, 2003-2013. 2013. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. São Paulo: Annablume, 2014a.

SCHUCMAN, Lia Vainer. “Sim, nós somos racistas: Estudo psicossocial da branquitude paulistana”. Psicolocia & Sociedade, Recife, v. 26, n. 1, p. 83-94, 2014b. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/psoc/v26n1/10.pdf. Acesso em 14/02/2020.

SILVA, Priscila Elisabete da. Um projeto civilizatório e regenerador: análise sobre raça no projeto da Universidade de São Paulo (1900-1940). 2015. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

SOVIK, Liv. Aqui ninguém é branco. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009.

WARE, Vron. Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

Publicado

2021-07-21

Como Citar

Marcinik, G. G., & Mattos, A. R. (2021). ‘Mais branca que eu?’: uma análise interseccional da branquitude nos feminismos. Revista Estudos Feministas, 29(1). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n161749

Edição

Seção

Artigos