Ressignificar e resistir: a Marcha das Vadias e a apropriação da denominação opressora

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DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n248405

Resumo

Este trabalho, embasado na sociolinguística crítica e na Teoria Dialógica do Discurso, analisa
a ressignificação do adjetivo opressor proposta pelo movimento Marcha das Vadias. Assim,
primeiramente, são discutidos dois temas polêmicos para a sociolinguística: o direito de nomear e a ressignificação voluntária. Após, verifica-se alguns aspectos da linguagem feminista, como a valorização do uso das formas femininas e o jargão enquanto ferramenta de exclusão. Por último, analisa-se a argumentação das organizadoras da Marcha sobre a apropriação consciente da adjetivação opressora (do termo “vadia”). Observa-se que tal adjetivo, quando utilizado pelas participantes da Marcha, é esvaziado de sentidos presentes em sua origem etimológica enquanto vocábulo brasileiro racista (para designar escravizados) e classista (para designar prostitutas), embora tente ressignificar o seu
sentido machista, relativo à promiscuidade da mulher.

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Biografia do Autor

Débora Luciene Porto Boenavides, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Doutoranda em Linguística pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (bolsista CNPq). Feminista marxista. Idealizadora da Livra Editora. Administradora da página Lutas Feministas.

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Publicado

2019-09-05

Como Citar

Boenavides, D. L. P. (2019). Ressignificar e resistir: a Marcha das Vadias e a apropriação da denominação opressora. Revista Estudos Feministas, 27(2). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n248405

Edição

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Artigos