O direito entre as várias faces do populismo
DOI:
https://doi.org/10.5007/2177-7055.2024.e96184Palavras-chave:
Legitimidade Democrática, Crise da Democracia, Instabilidade Social, Representação PolíticaResumo
A categoria do populismo é notória por sua polissemia, gerando uma neblina no cenário teórico, especialmente em relação a estratégias para preservar o espaço democrático. A dificuldade em delinear suas principais características reflete a complexidade metodológica em abordar tal fenômeno. Diante disso, a presente investigação busca responder à pergunta: como a ciência política tem tratado do populismo? A partir de tal questão, busca-se identificar as tradições de pensamento predominantes sobre o populismo na ciência política e, por extensão, explorar conexões com debates jurídicos sobre a relação entre democracia e constitucionalismo. Assim, a investigação identificou, por meio de um mapeamento conceitual realizado a partir da lógica indutiva, duas principais tradições de pensamento. A primeira é denominada democrático-liberal, na qual o populismo é visto como uma ameaça à democracia, uma perspectiva dominante no âmbito acadêmico. Em contraste, a segunda vertente é percebe o populismo como possibilidade da política. Ao explorar as tradições de pensamento, foi possível identificar que a primeira oferece uma maior deferência ao constitucionalismo, percebendo os limites impostos como intransponíveis para a constituição de uma democracia; enquanto a segunda oferece maior deferência à democracia, não limitando tal expressão às balizas estabelecidas. Trata-se de um mapeamento conceitual construindo mediante procedimento metodológico indutivo e desenvolvido por meio de uma pesquisa exploratória e revisão bibliográfica.
Referências
ALMEIDA, Gabriela Maria Farias Falcão de. O contexto atual dos protestos no Brasil e o pluralismo democrático. Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v.28, n. 1, p. 33-52, jan./jun, 2013.
ARATO, Andrew. Socialism and populism. Constellations, New York, v. 26, 2019, p. 464-474.
BARROSO, Luís Roberto. A razão sem voto: a função representativa e majoritária das cortes constitucionais. REI-REVISTA ESTUDOS INSTITUCIONAIS, v. 2, n. 2, p. 517-546, 2016.
BARROSO, Luís Roberto. A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governo da maioria. UNICEUB, v. 5, Número Especial, p. 23-50, 2015.
BURITY, Joanildo Albuquerque. Discurso, política e sujeito na teoria da hegemonia de Ernesto Laclau. In.: RODRIGUES, Léo Peixoto; MENDONÇA, Daniel de. Pós-estruturalismo e teoria do discurso: em torno de Ernesto Laclau. p. 35 – 52. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
CANOVAN, Margaret. Populism. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1989.
CANOVAN, Margaret. Trust the People! Populism and the Two Faces of Democracy. Political Studies, v. XLVII, nº 1, March, p. 2-16. 1999.
COSTA, Alexandre Araújo. O poder constituinte e o paradoxo da soberania limitada. Revista Teoria & Sociedade, v. 1, n. 19.1, 2011.
DELEUZE, Giles; GUATARRI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, 2021.
GOMES, Angela de Castro. O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre a trajetória de um conceito. In: FERREIRA, Jorge. O populismo e sua história: debate e crítica. p. 17 – 48. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
ISSACHAROFF, Samuel. Democracy Unmoored: Populism and the Corruption of Popular Sovereignty. Oxford: Oxford University Press, 2023.
LACLAU, Ernesto. Emancipação e diferença. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
LACLAU, Ernesto. Razão Populista. São Paulo: Três Estrelas, 2018.
LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. Hegemonia e Estratégia Socialista: por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios, 2015.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
LYNCH, Christian; CASSIMIRO, Paulo Henrique. O populismo reacionário. São Paulo: Contracorrente, 2022.
MACHADO RODRIGUES, Theófilo; BELLATO, Caíque. A Crise da Democracia Liberal no Início do Século XXI: Duas Abordagens da Teoria Política. Agenda Política, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 253–279, 2022.
MENDONÇA, Daniel de. A teoria da hegemonia de Ernesto Laclau e a análise política brasileira. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, v. 43, n. 3, p. 249-258, 2007.
MENDONÇA, Daniel. de; MACHADO, Igor Suzano. Apresentação do Dossiê: O populismo e a construção política do povo. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 26, n. 1, p. 10–27, 2021.
MOUNK, Yascha. O povo contra a democracia: por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
MUDDE, Cas. The Populist Zeitgeist, Government and Opposition, p. 542-563, 2004.
MÜLLER, Jan-Werner. What is populism?. Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2016.
NORRIS, Pipa. Do perceptions of electoral malpractice undermine democratic satisfaction? The US in comparative perspective. London, International Political Science Review, v. 40 (i) p. 5-22, 2019b.
NORRIS, Pipa. Varieties of populist parties. Boston, Philosophy and Social Criticism, nº 45 (9-10), p. 981-1012, dez/2019a.
NORRIS, Pippa. Is Western democracy backsliding? Diagnosing the risks. Forthcoming, The Journal of Democracy, April, 2017.
NORRIS, Pippa; GARNETT, Holly Ann; GRÖMPING, Max. The paranoid style of American elections: explaining perceptions of electoral integrity in an age of populism. Journal of elections, public opinion and parties, v. 30, n. 1, p. 105-125, 2020.
PIRES, Matheus Conde. Participação Popular Nas Emendas Constitucionais No Brasil A Partir Da Tensão Entre Constitucionalismo E Democracia. p. 124. Dissertação para obtenção de título de Mestre – Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho – PR. 2021.
RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996.
RANCIÈRE, Jacques. The populism that is not to be found. In: BADIOU, Alain; BOURDIEU, Pierre; BUTLER, Judith; DIDI-HUBERMAN, Georges; KHIARI, Sadri; RANCIÈRE, Jacques. What is a people? p. 101-106.Columbia: Columbia University Press, 2016.
RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. Boitempo Editorial, 2015.
RODRIGUES, Léo Peixoto; MENDONÇA, Daniel de. A impossibilidade da emancipação: notas a partir da teoria do discurso. In.: RODRIGUES, Léo Peixoto; MENDONÇA, Daniel de. Pós-estruturalismo e teoria do discurso: em torno de Ernesto Laclau. p. 53 – 70. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
ROSANVALLON, Pierre. The populist century: history, theory, critique. Cambridge: Polity Press, 2021.
RUNCIMAN, David. Como a democracia chega ao fim. São Paulo: Todavia, 2018.
SARNEY, José. Mensagem Nº 48, de 1985-CN. Brasília, 28, junho, 1985.
SULTANY, Nimer. State of Progressive Constitutional Theory: The Paradox of Constitutional Democracy and the Project of Political Justification. Harv. CR-CLL Rev., v. 47, p. 371, 2012.
TATAGIBA, Luciana. Os protestos e a crise brasileira. Um inventário inicial das direitas em movimento (2011-2016). In: ALMEIDA, Ronaldo de; TONIOL, Rodrigo. Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos. Campinas: Editora Unicamp, 2018.
URBINATI, Nádia. A teoria política do populismo. EXILIUM Revista de Estudos da Contemporaneidade, v. 2, n. 3, p. 299-334, 2021.
URBINATI, Nádia. Me the people. Cambridge: Harvard University Press, 2019.