Sobre o Ressentimento dos Argentinos

Autores

  • Hector Ricardo Leis

Resumo

Sob a ótica do fenômeno de ressentimento, em associação íntima com os temas de reconhecimento, memória e esquecimento, é possível encontrar novas pistas para pensar a dinâmica histórico-social profunda da sociedade moderna. Partindo dum esquema conceitual baseado em Nietzsche, Elias e Arendt, em diálogo com autores como Walzer, Rawls e Taylor, entre outros, procurar-se-á construir uma crítica não essencialista ao igualitarismo que o vincule com o ressentimento. Basicamente, se argumenta aqui que a idéia de igualdade se perverte na sua extensão do campo político para o social, onde passará a ser aceita irrealisticamente como “natural”. Nesse processo se gera um desejo de igualdade impossível de ser satisfeito que deriva em sentimentos negativos como a frustração e o ressentimento. Nesta perspectiva, já no contexto argentino, o ressentimento será apresentado como uma resultante da intensidade do desafio do populismo igualitarista aos processos de modernização em curso no país desde a metade do século XIX. Será sugerida a hipótese que esse ressentimento trará conseqüências negativas para a governabilidade, diretamente proporcionais ao elevado grau do confronto gerado pelo populismo. A decadência Argentina no século XX estará associada, portanto, à emergência do peronismo nos anos 40 e a sua tentativa relativamente bem sucedida de substituir o estado e a mentalidade liberal em formação por elementos novos de fundo populista. Para apresentar melhor o caso argentino se fará também uma rápida comparação com o caso brasileiro. Concluindo, em contraste com as demandas de exacerbação mítica da memória atualmente em voga na Argentina (e lembrando à figura de Joaquim Nabuco), se sugerirá a busca da reconciliação e o esquecimento reflexivo.

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Publicado

2002-01-01

Edição

Seção

Artigos