Fisiologias em contradança: uma leitura de "A desejada das gentes", de Machado de Assis
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2018v23n2p130Resumo
O artigo propõe uma leitura de “A desejada das gentes”, de Machado de Assis, a partir do confronto entre as diversas interpretações articuladas no interior da narrativa do Conselheiro sobre as ações de Quintília, sua amada. Em sua variedade e imprecisão, elas apontam mais para os anseios e intenções daquele que as emprega, exegeta limitado, do que para qualquer verdade sobre o objeto que as anima. Levando em consideração os efeitos da forma dramática do conto, composto em forma de diálogo, procuramos entrever como o desejo pela protagonista é construído pela narrativa, que, pela ausência de uma voz externa capaz de organizar as pontas soltas, demanda uma participação ativa do leitor, gesto tipicamente machadiano. Por fim, em diálogo com os conceitos freudianos de luto e sublimação, sugerimos que a narrativa do Conselheiro adquire certa função sublimatória, dessexualizando a figura de Quintília e garantindo, assim, ao seu enunciador, a posse exclusiva de uma explicação singular.
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