Dom Quixote, uma aventura crítica (e apologética)

Autores

  • Luís Garcia Soto Universidade de Santiago de Compostela (Espanha)

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2017v22n1p55

Resumo

No presente texto, queremos interpretar o Quixote de Cervantes desde o ponto de vista da filosofia moral. Para isso, faremos uso de duas categorias próprias da conceção da filosofia de Adorno: a crítica e a apologia. Em nossa opinião, na perceção da realidade de Dom Quixote há uma ideia de justiça que se enquadra num ideário que inclui alguns elementos transgressores a respeito da moral e a política do seu contexto histórico. Relacionaremos esses elementos transgressores com dois destacados contributos do pensamento ibérico moderno: o ius gentium e o casuísmo. Em nosso ver, Dom Quixote luta pela paz e o entendimento na política e pela liberdade de consciência na moral. Em aparência, ele fracassa sempre. Mas, em seus fracassos, às vezes ganha e às vezes perde. Por uma parte, vence quando luta contra um fato: ele erra na perceção e age de conformidade com o seu erro, mas, ao fazer isso, mostra que uma mudança é possível num dado estado de fatos moral e/ou político. A derrota de Dom Quixote implica uma crítica: ele atacou a construção social da realidade sustida e mantida pelos poderes do seu tempo. Por outra parte, Dom Quixote perde quando luta com um ídolo teatral: ele erra também, não se dá conta de que está perante uma criação dos poderes vigentes. Nestes casos, as suas derrotas significam uma dupla vitória dos poderes do seu tempo: na ordem dos fatos e na ordem das crenças. Porém, mesmo nestes casos, é possível desconstruir essa apologia. Graças ao humor de Cervantes, as/os leitoras/es podem desconstruir essa apologia e ver crítica nas aventuras de Dom Quixote. 

Biografia do Autor

Luís Garcia Soto, Universidade de Santiago de Compostela (Espanha)

Professor Titular de Universidade de Filosofia Moral, Departamento de Filosofia e Antropologia, Faculdade de Filosofia.

Doutor em Filosofia pela Universidade de Santiago de Compostela: "Una lectura de Barthes" (1986)

Doutor em Direito pela Universidade Autónoma de Madrid: "Teoría de la justicia e idea del derecho en Aristóteles" (2010)

Investigação e publicações: Filosofia Moral; Pós-estruturalismo e Pós-modernidade; Filosofia e Literatura; Filosofia, Justiça e Paz; Bioética; Filosofia Moral e Política em Galiza.

Downloads

Publicado

2017-08-22

Como Citar

SOTO, Luís Garcia. Dom Quixote, uma aventura crítica (e apologética). Anuário de Literatura, [S. l.], v. 22, n. 1, p. 55–71, 2017. DOI: 10.5007/2175-7917.2017v22n1p55. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-7917.2017v22n1p55. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Cervantes & Shakespeare: 400 anos, e outros diálogos