Uma mulher é uma terceira margem: o corpo, as águas, o sangue e tudo o que (não) é fluido em A mulher submersa, de Mar Becker

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2022.e89590

Palavras-chave:

literatura brasileira contemporânea, poesia, corpo, feminino

Resumo

Os silêncios sobre o corpo feminino podem ganhar lugar na poesia. Nela, os fluídos dizem sobre aquilo que escapa ao/do corpo: o sangue, o sêmen, o suor, o choro. Se a poesia é uma forma de se aproximar do indizível do corpo (PRIGENT, 2017), então, através das imagens que a letra coloca no papel proponho uma leitura psicanalítica de alguns poemas do livro A mulher submersa, de Mar Becker. No livro, dividido em quatorze cadernos, o corpo feminino se desenha a partir do que dele sai, do que se perde e do que escorre. Mulheres, vivas ou mortas, são evocadas de diversos modos. Algumas questões, assim, guiam este artigo: De que modo podemos pensar o corpo feminino a partir da poesia? O que a poesia diz sobre o corpo feminino? E sobre o feminino? A análise se dá, principalmente, a partir de pressupostos de Freud e de Lacan, mas também em diálogo com outras produções contemporâneas, artísticas e teóricas.

Biografia do Autor

Mariana Vogt Michaelsen, Universidade Federal de Santa Catarina

Graduada bacharel em Psicologia, mestra em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutoranda em Literatura pela UFSC.

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Publicado

2022-11-01

Como Citar

MICHAELSEN, Mariana Vogt. Uma mulher é uma terceira margem: o corpo, as águas, o sangue e tudo o que (não) é fluido em A mulher submersa, de Mar Becker. Anuário de Literatura, [S. l.], v. 27, p. 01–19, 2022. DOI: 10.5007/2175-7917.2022.e89590. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/89590. Acesso em: 19 abr. 2024.

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