Registro de alimentação insetívora oportunista em Artibeus lituratus (Olfers,1818) (Chiroptera, Phyllostomidae) em um parque urbano no município do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Brasil)

Autores

  • Camila de Oliveira Sene Instituto Resgatando o Verde
  • Shirley Seixas Pereira da Silva Instituto Resgatando o Verde
  • Patrícia Gonçalves Guedes Instituto Resgatando o Verde

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7925.2022.e90278

Palavras-chave:

Dieta, Hexapoda, Mata Atlântica, Morcego frugívoro, Stenodermatinae

Resumo

Morcegos frugívoros são comumente registrados em áreas alteradas e também nas cidades, utilizando praças e parques urbanos como área de vida. Como parte de um projeto de monitoramento de morcegos urbanos, exemplares foram capturados em um fragmento florestal com grande interferência antrópica, e suas amostras fecais foram analisadas em laboratório. Uma dessas amostras, pertencente a um indivíduo de Artibeus lituratus, apresentou unicamente partes de insetos, cerca de 200 fragmentos, dos quais foi possível identificar cinco ordens e nove famílias. Coleoptera foi consideravelmente mais abundante, correspondendo a 71,6% do total da amostra; a Família Scarabaeidae foi a mais consumida (26,1%), seguida de Carabidae (17,3%). Indivíduos de Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera foram menos consumidos, compondo respectivamente 6,5%, 4,4%, e 4,4% do total de fragmentos. Registra-se o consumo de hemípteros da Família Cimicidae, percevejos conhecidos por habitarem abrigos de morcegos. O consumo de insetos por estes morcegos pode indicar uma plasticidade na dieta mediante escassez da preferência alimentar primária, já que a amostra foi obtida no inverno, quando ocorre uma baixa produção de frutos na área. Embora mais estudos sejam necessários, destaca-se a importância da análise de resíduos fecais para a compreensão das relações ecológicas dos morcegos, principalmente em áreas alteradas.

   

Biografia do Autor

Camila de Oliveira Sene, Instituto Resgatando o Verde

Bacharel em Ciências Biológicas e atualmente graduanda do curso Licenciatura- Ciências Biológicas pela UNESA(Universidade Estácio de Sá) Pesquisadora associada do IRV(Instituto Resgatando o Verde) e estagiária na equipe Educação Ambiental e Inclusão Social do IRV. Possui experiência nas áreas de: Educação Ambiental; Ecologia Alimentar; Ecologia e Biologia de Quirópteros.

Shirley Seixas Pereira da Silva, Instituto Resgatando o Verde

Bióloga pela Universidade Santa Úrsula (1986) e Mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná - UFPR (1991). Doutoranda em Biologia Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1996 trancado). Diretora-Presidente e Pesquisadora do Instituto Resgatando Verde (IRV) desde 2009. Certificada como Líder do Grupo de Pesquisa: Bionomia e Parasitologia dos Quirópteros Brasileiros e Pesquisadora no Grupo de Pesquisa: Aspectos Biológicos e Comportamentais de Primatas Neotropicais pelo Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil - CNPq (2020).

Patrícia Gonçalves Guedes, Instituto Resgatando o Verde

Bióloga. Mestra e Doutora em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é Vice-Presidente, Coordenadora Científica e pesquisadora do Instituto Resgatando o Verde (RJ) e Pesquisadora Associada ao Departamento de Vertebrados do Museu Nacional / UFRJ. Tem experiência em Educação em Ciências e Biologia, e na área de Zoologia e Evolução com ênfase em Mastozoologia, principalmente diversidade de Chiroptera, Plathyrrhini e mamíferos do Quaternário do Brasil

 

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Publicado

2022-11-28

Edição

Seção

Artigos