A necropolítica do dendê: algumas considerações sociológicas sobre a situação dos indígenas e quilombolas no nordeste paraense durante o governo Bolsonaro
DOI:
https://doi.org/10.5007/1806-5023.2024.e100934Palavras-chave:
Dendeicultura, Indígenas, Quilombolas, Necropolítica, Conflitos socioambientaisResumo
O presente estudo realizado coletando jornais eletrônicos, entre os anos de 2018 e 2023, que descrevem a situação social de indígenas e quilombolas na região de fricção interétinca de Tomé-Açu. A questão/objetivo central desse trabalho é entender como dendeicultura na Amazônia paraense, durante o governo Bolsonaro (2019/2022), aprofundou os problemas socioambientais envolvendo comunidades tradicionais e indígenas. Nossos achados buscam reforçar a premissa de que o dendê, durante os governos Bolsonaro, deixou de lado a roupagem de um discurso de sustentabilidade e aprofundou os conflitos socioambientais envolvendo indígenas/quilombolas e empresas de dendê já presentes também nas fases de expansão da monocultura durantes os governos Lula através do Programa Nacional de Uso do Biodiesel (PNPB), em 2004, e do o Programa Sustentável de Óleo de Palma (PSOP), em 2010, mas, com a diferença de que, neste período, o dendê era visto como uma alternativa para o crescimento econômico combinada coma preservação do meio ambiente, e não com apenas como uma necropolítica.
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