Editorial

Autores

  • Fernando Mezadri Universidade Federal de Santa Catarina
  • João Gabriel Vieira Bordin Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.5007/1806-5023.2016v13n1p1

Resumo

Desde 2014, a Em Tese, revista editada pelos discentes do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vem passando por uma série de reformulações estruturais. A definição de critérios mais altos na seleção de avaliadores, a introdução de um formulário de avaliação dos artigos para guiar os pareceristas sobre os aspectos que devem ser avaliados e a manutenção da periodicidade na publicação das edições levaram à incorporação da revista em vários indexadores nacionais e internacionais de prestígio. A presença nesses indexadores e a utilização de outras plataformas virtuais, como o facebook, no qual o periódico recentemente atingiu a marca de mil curtidores, por sua vez, ampliou a divulgação das atividades editoriais da revista como as chamadas de artigos e expandiu largamente o número de acessos, que ultrapassam uma centena de milhares de acessos por ano.

Os avanços nessa edição ficam por conta da incorporação da revista a mais um indexador importante, o Directory of Open Access Journals (DOAJ). Além disso, houve o acréscimo de importantes ferramentas internas que melhoram os processos de edição do periódico, tal como o desenvolvimento [ainda em construção] de um manual de “passo a passo” indicando cada etapa de edição da Em Tese, bem como, um guia de orientações de posturas éticas para nortear e sistematizar o trabalho dos membros do corpo editorial. Iniciativas como essas, visam conferir maior profissionalismo à revista e, consequentemente, maior segurança a seus colaboradores e leitores. A crescente respeitabilidade da revista no meio acadêmico, medida principalmente pela diversificação e amplitude nacional dos artigos recebidos, é prova do acerto dessa estratégia. Neste tocante em particular, a presente edição da revista traz pela primeira vez um artigo assinado por um pesquisador estrangeiro – no caso, Jorge Botelho Muniz, da Universidade Nova de Lisboa.

Em suma, frutos de uma clara política editorial levada a cabo pelos editores da revista, resultaram em avanços significativos na qualidade dos artigos recebidos e publicados. A edição do primeiro semestre de 2016 não fica atrás, como o leitor poderá apreciar por si mesmo nesta breve apresentação sinóptica de cada texto.

Contudo, por razões que fogem ao controle dos editores, o dossiê Sociologia política da corrupção planejado para esta edição infelizmente teve de ser cancelado. Em comparação com outros dossiês, o deste semestre foi prejudicado pelas poucas contribuições e pelo relativamente alto número de rejeições dos trabalhos submetidos à avaliação dos pareceristas dos periódicos. Isso permite avaliar em certa medida o estado da arte das pesquisas acerca deste tema no Brasil e sugere a necessidade de uma concentração de esforços a fim de preencher essa lacuna, tanto mais por causa da sensibilidade e importância do problema da corrupção para o atual momento que vive o país. De qualquer maneira, os artigos enviados e aprovados para o dossiê foram publicados normalmente nesta edição, e os que ainda estão em processo de análise e que forem eventualmente aprovados serão também publicados em edições futuras.

Esta edição abre-se com os três artigos aprovados para o dossiê. O primeiro deles, intitulado ‘O discurso da “mudança” de Aécio Neves e Dilma Rousseff: uma análise da prática retórica entre diferentes, no retorno para o segundo turno às eleições de 2014’ de Sandra Regina Barbosa Parzianello, procura analisar a batalha discursiva entre os dois candidatos à Presidência da República que disputaram o segundo turno das eleições de 2014. Com base em categorias analíticas desenvolvidas pela teoria do discurso de Ernesto Laclau, a autora analisa, de um lado, o discurso da “mudança” da coligação “Muda Brasil”, contrário ao governo petista e, de outro lado, o discurso também da “mudança” manifestado pelo partido da situação. Nas palavras da própria autora, a forma como a política está organizada é momentânea e contingente, pois depende de um universo de sentidos fundado na forma e em como o campo discursivo está estruturado.

O segundo artigo, ‘Como os partidos de esquerda se posicionam em relação ao governo Lula?’, de Pedro Gustavo de Sousa Silva, objetiva sistematizar as posições assumidas pelos partidos de esquerda em relação ao governo Lula (2003-2006). Segundo o autor, os partidos de esquerda dividiram-se em dois blocos diante do governo Lula: 1) um deles apoiou a gestão, mesmo tendo conflitos com o governo; 2) o outro assumiu a postura de oposição, acusando o governo de traidor. A partir dos discursos externados por integrantes do campo político da esquerda, o autor busca explicar porque uma parte das esquerdas apoio o governo e outra parte não, assim como as razões dessa ruptura.

No próximo artigo, ‘A análise neo-institucional da corrupção: corrupção e reformas’, Luis Fernando Miranda sugere melhores formas de gestão da máquina pública, de modo a combater a corrupção de forma mais eficiente através de reformas. Baseado principalmente no trabalho de Susan Rose-Ackerman, o autor mostra que as propinas são o elo entre quem corrompe e quem é corrompido e que esta, funciona como uma espécie de serviço prestado. Sua conclusão é que a longo prazo a corrupção gera um ambiente de incerteza, seja para os negócios, seja para a política. Por fim, ele argumenta que as reformas podem ser um mecanismo eficiente no combate à corrupção, e apresentada seis tipos de reforma que podem avançar nesse sentido.

Em ‘As Mulheres Dirigentes do Partido dos Trabalhadores: Perfil e Desafios à Representação Substantiva’, Tássia Rabelo de Pinho analisa a participação política das mulheres no interior do Partido dos Trabalhadores, primeiro partido da América Latina a adotar cotas de gênero e a aprovar a paridade na composição das suas direções. Empregando uma série de técnicas de pesquisa diferentes na produção de dados, a autora conclui que mecanismos intrapartidários de reserva de vagas impactam de maneira rápida e assertiva a composição das direções partidárias, mas isolados não resolvem o problema da representação substantiva, pois há elementos de natureza simbólica e relacionados à divisão sexual do trabalho, que atuam como barreiras à atuação política das mulheres.

Espraiando-se pela linha de estudos sobre diferenças e discriminação, Bruno Gontyjo de Couto publica ‘O debate sobre meio e raça na geração intelectual de 1870: a construção de um projeto de civilização para o Brasil’. Nesse texto, ele analisa desestruturas materiais e simbólicas erigidas no contexto do império do Brasil e a concomitante emersão da chamada geração intelectual de 1870 que assume a missão de formular análises e perspectivas sobre o país com intuito de se desenhar um caminho que constituiria o Brasil como um país civilizado. Em suas análises, esse grupo intelectual, encabeçado por Tobias Barreto, professor da escola de direito do Recife, descobre o “problema” da indefinição racial e da falta de integração nacional como obstáculos a serem superados nesse sentido, propondo uma série de projetos de intervenção.

Escrito a quatro mãos, ‘Transexualidades: os rostos do estigma e da exclusão social’, resulta da pesquisa elabora por Jaime Alonso Caravaca Morera e Maria Itayra Padilha. Os autores fazem uma análise das diferentes manifestações do estigma e da exclusão social entre a população transexual. Munidos da noção de controle heterocisnormativo de orientação no patriacarcalismo, expõe os estigmas e exclusão no âmbito transexual derivados de aspectos pessoais, cognitivos, emocionais, estruturais e comportamentais que emergem como consequência direta da implantação da ideologia psiquiatrizante e patologizante da condição transexual e das outras manifestações da corporeidade e sexualidade relativas à concepção ontológica dos sujeitos.

Em um texto originalmente enviado para o dossiê sobre o ensino da sociologia publicado na última edição da Em Tese, Erika Kulessa de Souza, agracia os leitores com ‘Linguagem e ensino de sociologia: reflexões sobre a apropriação da linguagem’. Nesta produção, a autora propõe uma reflexão sobre o aprendizado da sociologia no ensino médio, considerando aspectos da dimensão linguística como pedra de toque para o desenvolvimento de um olhar sociológico. Ancorando-se em Wittgenstein e Vigotsky, estabelece relações entre o pensamento linguagem e conhecimento, que, mesmo ante oposições epistemológicas em ambos autores, é possível o vislumbre de perspectivas sobre a apropriação da linguagem sociológica.

Na mesma linha da sociologia da educação, em ‘O que se entende por educação: as abordagens da sociologia clássica de Durkheim, Weber e Marx’, Fabiane Medina Cruz evidencia a educação como temática chave do processo de consolidação da assim chamada ‘tirania’ de colonização e controle hegemônico desfraldado através da modernidade. Ao servir-se dos sociólogos clássicos – Marx, Durkheim e Weber – a autora reflete sobre paradigmas acerca de temas recorrentes e cotidianos, tal como cidadania, desenvolvimento econômico e identidade nacional, entre outros. Ora, visando fugir de padrões normativos engendrados pela educação, a autora, através das teorias sociológicas clássicas, apresenta possibilidades autônomas para se pensar projetos educacionais.

Jorge Botelho Moniz traz uma discussão sobre secularização. Marcadamente situado no campo da Sociologia da Religião, o texto intitulado como ‘A secularização na ultramodernidade católica europeia: uma proposta de análise contextual e multidimensional do fenômeno da secularização’; permite a análise plural sobre a noção de secularização num contexto europeu. Notadamente uma construção teórico-conceitual, o artigo permite a compreensão do deslocamento e recomposição do fenômeno do religioso em países do continente europeu compreendido através das dimensões sociocultural, político-histórica e jurídica; colocadas como critérios de pesquisa em vista da reflexão mais acurada acerca dos contornos modernos que a religião vem desenhando na Europa na atualidade

Em sua segunda contribuição para este periódico, Jeferson Bertolini traz ‘A racionalização da notícia: uma consequência não premeditada da internet’. Neste artigo, o conceito de racionalização em Max Weber é mobilizado para se pensar a produção da notícia na internet. Como efeito da racionalização das esferas sociais, no campo do jornalismo, os valores da tradição e o ideal de informar opõem-se a critérios de eficiência do mundo capitalista, superado pela produção de conteúdo em escala industrial. Nestes termos, a notícia, além de convertida à condição de mercadoria, o processo de racionalização impacta nas rotinas do jornalista no que tange sua relação com as fontes e o conteúdo produzido.

Nesta edição, Flávio de Lima Queiroz publica a resenha da obra ‘As raízes da corrupção no Brasil’, lançado pela Editora Fórum em 2015. A obra, escrita pelo professor de Direito Lucas Rocha Furtado e também subprocurador-geral do Ministério Público do Tribunal de Contas da União. A partir de um estudo sobre os casos escandalosos de corrupção na recente história da política brasileira, como a exemplo do caso “PC Farias” e do “Mensalão”, Furtado (2015) defende a tese de que as razões para o surgimento de comportamentos tidos como corruptos pelos agentes públicos estariam na deficiência das instituições políticas do Estado, vem como na impunidade dos agentes praticantes de corrupção, por assim dizer. O autor opõe-se à tese defendida por Sergio Buarque de Holanda, quando atribui à cultura patrimonialista a causa geradora de falhas na condução do Estado pelos agentes públicos. Para Furtado (2015), as lacunas legais contidas e regras institucionais frouxas estariam como causa para corrupção, mais do que fatores histórico-culturais.

A edição encerra com uma entrevista do professor e pesquisador Francisco Cabral Alambert Júnior do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP). Em uma interessante conversa com o doutorando em sociologia política da UFSC, Josnei Di Carlo, suas falas versam sobre elementos analíticos que permitem a triangulação crítica entre história, política e o campo das artes. Tendo como importante eixo A história da das bienais em São Paulo, professor Alambert dialoga com abordagens políticas que vieram pari passu tangenciando o espectro da modernidade no Brasil. Orbitando sobre diferentes temáticas no campo das artes, cultura e literatura, a entrevista permite uma reflexão hodierna inaugural acerca da imprensa enquanto fonte e tema de pesquisa além das artes e suas articulações com a política.

Biografia do Autor

Fernando Mezadri, Universidade Federal de Santa Catarina

Licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque em Santa Catarina, mestre e doutorando em sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina

João Gabriel Vieira Bordin, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestre e doutorando em sociologia politica pela Universidade Federal de Santa Catarina

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Publicado

2016-07-09

Edição

Seção

Editorial