A (des)construção racial e religiosa do umbandista: um estudo em uma cidade do Ceará

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1806-5023.2023.e94168

Palavras-chave:

Raça, Umbanda, Decolonialidade

Resumo

O presente artigo versa sobre os efeitos da colonialidade no mercado religioso brasileiro, com ênfase na Umbanda. Nesse sentido, busca-se compreender as implicações das práticas de racismo na construção social e religiosa de praticantes umbandistas em Acarape/Ceará. Desse modo, compreende-se a colonialidade como um processo psicossocial que interfere simbólica e concretamente na vida de pessoas não-brancas. O artigo possui um delineamento qualitativo, em que foram utilizadas entrevistas semiestruturadas para a produção de sentidos e diários de campo. Estas foram transcritas, categorizadas pelo software Atlas.ti e por fim analisadas pela técnica de Análise Crítica do Discurso. Com isso, conclui-se que os/as pretos relataram que sofrem práticas de preconceito/racismo, e quando em confluência com suas práticas religiosas, estes tornavam mais evidentes e intensos, assim resultando em práticas de intolerância religiosa. Porém, o terreiro e as relações construídas nele tendem a fornecer práticas de resistência ao racismo e a intolerância religiosa de forma decolonial.

Biografia do Autor

Ailton Lima, Universidade Federal do Ceará

Bacharel em Humanidade, Sociólogo e especialista em Gestão Pública Municipal pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Mestre e doutorando em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Professor do curso de Psicologia da Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará (FAECE). Pesquisador colaborador na Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e Resistências (reaPODERE).

James Moura Jr., Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira

Psicólogo e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará - UFC; Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor do Instituto de Humanidade da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenador da Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e Resistências (reaPODERE).

Taynara Carvalho , Universidade Federal do Ceará

Psicóloga graduada pelo Centro Universitário Inta - UNINTA (2021). Especialista em Saúde Mental e Redução de Danos pela Faculdade de Quixeramobim - UNIQ (2021). Especialista em Políticas Públicas pela Faculdade Serra Geral - FASG (2022). É mestranda em Psicologia na Universidade Federal do Ceará - UFC e atua como Psicóloga na Faculdade 05 de Julho (F5).

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Publicado

2023-11-17