Cronotopos e Covid-19: aproximações e leituras antropológicas sobre tempo, espaço durante e após pandemia
Organizadoras: Rosamaria Carneiro (UnB), Sonia Weidner Maluf (UFSC) e Monica Franch (UFPB)
O objetivo desta chamada e? abordar os modos como noc?o?es, pra?ticas e experie?ncias de tempo e espac?o foram vividas durante a pandemia de Covid-19. Se por um lado, o mundo se viu conectado pela ameac?a representada pelo Sars-Cov2, por outro as interpretac?o?es, pra?ticas e experie?ncias nesse peri?odo foram diversas, espacial e temporalmente. No que tange ao espac?o, casa e cidade foram bastante reconfiguradas, especialmente no primeiro ano de pandemia e durante os meses em que foi decretado isolamento social. O espac?o da vida se viu drasticamente reduzido a alguns metros quadrados, a circulac?a?o de pessoas foi interrompida, escolas foram fechadas, popularizou-se o home-office, o que comprimiu ou reajustou a experie?ncia espacial para uma parte da populac?a?o. Em contextos perife?ricos, ainda que o isolamento social na?o tenha sido possi?vel, o ir e o vir tambe?m se viu abalado, com o corte de transporte pu?blico, com a pobreza e o desemprego, configurando novos desenhos do espac?o urbano. O tempo, por sua vez, tambe?m sofreu compresso?es e alongamentos: o tempo do trabalho e o tempo do descanso; da rua e da casa. A pro?pria noc?a?o de passagem do tempo sofreu mudanc?as, sobretudo com o alongamento da experie?ncia da pandemia no Brasil. Durante o isolamento, vivemos o tempo da espera, da demora, da extensa?o da quarentena, mas tambe?m da urge?ncia. Decorridos tre?s anos de pandemia, temos, de um lado, a sensac?a?o de que o tempo na?o passou e que vivemos uma espe?cie de lapso temporal e, de outro, uma intensificac?a?o da experie?ncia vivida. Tambe?m como ocorreu com a configurac?a?o do espac?o, a vive?ncia do tempo esteve profundamente imbricada nos contextos sociais em que se vivenciou a pandemia, reflete desigualdades e esta? estreitamente ligada a marcadores sociais. Refletir sobre tempo e espac?o torna-se fundamental para entender as diferentes experie?ncias sociais da pandemia e as desigualdades que marcaram o enfrentamento dessa crise sanita?ria no Brasil.
Tempo e espac?o sa?o categorias bastante tematizadas pela antropologia (CARSTEN; HUGH-JONES, 2013; BORGES, 2013; MUNN, 1992; GELL, 2014), que nos permitem discutir mudanc?as e continuidades na vida social. A irrupc?a?o de um “evento cri?tico” (DAS, 2020) como a pandemia da Covid-19 enseja alterac?o?es espac?o-temporais cuja durabilidade e alcance precisam ser mais bem conhecidas. Inspiradas na categoria de cronotopo, proposta pelo filo?sofo e cri?tico litera?rio Mikhail Bakhtin (2008, 1998), buscamos neste dossie? atrair contribuic?o?es que nos permitam compreender melhor os contornos e os sentidos das transformac?o?es espac?o-temporais que ocorreram em diferentes contextos ao longo e apo?s a crise deflagrada pela pandemia da Covid-19. Interessa-nos refletir sobre as experie?ncias espaciais e temporais das pessoas durante a pandemia, em seus diversos momentos – 2020, 2021, 2022. Em relac?a?o ao espac?o, buscamos compreender quais foram os desenhos de casa e de cidade vividos. Em relac?a?o a? casa, interrogamos como se deram seus novos arranjos, o que foi dito sobre essa casa e o que ela significou: refu?gio, perigo, aprisionamento, sobrecarga, etc. Em relac?a?o a? cidade de modo geral, nos interessam espac?os como os bairros, as ruas, as
priso?es, os hospitais, os meios de transporte e de mobilidade, os espac?os que abrigam pessoal em situac?a?o de rua, os espac?os rituais, ciberespac?o, as esquinas, todos os lugares, enfim, que viveram suspenso?es, compresso?es e alargamentos no momento pande?mico e po?s-pande?mico. No que tange ao tempo, buscamos compreender como foi vivenciada a pandemia enquanto durac?a?o e como pra?tica temporal. Perdemos o tempo? Como construir o tempo das vidas e das relac?o?es nesse momento? Quais sa?o os impactos desse vazio de tempo em nossas vidas? Que mudanc?as vieram para ficar e quais podem ser restritas ao auge da crise sanita?ria, poli?tica e econo?mica que vivemos no Brasil? Nesse sentido, textos que abordem a di?ade tempo-espac?o conjunta ou isoladamente sa?o muito bem-vindos. Esperamos ana?lises que nos levem a diferentes espac?os e tempos, contextos e possibilidades de sua interpretac?a?o, inclusive para questionarmos tais categorias e debater ideias como a de casa, cidade, curso da vida, sau?de, trabalho, entre outras.
Prazo de envio dos manuscritos: 30 de setembro de 2023