Irreverência e tradição em uma orquestra de tango: a versão como transgressão
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2011v13n1-2p269Resumo
A apropriação de antigos temas musicais para elaborar novas canções é uma prática frequente tanto entre os artistas do Carnaval quanto entre os músicos de diversas cenas. Trate-se de versões que trazem uma nova letra para uma mesma música ou uma nova música para uma mesma letra, esses procedimentos contribuem na elaboração de sentidos de continuidade a partir da impermanência. Alguns artistas do Carnaval na região do Prata atribuem essa forma de composição à falta de formação acadêmica em música, em sintonia com os discursos de senso comum, que descrevem a murga como um gênero artisticamente menor. Mas como explicar essa forma de composição numa orquestra típica de tango (formato consagrado na história da música popular local e em que os músicos geralmente têm formação acadêmica em música)? A versão pode ser entendida nesse caso como um gesto irreverente em relação à concepção moderna em que a obra é uma entidade total e acabada em si mesma. As versões, especialmente, aquelas que traduzem músicas de um gênero para outro, podem ser pensadas como transgressões na medida em que desestabilizam os limites e as hierarquias que diferenciam gêneros e categorias sociais.
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