Como reatar a conversa com corpos desiguais
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2021.e75209Resumo
Neste artigo, discuto ambiente, percepção e comunicação a partir de uma visão sistêmica do organismo e de seus processos relacionais, em particular seu espaço de encontros coontogênicos, seguindo as coerências da Biologia do Conhecer. Para tanto, examino pressupostos das ciências cognitivas, em que concebemos a linguagem como capacidade específica do humano. Na abordagem da biologia que uso aqui, a linguagem é um fenômeno relacional e pertence ao domínio do comportamento, a história das relações que o organismo estabelece em um meio. No mesmo caminho explicativo, a percepção é gerada na observação dessa dinâmica de ações do organismo. Assumir esse ponto de partida biológico para falar de ambiente, percepção e comunicação (ou linguagem) pode nos ajudar, acredito, a refletir sobre as certezas ontológicas de nosso afazer científico, e suas consequências ao lidarmos com outros modos de vida, geradores de outros domínios de ação e de outros domínios explicativos, humanos ou não.Referências
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