A “imagem do povo”: representatividade e multiplicidade nas (cosmo)políticas Yanomami
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2022.e78752Resumo
O objetivo deste artigo é discutir as formas pelas quais os Yanomami de Maturacá (São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Noroeste da Amazônia Brasileira) (re)conhecem as ações das diferentes posições políticas locais: suas associações e os chefes ou “lideranças tradicionais”. A partir de etnografia sobre a participação desse grupo na elaboração de um projeto de turismo que envolve diversos agentes externos, a proposta, aqui, é tecer hipóteses e refletir sobre essas formas políticas como modos de relacionalidade específicos para o trato com o exterior em uma rede de relações interétnicas, quando a ideia de representatividade parece assumir um sentido próprio. Assim, pretendo indicar alguns caminhos possíveis para se pensar as conexões entre cosmopolítica e representatividade nesse contexto a partir do conceito yanomami de imagem, utupë.
Referências
ALBERT, Bruce.Temps du sang, temps des cendres: representation de la maladie, système rituel et espace politique chez les Yanomami du sud-est (Amazonie bresilienne). 1985. 852p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universite de Paris X, Paris, 1985.
ALBERT, Bruce. A fumaça do metal: história e representações do contato entre os Yanomami. Anuário Antropológico, Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 89, p. 151-189, 1992.
ALBERT, Bruce. O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza (Yanomami). In: ALBERT, Bruce; RAMOS, Alcida (org.). Pacificando o Branco: cosmologias do contato no Norte-Amazônico. São Paulo: Ed. UNESP, 2002. p. 239-274.
ALBERT, Bruce. Os Yanomami e a terra-floresta. In: RICARDO, Fany (org.). Terras Indígenas & Unidades de Conservação da natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004. p. 384-385.
ALBERT, Bruce. Yanomami: retour sur image(s). Fondation Cartier pour l’art contemporain, Fondation Cartier, Paris, v. 2, p. 237-248, 2014.
ALBERT, Bruce; LE TOURNEAU, François-Michel. Florestas Nacionais na Terra Indígena Yanomami – Um Cavalo de Troia Ambiental? In: RICARDO, Fany (org.). Terras Indígenas & Unidades de Conservação da natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004. p. 372-383.
ANDRELLO, Geraldo. Cidade do índio: transformações e cotidiano em Iauaretê. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura com aspas e outros ensaios, São Paulo: Ed. Ubu, 2017 [2009].
COUTINHO JÚNIOR, Walter. Yaripo: turismo, garimpo e agências do Estado na terra indígena Yanomami e no parque nacional Pico da Neblina. Inquéritos Civis Públicos n. 1.13.000.000686/2003-86 e n. 1.13.000.000692/2006-86. Laudo Antropológico elaborado para apurar a presença de turismo na Terra Indígena Yanomami e no Parque Nacional do Pico da Neblina. Manaus: Ministério Público Federal, Procuradoria da República no Amazonas, 2013.
FAUSTO, Carlos. Donos demais: maestria e domínio na Amazônia. Mana, Rio de Janeiro: UFRJ, v. 12, n. 2, p. 329-366, 2008.
FERREIRA, Maryelle I. M. “Mulheres Kumirãyõma”: uma etnografia da criação da Associação de Mulheres Yanomami. 2017. 207f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2017.
GALLOIS, Dominique T. Os Wajãpi em frente da sua cultura. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, Rio de Janeiro, v. 32, p. 110-129, 2005.
GODELIER, Maurice; STRATHERN, Marilyn (org.). Big men and great men: personifications of power in Melanesia. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
GOULART, Leon Terci. Os Yanonami e o Projeto Yaripo: transformações e turismo em Maturacá. 2020. 229f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2020.
IUBEL, Alice F. Gestão indígena na prefeitura de São Gabriel da Cachoeira: alianças, expectativas e transformações políticas. R@U: Revista de Antropologia da UFSCar, São Carlos, UFSCar, v. 7, n. 2, p. 79-97, 2015.
KELLY, Jose Antonio. Notas para uma teoria do “virar branco”. Mana, Rio de Janeiro, UFRJ, v. 11, n. 1, p. 201-234, 2005.
KELLY, Jose Antonio. On Yanomami cerimonial dialogues: a political aesthetic of metaphorical agency. Journal de la Société des Américanistes, Paris, Société des Américanistes, v. 103, n. 1, p. 179-214, 2017.
KOHN, Eduardo. How forests think: toward an anthropology beyond the human. Berkeley: University of California Press, 2013.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015 [2010].
LIMA, Tânia Stolze. O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi. Mana, Rio de Janeiro, UFRJ, v. 2, n. 2, p. 21-47, 1996.
MENEZES, Gustavo Hamilton. Yanomami na encruzilhada da conquista: Contato e Transformação na fronteira amazônica. 2010. 249f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2010.
RICARDO, Fany (org.). Terras Indígenas & Unidades de Conservação da natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004.
SMILJANIC, Maria Inês. Os enviados de Dom Bosco entre os Masiripiwëiteri: o impacto missionário sobre o sistema social e cultural dos Yanomami ocidentais. Journal de la Société des Américanistes, Paris, Société des Américanistes, v. 88, p. 137-158, 2002.
SMILJANIC, Maria Inês. À sombra do Pico da Neblina. In: RICARDO, Fany (org.), Terras Indígenas & Unidades de Conservação da natureza: o desafio das sobreposições. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004. p. 368-371.
STRATHERN, Marilyn. One man and many men. In: GODELIER, Maurice; STRATHERN, Marilyn (org.). Big men and great men: personifications of power in Melanesia. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. p. 197-214.
SZTUTMAN, Renato. O profeta e o principal: a ação política ameríndia e seus personagens. São Paulo: Edusp, 2012.
TAYLOR, Kenneth. A Geografia dos Espíritos: o xamanismo entre os Yanomami setentrionais. In: LANGDON, Esther-Jean (org.). Xamanismo no Brasil: novas perspectivas. Florianópolis: Ed. UFSC, 1996. p. 117-152.
VALENTIM, Marco Antônio. A sobrenatureza da catástrofe. Landa, Florianópolis: UFSC, v. 3, n. 1, p. 3-25, 2014.
VALENTIM, Marco Antônio. Extramundanidade e sobrenatureza: ensaios de ontologia infundamental. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, Rio de Janeiro, UFRJ, v. 2, n. 2, p. 115-144, 1996.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectival anthropology and the method of controlled equivocation. Tipití, [s.l.], v. 2, n. 1, p. 3-22, 2004.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Floresta de cristais: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos. Cadernos de Campo, São Paulo, USP, v. 14, n. 15, p. 319-338, 2006.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas Canibais. São Paulo: Cosac Naify, 2015 [2009].
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da alma selvagem e outros ensaios de Antropologia. São Paulo: Ed. Ubu, 2017 [2002].
WAGNER, Roy. The fractal person. In: GODELIER, Maurice; STRATHERN, Marilyn (org.). Big men and great men: personifications of power in Melanesia. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. p. 159-173.
WAGNER, Roy. Existem grupos sociais nas terras altas da Nova Guiné? Cadernos de Campo, São Paulo, USP, v. 19, n. 19, p. 237-257, 2010 [1974].
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Ilha Revista de Antropologia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os autores cedem à Ilha – Revista de Antropologia – ISSN 2175-8034 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição Não Comercial Compartilhar Igual (CC BY-NC-SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar igual.
