Incorporação Etnográfica: pesquisa, mediunidade e ontologia (re)flexível(iva)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2022.e80654Palavras-chave:
Atuação do psicólogo, Saúde da Família, Saúde PúblicaResumo
As reflexões sobre a mediunidade nas ciências sociais têm sido frequentemente construídas de forma
inconsistente. Parece que essa incoerência está ligada a uma convicção epistemo-metodológica, ou seja,
que a mediunidade é um “fenômeno” do “outro”, “nativo de cosmologias espiritualistas”. Em contraste,
o depoimento desse suposto “nativo” argumenta que o pesquisador também é médium, queira ou admita
ser, ou não. A relutância em aceitar esse princípio teocosmológico é também frequentemente motivada
pelas implicações do prestígio entre pares. Este artigo tenta abordar analiticamente um acontecimento
ocorrido em um trabalho de campo entre daimistas no final da década de 1980, quando incorporei uma
entidade. O artigo explora a analogia “médium-etnógrafo”, em particular abordando questões levantadas
desde uma alusão crítica à “formação” em antropologia e à experiência do que chamo “incorporação
etnográfica”. A partir de experiências como a abordada gradativamente, elaborei e comecei a conviver
com o que eu chamo de ontologia (re)flexível(va).
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