Incorporação Etnográfica: pesquisa, mediunidade e ontologia (re)flexível(iva)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2022.e80654

Palavras-chave:

Atuação do psicólogo, Saúde da Família, Saúde Pública

Resumo

As reflexões sobre a mediunidade nas ciências sociais têm sido frequentemente construídas de forma
inconsistente. Parece que essa incoerência está ligada a uma convicção epistemo-metodológica, ou seja,
que a mediunidade é um “fenômeno” do “outro”, “nativo de cosmologias espiritualistas”. Em contraste,
o depoimento desse suposto “nativo” argumenta que o pesquisador também é médium, queira ou admita
ser, ou não. A relutância em aceitar esse princípio teocosmológico é também frequentemente motivada
pelas implicações do prestígio entre pares. Este artigo tenta abordar analiticamente um acontecimento
ocorrido em um trabalho de campo entre daimistas no final da década de 1980, quando incorporei uma
entidade. O artigo explora a analogia “médium-etnógrafo”, em particular abordando questões levantadas
desde uma alusão crítica à “formação” em antropologia e à experiência do que chamo “incorporação
etnográfica”. A partir de experiências como a abordada gradativamente, elaborei e comecei a conviver
com o que eu chamo de ontologia (re)flexível(va).

Biografia do Autor

Alberto Groisman, Universidade Federal de Santa Catarina

Professor Titular Aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina, Pesquisador do Heal-Network
for the Ethnography of Healing e da Rede Espiritualidade, Saúde, Incorporação, Etnografia (INCT )
Brasil Plural.

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Publicado

2022-02-07

Como Citar

GROISMAN, Alberto. Incorporação Etnográfica: pesquisa, mediunidade e ontologia (re)flexível(iva). Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 68–94, 2022. DOI: 10.5007/2175-8034.2022.e80654. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/80654. Acesso em: 24 abr. 2024.

Edição

Seção

Ensino da Antropologia em contextos interdisciplinares e interculturais