Misturas e cortes entre drogas, medicamentos e corpos na feitura “EU”

Autores

  • Wander Wilson PROAD -UNIFESP

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2023.e85668

Palavras-chave:

Escolha, Responsabilidade, Drogas, Eu, Neoliberalismo

Resumo

Durante minha pesquisa de doutorado, realizei etnografia em dois ambulato?rios, vinculados a universidades da cidade de Sa?o Paulo, voltados para o atendimento a? depende?ncia de drogas. Nesses espac?os, foi comum encontrar alguns discursos que apontavam para um Eu unita?rio do ponto de vista de profissionais da sau?de. R., que frequentava um dos ambulato?rios para cuidar de sua depende?ncia de a?lcool, dizia que quando parava de beber ele na?o era ele mesmo, era outra pessoa, existia uma mutac?a?o do Eu pela variac?a?o relacional das misturas entre corpos. A partir desse primeiro problema, o artigo tenta trac?ar um percurso conectando as formas de distribuic?a?o da “unidade do eu”, pensando uma perspectiva relacional entre pra?ticas, discursos, medicamentos, drogas, manuais, pesquisas, poli?tica. Reflete-se sobre a separac?a?o entre drogas e medicamentos nesta produc?a?o, assim como cortes, separac?o?es e distribuic?a?o de escolhas e responsabilidades em um entrelac?amento com a histo?ria entendida como evoluc?a?o linear da espe?cie.

Biografia do Autor

Wander Wilson, PROAD -UNIFESP

Doutor em Ciências Sociais (área de concentração em Antropologia) pela PUC-SP. Trabalha como acolhedor e redutor de danos no Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente (PROAD – UNIFESP), onde também atua na formação de estagiários e ministra semestralmente o curso livre Antropologia Histórica das Drogas.

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Publicado

2023-01-19

Como Citar

WILSON, Wander. Misturas e cortes entre drogas, medicamentos e corpos na feitura “EU”. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 25, n. 1, p. 134–158, 2023. DOI: 10.5007/2175-8034.2023.e85668. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/85668. Acesso em: 26 abr. 2024.

Edição

Seção

Antropologias a partir dos medicamentos: co-produções, políticas e agenciamentos