“A cura começa no momento em que estou regando minhas sementes”: os medicamentos artesanais à base de maconha produzidos por pacientes da Fundação Daya - Chile
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2023.e85672Palavras-chave:
Ativismo, Associativismo Terapêutico, MedicamentosResumo
Neste artigo demonstro como os usos medicinais de cannabis têm sido viabilizados no Chile a partir da experiência da Fundação Daya, por meio do associativismo terapêutico. A pesquisa foi realizada com base na observação participante junto à associação durante seis meses, em entrevistas com membros da equipe e em pesquisa documental. Compreendo, a partir da pesquisa realizada, que as ações coletivas organizadas por ativistas, somadas à produção de evidências, e a organização desses grupos em associações canábicas têm incentivado o debate público acerca do tema e, consequentemente, a produção de conhecimento credenciado e não credenciado. Nesse processo, foram desenvolvidas controvérsias científicas e disputas epistemológicas por meio das quais novos saberes e práticas relacionadas à saúde são experienciados e difundidos. A partir da análise realizada, elucido o processo por meio do qual uma planta tem sido transformada em medicamento no Chile.
Referências
ADIALA, Júlio Cesar. Uma nova toxicomania, o vício de fumar maconha. In: MACRAE, Edward; ALVES, Wagner Coutinho. Fumo de Angola: canabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 85-102.
AKRICH, Madeleine; RABEHARISOA, Vololona. L’expertise profane danslesassociations de patients, unoutil de démocratiesanitaire. Santé Publique, [s.l.], v. 24, n. 1, p. 69-74, 2012.
BARBOSA, Luciana. Redes Canábicas no âmbito da saúde: usos medicinais de maconha, mobilização social e produção de conhecimento. 2021. 231f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, RJ, 2021.
BECKER, H. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
BOITEUX, Luciana Rodrigues. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do proibicionismo no sistema penal e na sociedade. 2006. 273f.Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
BONINI, Sara Anna et al. Cannabis sativa: a comprehensive ethnopharmacological review of a medicinal plant with a long history. Journal of ethnopharmacology, [s.l.], v. 227, p. 300- 315, 2018.
BORKMAN, Thomasina. Experiential knowledge: A new concept for the analysis of self-help groups. Social Service Review, [s.l.], v. 50, n. 3, p. 445-456, 1976.
CARNEIRO, Henrique. Drogas: a história do proibicionismo. São Paulo: Autonomia Literária, 2018.
CARNEIRO. Amores e sonhos da flora: afrodisíacos e alucinógenos na botânica e na farmácia. São Paulo: Xamã, 2002.
CEFAÏ, Daniel et al. (org.). Arenas Públicas: por uma etnografia da vida associativa. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2011.
DEVIENNE, K. F.; RADDI, M. S. G.; POZZETI, G. L. Das plantas medicinais aos fitofármacos. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v. 6, 2004.
DOCUMENTO de posición del Colegio Médico de Chile sobre el proyecto de ley que modifica el código sanitario para incorporar y regular el uso medicinal de productos derivados de cannabis. 2019. Disponível em: https://www.colegiomedico.cl/wp-content/uploads/2019/06/ documento_cultivo_seguro.pdf. Acesso em: 16 nov. 2022.
DUARTE, D. F. Uma Breve História do Ópio e dos Opioides. Revista Brasileira Anestesiol, [s.l.], 2005.
EPSTEIN, Steven. The construction of lay expertise: AIDS activism and the forging of credibility in the reform of clinical trials. Science, Technology, & Human Values, [s.l.], v. 20, n. 4, p. 408-437, 1995.
ESCOHOTADO, Antonio. Historia General de las Drogas. Madrid: Alianza Editorial, 1998. FELDMAN, Harvey W.; MANDEL, Jerry. Providing medical marijuana: The importance of cannabis clubs. Journal of Psychoactive Drugs, [s.l.], v. 30, n. 2, p. 179-186, 1998.
FIORE, Maurício. A medicalização da questão do uso de “drogas” no Brasil: reflexões acerca de debates institucionais e jurídicos. In: VENÂNCIO, R.; CARNEIRO, H. (org.). Álcool e Drogas na História do Brasil. São Paulo: Alameda Editorial, 2005. p. 257-290.
FIORE, Maurício. Escolhas morais e evidências científicas no debate sobre política de drogas. Boletim de Análise Institucional. 2018. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/ handle/11058/8879. Acesso em: 22 nov. 2022
GARCÍA, E.; SANCHÉZ, J. Una revisión histórica sobre los usos del cannabis y su regulación as historical review among cannabis use and regulation. Salud y Drogas, [s.l.], v. 6, n. 1, 2006.
HENMAN, Anthony Richard. A guerra às drogas é uma guerra etnocida. In: MCRAE, Edward; COUTINHO, Wagner (org.). Fumo de Angola: cannabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. Salvador: UFBA, 2016. p. 319-343.
IBÁÑEZ, Marcelo. Un viaje fantástico: breve história de la marihuana em Chile y el mundo. Santiago: Editora Planeta Chilena S.A., 2018.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Papirus Editora, 1989.
LIMA, Maria Angelica de Faria Domingues de; GILBERT, Ana Cristina Bohrer; HOROVITZ, Dafne DainGandelman. Redes de tratamento e as associações de pacientes com doenças raras. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 23, p. 3.247-3.256, 2018.
MCRAE, Edward. Cannabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. In: MCRAE, Edward; ALVES, Wagner (org.). Fumo de Angola: cannabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 23-58.
MECHOULAM, Raphael; PARKER, Linda A. The endocannabinoid system and the brain. Annu Rev. Psychol., [s.l.], v. 64, n. 1, p. 21-47, 2013.
MOREIRA, Martha Cristina Nunes et al. Quando ser raro se torna um valor: o ativismo político por direitos das pessoas com doenças raras no Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 34, p. e00058017, 2018.
RABEHARISOA, V. Experience, Knowledge and Empowerment: The Increasing Role of Patient Organizations in Staging, Weighting and Circulating Experience and Knowledge. In: AKRICH, M.; NUNES, J. (org.). The dynamics of patient organizations in Europe. Presses des Mines via OpenEdition, 2013.
RABEHARISOA, Vololona; MOREIRA, Tiago; AKRICH, Madeleine. Evidence-based activism: Patients’, users’ and activists’ groups in knowledge society. BioSocieties, v. 9, p. 111-128, 2014.
RABINOW, Paul. Antropologia da razão: ensaios de Paul Rabinow. Relume Dumará. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.
REBOLLEDO, Mauricio Becerra. Surgimiento de organizaciones de pacientes por el cannabis medicinal en chile: delimitación del campo científico, monopolio de la enunciación e injusticia epistémica. Temáticas, Campinas, 2020.
RUBIN, Vera. Introduction. In: RUBIN, Vera (org.). Cannabis and Culture: World Anthropology. Haia: Mouton, 1975. p. 1-10.
STRAUSS, Anselm L. Espelhos e máscaras: a busca de identidade. São Paulo: Edusp, 1999. TORCATO, Carlos Eduardo. A história das drogas e sua proibição no Brasil: da Colônia à República. 2016. 371f. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.
VARGAS, Eduardo Viana. Entre a extensão e a intensidade: corporalidade, subjetivação e uso de drogas. 2001. 600p. Tese (Doutorado em Ciências Humanas: Sociologia e Política) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
VARGAS, Eduardo Viana. Fármacos e outros objetos sócio-técnicos: notas ara uma genealogia das drogas. In: LABATE, B. et al. (org.). Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008. p. 41-64.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Ilha Revista de Antropologia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os autores cedem à Ilha – Revista de Antropologia – ISSN 2175-8034 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição Não Comercial Compartilhar Igual (CC BY-NC-SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar igual.
