Paisagens, histórias e ecologias mais que humanas do gado ao longo dos campos na Amazônia Marajoara

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2023.e94144

Palavras-chave:

Proliferações ferais, Simplificações ecológicas, Paisagens multiespécie, Ilha de Marajó, Amazônia

Resumo

O presente artigo aborda os efeitos da introduc?a?o do gado vacum e cavalar ao longo das paisagens dos campos na Ilha de Marajo? a partir das relac?o?es ecolo?gicas envolvendo o extermi?nio de milhares de jacare?s e a proliferac?a?o de uma doenc?a que afetou o rebanho de cavalos ao longo do tempo. Dessa forma, a ideia foi contar tre?s histo?rias mais que humanas de simplificac?o?es ecolo?gicas e de proliferac?o?es ferais relacionadas ao gado que constituem perturbac?o?es nas paisagens locais: 1a) a introduc?a?o, a formac?a?o e o asselvajamento do gado vacum e cavalar na ilha; 2a) a proliferac?a?o feral de uma doenc?a que dizimou o rebanho cavalar; e 3a) o extermi?nio de milhares de jacare?s-ac?us com o intuito de promover o desenvolvimento da indu?stria pastoril marajoara. Por fim, conclui-se que a criac?a?o do gado como animal do Antropoceno esta? relacionada a alterac?o?es ecolo?gicas multiespeci?ficas dentro do projeto de colonizac?a?o e de habitac?a?o da Amazo?nia marajoara que foge ao controle e ao domi?nio humano sobre a natureza.

Biografia do Autor

Matheus Henrique Pereira da Silva, Universidade Federal de São Carlos

Doutorando em Antropologia Social (PPGAS-UFSCar). Bolsista de Doutorado FAPESP, Processo: 2021/04496-7.

Referências

ABREU, Capistrano. Capítulos da história colonial. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social, 2009.

BAENA, Antônio. Compêndio das eras da Província do Pará. Belém: UFPA, 1969.

BALÉE, William. Cultural Forests of the Amazon: A Historical Ecology of People and Their Landscapes. Tuscaloosa: University of Alabama Press, 2013.

BARATA, Manoel. Formação histórica do Pará: obras reunidas. Belém: UFPA, 1973. BARROSO, Antonio Emilio Vieira. Marajó: Estudo etnográfico, geológico, histórico sobre a grandiosa ilha da foz do Amazonas. [S.l.]: Companhia Editôra Americana, 1954.

BOIVIN, Nicole. Human and human-mediated species dispersals through time: introduction and overview. In: BOIVIN, N.; CRASSARD, R.; PETRAGLIA, M. (ed.). Humans dispersals and species movement: from prehistory to the present. Cambridge: Cambridge University Press, 2017. p. 3-26.

CHAKRABARTY, Dipesh. The climate of history: Four theses. Critical Inquiry, [s.l.], v. 35, n. 2, p. 197-222, 2009.

CORBIN, Alain. Saberes e Odores. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

DIAS, Joel Santos. “Confuso e intrincado labirinto”: fronteira, território e poder na ilha grande de Joanes (séculos XVII e XVIII). 2016. 622f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2016.

DERBY, Orville A. The artificial mounds of the island of Marajó, Brazil. The American Naturalist, [s.l.], v. 13, n. 4, p. 224-229, 1879.

DERBY, Orville A. A ilha de Marajó. Boletim do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia, [s.l.], 1898.

FERREIRA PENNA, Domingos Soares. Obras completas. Vol. I. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1973. v. I.

FERRÃO, Euzalina da Silva. Vaqueiros, compadres, criadores de gado e transformações nos campos do Marajó: relações sociais em mudança. 2016. 236f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2016.

FICEK, Rosa. Cattle, capital, colonization: tracking creatures of the Anthropocene in and out of human projects. Current Anthropology, [s.l.], v. 60, n. S20, p. S260-S271, 2019.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

GOELDI, Emílio Augusto. Maravilhas da natureza: na Ilha de Marajó (Rio Amazonas). Boletim do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia (Museu Goeldi), [s.l.], p. 370-399, 1902.

HARAWAY, Donna. When species meet. Minnesota: University of Minnesota Press, 2008. HARRIS, Mark. Life on the Amazon: the anthropology of a Brazilian peasant village. New York: Oxford University Press, 2000.

HERBETH, Fabrício. No país das carnes verdes: abastecimento, importação e os discursos de declínio da indústria pastoril marajoara no limiar do século XX. Revista de Estudos Amazônicos, [s.l.], v. 6, n. 1, p. 203-243, 2011.

HEVIA, James. Surra and the emergence of Tropical Veterinary Medicine in Colonial Indian. In: HEVIA, James. (org.) Animal Labor and Colonial Warfare. Chicago: University of Chicago Press, 2018. p. 218-249.

INGOLD, Tim. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. [S.l.]: Psychology Press, 2000.

JANSEN, Geth. Contribuição ao estudo do mal de cadeiras na Ilha de Marajó. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 36, p. 347-362, 1941.

KAWA, Nicholas. Amazonia in the Anthropocene: people, soils, plants, forests. Texas: University of Texas Press, 2016.

KECK, Frédéric. Avian reservoirs: virus hunters and birdwatchers in Chinese sentinel posts. Durham: Duke University Press, 2020.

KECK, Frédéric; KELLY, Ann H.; LYNTERIS, Christos. Introduction: the anthropology of epidemics. In: KELLY, Ann; KECK, Frédéric; LYNTERIS, Christos (org.). The anthropology of epidemics. London: Routledge, 2019. p. 1-24.

KIRKSEY, Eben; HELMREICH, Stefan. The emergence of multispecies ethnography. Cultural Anthropology, [s.l.], v. 25, n. 4, p. 545-576, 2010.

LACERDA, João Batista. Pathogenesia Comparada: Peste de Cadeiras Ou Epizootia de Marajó, Suas Analogias Com o Beriberi. Rio de Janeiro: Lombaerts & Companhia, 1885.

LE COINTE, Paul. O estado do Pará: a terra, a água e o ar: a fauna e a flora, mineraes. Brasiliana, [s.l.], 1945.

LIMA, Eli de Fátima Napoleão de. Extrativismo e produção de alimentos: Belém e o “núcleo subsidiário” de Marajó, 1850/1920. Estudos Sociedade e Agricultura, [s.l.], v. 7, p. 59-89, 1996.

LISBOA, Pedro Luiz Braga. A terra dos Aruã: uma história ecológica do arquipélago do Marajó. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2012.

LUTZ, Adolph. Estudos e observações sobre o quebrabunda ou peste de cadeiras. In: BENCHIMOL, Jaime L.; SÁ, Magali Romero, (orgs.). Adolpho Lutz: Viagens por terra de bichos e homens. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007. v. 3. p. 83-100.

MARAJÓ, Barão de. As regiões amazônicas, estudos chorographicos dos estados do Gran Para e Amazonas. Lisboa: [s.n.], 1895.

MEDRADO, Joana. Terra de vaqueiros: relações de trabalho e cultura política no Sertão da Bahia, 1880-1900. Campinas: Editora da Unicamp, 2012.

MIRANDA, Vicente Chermont de. Glossario paraense: ou, Collecção de vocabulos peculiares á Amazonia e especialmente á ilha do Marajó. Belém: Livraria maranhense, 1906.

MIRANDA, Vicente Chermont de. Marajó: estudos sobre seu solo, seus animaes e suas plantas, 1894.

MIRANDA, Vicente Chermont de. Os campos de Marajó e a sua flora considerados sob o ponto de vista pastoril. [S.l.: s.n.], 1907.

MIRANDA NETO, Manoel José de. Marajó: desafio da Amazônia, aspectos da reação a modelos exógenos de desenvolvimento. Rio de Janeiro: Record, 1976.

MOORE, Jason. Capitalism in the web of life: ecology and the accumulation of capital. London: Verso, 2015.

NUNES PEREIRA, Manuel. A ilha de Marajó: estudo econômico-social. Rio de Janeiro: Divisão de Caças; Serviço de Informação Agrícola, 1956.

PACHECO, Agenor Sarraf. En el Corazón de la Amazonía: identidades, saberes e religiosidades no regime das águas marajoara. 2009. 356f. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2009.

PACHECO, Agenor Sarraf; CUTRIM, Haney Lemos. Marajoaras na Belle Époque: história, patrimônios e condições de vida. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, [s.l.], v. 1, n. 2, p. 157-175, 2014.

PARÁ. Álbum do Estado do Pará (Governador 1901-1909: A. Montenegro). Paris: Chaponet, 1908.

PARÁ. Ilha de Marajó, Caçada de Jacarés – Cartão Postal antigo original, n. 1, editado por Allemã, não circulado. [2015]. Mede 14x9 cm. Disponível em: https://www. rmgouvealeiloes.com.br/peca.asp?ID=1282220&ctd=111. Acesso em: 2 jul. 2023.

SALLES, Vicente. O Negro no Pará: sob o regime da escravidão. 2. ed. Brasília, DF; Belém: Ministério da Cultura; Secretaria de Estado da Cultura; Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, 1988.

SOARES, Eliane Cristina Lopes. Roceiros e “Vaqueiros” na Ilha Grande de Joanes no Período Colonial. 2002. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.

SOARES, Lúcio de Castro. Tipos e aspectos do Brasil. IBGE: Rio de Janeiro, 1966. TSING, Anna. The Mushroom at the End of the World: on the Possibility of Life in Capitalist Ruins. Princeton: Princeton University Press, 2015.

TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília, DF: IEB Mil Folhas, 2019.

TSING, Anna; MATHEWS, Andrew; BUBANDT, Nils. Patchy Anthropocene: landscape structure, multispecies history, and the retooling of anthropology: an introduction to supplement 20. Current Anthropology, [s.l.], v. 60, n. S20, p. S186-S197, 2019.

VAN DOOREN, Thom; KIRKSEY, Eben; MÜNSTER, Ursula. Multispecies Studies Cultivating Arts of Attentiveness. Environmental Humanities, [s.l.], v. 8, n. 1, p. 1-23, 2016.

VANDER VELDEN, Felipe Ferreira. O que anunciam os chifres dos bois? Artefatos multiespecíficos na expansão da pecuária no Brasil. Anthropológicas, [s.l.], v. 31, p. 67-104, 2020.

VANDER VELDEN, Felipe; SILVEIRA, Flávio da. Humanos e outros que humanos em paisagens multiespecíficas. Revista Ñanduty, [s.l.], v. 9, n. 13, p. 1-18, 2021.

VITERBO, Frei Joaquim de Santa Rosa de. Elucidário das palavras, termos e frases, que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram. Lisboa: Tipografia Régia Silviana, 1799.

WALLACE, Alfred. Viagens pelo Amazonas e rio Negro. Brasília, DF: Senado Federal, 2004.

Downloads

Publicado

2023-09-23

Como Citar

PEREIRA DA SILVA, Matheus Henrique. Paisagens, histórias e ecologias mais que humanas do gado ao longo dos campos na Amazônia Marajoara. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 25, n. 3, 2023. DOI: 10.5007/2175-8034.2023.e94144. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/94144. Acesso em: 10 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos