A dança como gesto de escuta: estratégias pedagógicas em um curso universitário durante a pandemia da Covid-19

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2024.e96500

Palavras-chave:

Escuta, Corpo, Saber, Ensino da dança, Pandemia

Resumo

Este artigo faz uma reflexão sobre as estratégias pedagógicas criadas para sustentar a relação entre professores e estudantes, destes com seus corpos e de seus corpos com o mundo, num curso universitário de dança que, assim como tantos, entre 2020 e 2022, precisou interromper as atividades presenciais devido à pandemia da Covid-19. Mais do que sobre pausas ou suspensões, queremos chamar atenção para a natureza dos movimentos possíveis, sobretudo aqueles relacionados à escuta. Se a tecnologia permitiu uma experiência de hipervisualização e de hiperexposição, por meio de câmeras que exibiam aquilo de que éramos privados no contato físico, pouco se falou sobre a escuta. As audioaulas, no caso, possibilitaram a criação de um espaço comum e íntimo, simultaneamente. A preocupação sobre como os sentidos do corpo podem ser abalados pela dimensão da catástrofe apontou para a importância da escuta na pesquisa antropológica e para os desafios da compreensão de um mundo pós-pandêmico.

Biografia do Autor

Maria Acselrad, UFPE

Professora adjunta do Departamento de Artes, da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE. Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós- Graduação em Sociologia e Antropologia do PPGSA-UFRJ. Atua nas áreas de antropologia do corpo, da dança e da performance. Coordena o grupo Pisada: pesquisas interdisciplinares em dança e antropologia. Autora dos livros Viva Pareia! corpo, dança e brincadeira no cavalo-marinho de Pernambuco, publicado pela EdUFPE em 2013, e Avança Caboclo! A dança contra o Estado dos caboclinhos de Pernambuco, publicado pela EdUFPE em 2022.

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Publicado

2025-02-06

Como Citar

ACSELRAD, Maria. A dança como gesto de escuta: estratégias pedagógicas em um curso universitário durante a pandemia da Covid-19. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 26, n. 3, p. 107–123, 2025. DOI: 10.5007/2175-8034.2024.e96500. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/96500. Acesso em: 12 dez. 2025.

Edição

Seção

Cronotopos pandêmicos: aproximações e leituras antropológicas sobre tempo e espaço durante e após a Covid-19