Das agriculturas holocênicas ao controle colonial da plantation: as (r)existências das sementes crioulas
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2024.e98184Palavras-chave:
Relações multiespécie, Colonialismo, Ciência Moderna, Revolução Verde, Antropoceno/PlantationcenoResumo
Este ensaio propõe seguir as sementes que são parte fundante da constituição da vida no planeta e da composição das agriculturas holocênicas. Argumenta-se que as agriculturas foram profundamente alteradas com o colonialismo e a imposição da plantation, processo que foi ampliado em meados do século XX e teve consequências devastadoras. Desse modo, a emergência do Antropoceno – nomeação que remete às alterações geológicas provocadas pelo avanço do extrativismo colonial de florestas, minérios e monoculturas, reduziu, enormemente, a sociobiodiversidade da Terra. Os conhecimentos de coletivos indígenas, quilombolas, camponeses, entre outros, também foram erodidos em nome de uma racionalidade moderna colonial que se impôs violentamente sobre esses povos. Em contraposição, é possível identificar formas de (r)existências que criam ressurgências por meio de socialidades multiespécies. Nesse sentido, a análise que apresentamos é inspirada em duas etnografias realizadas com sementes crioulas, uma no Nordeste e outra no Sul do Brasil.
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