Das agriculturas holocênicas ao controle colonial da plantation: as (r)existências das sementes crioulas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2024.e98184

Palavras-chave:

Relações multiespécie, Colonialismo, Ciência Moderna, Revolução Verde, Antropoceno/Plantationceno

Resumo

Este ensaio propõe seguir as sementes que são parte fundante da constituição da vida no planeta e da composição das agriculturas holocênicas. Argumenta-se que as agriculturas foram profundamente alteradas com o colonialismo e a imposição da plantation, processo que foi ampliado em meados do século XX e teve consequências devastadoras. Desse modo, a emergência do Antropoceno – nomeação que remete às alterações geológicas provocadas pelo avanço do extrativismo colonial de florestas, minérios e monoculturas, reduziu, enormemente, a sociobiodiversidade da Terra. Os conhecimentos de coletivos indígenas, quilombolas, camponeses, entre outros, também foram erodidos em nome de uma racionalidade moderna colonial que se impôs violentamente sobre esses povos. Em contraposição, é possível identificar formas de (r)existências que criam ressurgências por meio de socialidades multiespécies. Nesse sentido, a análise que apresentamos é inspirada em duas etnografias realizadas com sementes crioulas, uma no Nordeste e outra no Sul do Brasil.

Biografia do Autor

Josiane Carine Wedig, UTFPR

Licenciada e Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR-UFRGS). Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA-UFRRJ) e doutorado-sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Pós-doutora em Sociología na Universidad Autónoma Metropolitana do México (UAM) e em Antropologia Social na Universidade Estadual de Campinas (PPGAS- Unicamp). Professora de Sociologia do Departamento de Ciências Humanas e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Helena Rodrigues Lopes, Fiocruz

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Mestra e Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA-UFRRJ). É pesquisadora visitante na University of Natural Resources and Life Sciences (Boku University), em Viena, Áustria. Trabalha na Agenda de Saúde e Agroecologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e integra a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

Brendo Henrique da Silva Costa, UFV

Engenheiro Agrônomo e Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Câmpus Pato Branco, atualmente doutorando em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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Publicado

2025-02-06

Como Citar

WEDIG, Josiane Carine; LOPES, Helena Rodrigues; COSTA, Brendo Henrique da Silva. Das agriculturas holocênicas ao controle colonial da plantation: as (r)existências das sementes crioulas. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 26, n. 3, p. 161–182, 2025. DOI: 10.5007/2175-8034.2024.e98184. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/98184. Acesso em: 2 abr. 2025.

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