O subalterno e o discurso como resistência: uma dupla subalternidade, pobre e preso
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2015v20n1p32Resumo
O presente artigo analisa Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes, que, por ter sido produzida sobre a experiência de cárcere, se coloca na condição de literatura testemunhal e seu autor assume uma condição de subalterno.A construção da obra se dá através de recursos de memória e se enquadra naquilo que se convenciona chamar de literatura de testemunho. Sendo, portanto, obra literária propícia aos estudos da memória e da sociologia, pois conserva em si, além da própria característica literária, inúmeras outras possibilidades interpretativas. A obra traz elementos da memória e da história de vida do próprio autor, narrando os momentos críticos vivenciados por ele na infância, sufocada pelo pai, na adolescência, enclausurado nos reformatórios, e sua fase adulta, já num presídio de São Paulo. Momentos de fortes relações de subalternidades. Abordaremos nuanças da memória e da subalternidade, adotando uma nova nomenclatura: a dupla subalternidade, por se tratar de um escritor pobre, portanto subalterno na condição de preso, ou seja, duplo subalterno. O presente estudo abordará ainda a resistência ao discurso dominante através do testemunho de um escritor preso. Trago questões sobre a multidão e o que o preso representa dentre os muitos na construção do espaço e do discurso. Portanto, tenta-se adequar o conceito de obra literária produzida na prisão com o conceito de literatura de multidão. Escrita de muitos. Posicionamento e reposicionamento do subalterno no campo literário.
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