Literatura e políticas educacionais: uma abordagem social a partir do conto "Caminhão de Arroz" de Bernardo Élis
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2019v24n2p177Resumo
O objetivo deste trabalho é perceber no conto Caminhão de Arroz, publicado em 1962, na coletânea de contos Ermos e Gerais, de Bernardo Élis, escritor renomado de Goiás, possibilidades de letramento literário que pode propiciar ao leitor uma reflexão epistemológica sobre si e sobre o meio social. Além disso, demonstrar a necessidade de pensar sobre o ensino de literatura no sistema educacional atual, uma vez que a literatura deve ser voltada para o processo de humanização do ser humano (CÂNDIDO, 1995). A análise se refere especificamente a um estudo sociológico confrontada com objeto da pesquisa: o conto. A narrativa envolve uma personagem que busca na cidade de Anápolis-GO a irmã desparecida. Ela é uma sertaneja e em sua primeira aparição está na carroceria de um caminhão com uma carga de arroz, as pessoas da cidade confundem a protagonista com uma das sacas e totalmente desajeitada desembarca procurando informação a respeito de sua parente que não vê por muito tempo. Há em sua busca frustrada o sofrimento com zombarias e desprezo das pessoas da cidade e, ainda, a personagem sente tristeza e amargura por se ver em um enorme espelho e não conseguir se reconhecer nele. A trama aponta uma reflexão em relação ao confronto meio rural e cidade e a à disparidade social marcante da história de Goiás, configurada pela forma de menosprezo de como se dão as relações entre os citadinos e os ‘roceiros’. Por fim, a obra assume um caráter universal dada a angústia social da personagem que acaba por representar o ser humano de uma forma geral. Tais observações são pressupostos para a contextualização do ensino de literatura na atualidade.
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