A orelha de Van Gogh: Rosie e a alternativa ciborgue em “Os Jetsons”

Autores

  • João Luiz Peçanha Couto Universidade Federal Fluminense (doutorando em Estudos Literários); CNPQ (bolsista); Faculdades Integradas Vianna Junior (Professor titular). http://orcid.org/0000-0002-8470-6419

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2015v20n1p165

Resumo

Desprovidos de sua história, e vendo-a ser resgatada somente a partir da segunda metade do XX por conta do crescimento dos movimentos dos direitos das minorias, tanto mulheres quanto afro-americanos (e outras minorias esquematicamente não tratadas aqui) ainda encontram dificuldades e demandam esforços de compreensão para atuarem e se situarem de modo politicamente ativo na pós-modernidade. Quando algo ou alguém concentra aqueles memoriais de exclusão (mulher e negra), acrescidos de uma não-humanidade, pode ser considerado exemplarmente um “outro” extremo. Rosie encarnaria, portanto, um inconsciente norte-americano idealizador do migrante terceiromundista: um “outro” sem texto, sem fala, sem história ou cultura. Nesse sentido, sua ontologia está intimamente ligada à sua inserção política relativa àquela sociedade – subalterna (SPIVAK, 1988), periférica e alternativa. Ao mesmo tempo aguilhoada simbolicamente a um passado escravocrata e a um presente de preconceitos latentes [a imagem da Black Mammy (KOWALSKI, 2009) é sintomática dessa trajetória e igualmente será aqui tratada] e a dívidas sociais não pagas, aponta para um futuro possível de convergências alternativas, tanto raciais e éticas quanto (bio) políticas. Seu poder e sua fraqueza dividem o mesmo espaço. Assim como as literaturas entendidas como periféricas ou de fronteira constantemente geram excessos em que a geografia se funde e se conflitua com a ontologia, com as subjetividades postas em xeque, tendo o devir histórico como pano de fundo, poderemos compreender que Rosie figura como um tipo de anti-Barbie mecatrônica. Assim, a partir da personagem Rosie, a doméstica-robô da série televisiva Os Jetsons, o artigo apresenta reflexões sobre os embates do sujeito periférico (porque não-masculino, não-branco, não-culto e não-humano) inserido na modernidade. Ao articular conceitos como os de ciborgue e subalternidade, e estereótipos como o da black Mammy, buscará entrever a presença de uma contradiscursividade hegemônica encarnada por Rosie, biotipicamente identificada com o padrão negroide e compreendida como desprovida do direito a uma história nacional, a um mito fundador e a uma forma de narrar o próprio passado. Desse ponto de vista, Rosie emerge como representante das modernidades alternativas presentes no seio do projeto de modernidade.

Biografia do Autor

João Luiz Peçanha Couto, Universidade Federal Fluminense (doutorando em Estudos Literários); CNPQ (bolsista); Faculdades Integradas Vianna Junior (Professor titular).

Doutorando em Literatura Comparada (UFF), Mestre em Literatura (Estudos Comparados) pela Universidade de São Paulo (USP) e licenciado em Letras (Português e Inglês). Tem experiência em pesquisa e docência nas áreas de Literatura, Língua Portuguesa e Metodologia Científica. Foi professor de Língua Portuguesa na Educação Básica e é professor de Português e de Metodologia Científica no Ensino Superior - Faculdades Integradas Vianna Junior. Membro dos Grupos de Pesquisa "Aprendizagem em Rede - GRUPAR", da UFJF, e "Identidades em trânsito: estéticas transnacionais", da Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor de livros de literatura, dentre eles "Satie manda lembranças". Seu texto teatral "O pacote" recebeu prêmio nacional de dramaturgia pela Fundação Cultural da Bahia. Pesquisador, atua sobretudo nos seguintes temas: literaturas contemporâneas periféricas, modernidades alternativas pós-coloniais, literatura africana em língua portuguesa, espaços precários da pós-modernidade, filosofia e cinema em diálogo com a literatura. (retirado da Plataforma Lattes)

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Publicado

2015-05-21

Como Citar

COUTO, João Luiz Peçanha. A orelha de Van Gogh: Rosie e a alternativa ciborgue em “Os Jetsons”. Anuário de Literatura, [S. l.], v. 20, n. 1, p. 165–180, 2015. DOI: 10.5007/2175-7917.2015v20n1p165. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-7917.2015v20n1p165. Acesso em: 6 dez. 2024.

Edição

Seção

Seção Temática Estudos Subalternos