A orelha de Van Gogh: Rosie e a alternativa ciborgue em “Os Jetsons”
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2015v20n1p165Resumen
Desprovidos de sua história, e vendo-a ser resgatada somente a partir da segunda metade do XX por conta do crescimento dos movimentos dos direitos das minorias, tanto mulheres quanto afro-americanos (e outras minorias esquematicamente não tratadas aqui) ainda encontram dificuldades e demandam esforços de compreensão para atuarem e se situarem de modo politicamente ativo na pós-modernidade. Quando algo ou alguém concentra aqueles memoriais de exclusão (mulher e negra), acrescidos de uma não-humanidade, pode ser considerado exemplarmente um “outro” extremo. Rosie encarnaria, portanto, um inconsciente norte-americano idealizador do migrante terceiromundista: um “outro” sem texto, sem fala, sem história ou cultura. Nesse sentido, sua ontologia está intimamente ligada à sua inserção política relativa àquela sociedade – subalterna (SPIVAK, 1988), periférica e alternativa. Ao mesmo tempo aguilhoada simbolicamente a um passado escravocrata e a um presente de preconceitos latentes [a imagem da Black Mammy (KOWALSKI, 2009) é sintomática dessa trajetória e igualmente será aqui tratada] e a dívidas sociais não pagas, aponta para um futuro possível de convergências alternativas, tanto raciais e éticas quanto (bio) políticas. Seu poder e sua fraqueza dividem o mesmo espaço. Assim como as literaturas entendidas como periféricas ou de fronteira constantemente geram excessos em que a geografia se funde e se conflitua com a ontologia, com as subjetividades postas em xeque, tendo o devir histórico como pano de fundo, poderemos compreender que Rosie figura como um tipo de anti-Barbie mecatrônica. Assim, a partir da personagem Rosie, a doméstica-robô da série televisiva Os Jetsons, o artigo apresenta reflexões sobre os embates do sujeito periférico (porque não-masculino, não-branco, não-culto e não-humano) inserido na modernidade. Ao articular conceitos como os de ciborgue e subalternidade, e estereótipos como o da black Mammy, buscará entrever a presença de uma contradiscursividade hegemônica encarnada por Rosie, biotipicamente identificada com o padrão negroide e compreendida como desprovida do direito a uma história nacional, a um mito fundador e a uma forma de narrar o próprio passado. Desse ponto de vista, Rosie emerge como representante das modernidades alternativas presentes no seio do projeto de modernidade.
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