O retorno do Messias: ele está de volta e o fascismo eterno
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021e79887Resumo
Em 2012, quando a recessão democrática mundial ainda estava apenas em seu sexto ano consecutivo de acordo com os índices da Freedom House, Timur Vermes publicou o best-seller Ele está de volta. Rapidamente transformado em filme, o absurdo da sátira política de Vermes beira o kafkiano: Hitler retorna dos mortos. É tomado levianamente como um ator fascinante, por nunca quebrar seu papel, e de forma gradual ascende novamente à política. Flexionando as fronteiras entre o real da política e o real da literatura, bem como entre o humor e o horror, Ele está de volta explora, cruamente, a possibilidade do fascismo retornar e a perigosa negação do fenômeno. Esse artigo irá colocar uma base teórica sobre o conceito de fascismo – entendendo-o como conceito político genérico, portanto passível de deslocamento para além de sua manifestação original – em diálogo com a ficção de Vermes, tornando possível, no processo, perceber não apenas aparições de traços do fascismo na ficção, mas também de suas manifestações contemporâneas. Assim, espera-se contribuir para o estado da arte ao incrementar a compreensão de um conceito polissêmico, bem como alertar para o perigo de acreditar que o fascismo morreu com a morte de Hitler em 1945. Pois, como Vermes mostra, um Hitler sempre pode estar de volta.
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