Plurissignificativo provocador: as estratégias do ethos fingidor de Ana Cristina Cesar e as intervenções do leitor

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2024.e93974

Palavras-chave:

Poética, Atos de fingir, Leitor, Ana Cristina Cesar

Resumo

A obra literária de Ana Cristina Cesar se constitui como uma experiência artística ousada, complexa e bem calculada. Seus textos, marcados pela estrutura fragmentada, estanque e muitas vezes elíptica, cuja linguagem combina o repertório discursivo da missiva, do diário e da confissão, exigem, mais do que emoção, uma intervenção do leitor. Um dos fatores que justificam semelhante atuação parece ser o desvelar-velando-se dos vários eus poéticos criados por Ana Cristina Cesar, situados numa poesia prosaica atravessada pelos dilemas dos anos de chumbo. Para iniciarmos nossas considerações a propósito das estratégias criativas de Ana Cristina Cesar, tendo como recorte de análise alguns poemas presentes na pasta rosa encontrada após sua morte e nos quatro livros que constituem o volume A teus pés (1982), lançamos mão das reflexões de Roland Barthes e Michel Foucault, o primeiro entendendo o ato de escrever como algo intransitivo, sem a exigência de um motivo e uma técnica apropriados para um determinado tipo de texto, sendo o escritor qualquer um que escreve – e não mais aquele que escreve alguma coisa; o segundo, qualificando o autor como uma função no texto. Assim, conduzidos também pela teoria de Wolfgang Iser sobre os atos de fingir e o papel do leitor enquanto fruidor, tanto quanto pelas pesquisas de Italo Moriconi, Tânia Cardoso de Cardoso e Silviano Santiago acerca da literatura de Ana Cristina Cesar, procuramos verificar o modo como a poeta elabora seu ethos “fingidor”, que dissimula questionar a pretensa sofisticação da linguagem poética em prol da constituição de uma poesia não-poesia, visando entender, sobretudo, por que – e de que maneira – sua intenção estética provoca efeitos no leitor a ponto de estimulá-lo a decodificar as ambiguidades e suplementar as lacunas da estrutura dos textos.

Biografia do Autor

Rodrigo Fonte, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestre e doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo como área de pesquisa a literatura contemporânea. Além da docência, atua, desde 2016, na formação de licenciandos dos cursos de Literatura, Alemão, Francês, Latim e Grego da Faculdade de Letras da UFRJ como professor supervisor do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), em projetos que investigam a formação do leitor na escola de Ensino Básico e a Língua Portuguesa em perspectiva intercultural.

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Publicado

2024-08-01

Como Citar

FONTE, Rodrigo. Plurissignificativo provocador: as estratégias do ethos fingidor de Ana Cristina Cesar e as intervenções do leitor. Anuário de Literatura, [S. l.], v. 29, p. 01–20, 2024. DOI: 10.5007/2175-7917.2024.e93974. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/93974. Acesso em: 3 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos