O território da velhice em Dalton Trevisan
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e77993Resumen
A partir do final da década de 1940 do século XX, a prosa moderna brasileira foi impulsionada por um grupo de escritores que começava a definir o núcleo da ficção curta urbana. Como fruto desse momento, o conto se firma e amplia seus universos conteudísticos, visitando desde temáticas urbanas até os temas regionalistas, do relato documental às investidas intimistas. Dentre as temáticas urbanas e coletivas destacamos a velhice. Essa temática está presente nas narrativas de vários representantes da linha média que caracterizou a ficção brasileira dos anos de 1950 até essas primeiras décadas do século XXI. Das trinta histórias que constituem A guerra conjugal (1969) do contista curitibano Dalton Trevisan, algumas trazem protagonistas na velhice, expondo-as em uma fase do casamento na qual a solidão se instala incisiva e seca. Se em outras narrativas o malogro do casamento é espicaçado pelas ironias constantes, nos enredos em que a velhice é temática central o silêncio predomina como significado maior do distanciamento dos casais. Em "Batalha de bilhetes", a temática da velhice é problematizada através dos personagens protagonistas João e Maria. O conto joga alternadamente com a voz do narrador, que introduz o cenário e descreve as ações das personagens; com o diálogo entre eles, curto e estéril, sugerindo a falta de comunicação; e com a linguagem dos bilhetes, elemento primordial para nossos comentários e, como o próprio título incita, "instrumento bélico" usado pelos personagens. Neste artigo procuramos analisar as marcas que diferenciam as perspectivas adotadas e como a distância do discurso constrói a imagem da velhice isolada do casal. Para a leitura utilizaremos Bosi (1988) sobre a velhice e na análise do plano do enunciado e do plano da enunciação.
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