Nikolai Leskov e o animismo: falar com pedras no conto Alexandrita
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2021.e82640Palabras clave:
prazer, sofrimento, servidor, públicoResumen
O conto Alexandrita (um fato natural à luz do misticismo), do autor russo Nikolai Leskov (1831-1895), apresenta-se particularmente adequado a uma leitura anímica de seus aspectos insólitos. A personalização das pedras alexandrita e piropo, minerais preciosos que representam as nações russa e tcheca respectivamente, dá à narrativa a hesitação necessária para uma caracterização fantástica, segundo a teoria de Tzvetan Todorov reforçada por David Roas. As duas gemas são tratadas pelo personagem do ourives como dotadas de vida e de alma, características centrais do animismo. Além da concepção anímica, há no conto um contraste entre os saberes civilizados e os chamados tradicionais, pois ao narrador, representante da característica urbana, opõe-se o velho ourives cabalista e místico, guardião da tradição popular de sua terra. Walter Benjamin (1936) retoma a obra de Leskov em sua conhecida teorização acerca da arte de narrar. A qualidade narrativa por ele prezada está contida no modo artesanal como Leskov constrói suas obras. Tal reflexão sobre a arte literária está também em Sigmund Freud, que tece considerações aproximando a psicologia e a antropologia da literatura. O conto Alexandrita é, portanto, o ponto de encontro de conceitos e disciplinas díspares visto ser ele valioso como os objetos e saberes que descreve.
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