Segregação socioespacial e luta por moradia na grande Florianópolis: raízes e características da Ocupação Contestado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2178-4582.2015v49n2p224

Resumo

A Região da Grande Florianópolis passou por um intenso crescimento urbano nas últimas décadas, impulsionado por processos de expulsão populacional de pequenos agricultores provenientes de outras regiões catarinenses e outros Estados. Este crescimento promoveu aceleração da segregação urbana na cidade, na medida em que impulsionou expansão da ocupação das áreas de encostas do perímetro central (o Maciço Central) e se deu em um contexto de opção exclusiva do acesso à ilha pela parte central, o que legou às gerações futuras condições precárias de mobilidade, não obstante os sucessivos aterramentos para construções viárias. Reforçando esta contradição, a veiculação de Florianópolis como “cidade-mercadoria” privilegiou os espaços de praia em detrimento do centro da cidade. Pela distância destas praias e o polinucleamento característico da cidade, esta opção indicou um terreno fértil para o modelo de mobilidade particular, através sobretudo de automóveis, e abriu uma perspectiva de valorização fundiária de extensas áreas localizadas nos entornos dos acessos viários. Este artigo tem como objetivo teorizar a experiência de criação e desenvolvimento da Ocupação Contestado, em um contexto mais geral de elevação da renda da terra na Grande Florianópolis e de expansão de sua periferia urbana. Pretende-se partir deste contexto de modo a apontar que os movimentos de luta por moradia não nascem de ideias e vanguardas iluminadas, senão que são produto do acúmulo de contradições sociais, econômicas e políticas que colocam o povo subalterno e superexplorado da cidade e do campo em luta. Deste povo e nesta luta, surgem as direções e lideranças do movimento. A metodologia combina revisões teóricas, análises qualitativas e levantamento quantitativo, com base nas fontes de dados do IBGE e de questionário aplicado na Ocupação Contestado.

Biografia do Autor

Luís Felipe Aires Magalhães, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Formado em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Doutorando em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Membro do Observatório das Migrações no Estado de Santa Catarina, da UDESC.

Vitor Hugo Tonin, Universidade Estadual de Campinas - Doutorando em Economia

Economista pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorando em Economia pela Universidade Estadual de Campinas.

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Publicado

2015-11-15

Edição

Seção

Dossiê