Variedades locais de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze (Pinales: Araucariaceae) no sul do Brasil: uma breve discussão sobre domesticação de paisagens

Autores

  • Mario Sergio Muniz Tagliari Universidade Federal de Santa Catarina
  • Nivaldo Peroni Federal University of Santa Catarina Biological Sciences Center Trindade Campus

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7925.2018v31n3p59

Resumo

A Araucária é uma espécie emblemática da Floresta Ombrófila Mista – FOM. O comércio do “pinhão”, sua semente, é economicamente relevante para grupos regionais, influenciando no manejo e uso da espécie. As populações da espécie foram historicamente manipuladas pela ação humana, que identificam variedades locais, caracterizando certo grau de domesticação da espécie e da paisagem. Assim, o objetivo desse estudo foi identificar essas variedades, caracterizar o uso e manejo do “pinhão” em comunidades locais circundantes ao Parque Nacional de São Joaquim – PNSJ, e discutir interações homem-plantas que possam ser relevantes na estruturação de paisagens culturais domesticadas. Aplicamos questionários semi-estruturados a quinze agricultores-extratores no entorno do PNSJ. Realizando turnês guiadas, montamos nove parcelas de 1600 m2 para coleta de dados populacionais da Araucária. Nos questionários, quatro variedades foram citadas: “Cajuvá”, “Macaco”, “Do cedo” e “Do tarde” além de duas variedades identificadas nas turnês-guiadas (N=52). Todos entrevistados afirmaram usar, direta/indiretamente, o “pinhão”, além de citarem variedades que conhecem e/ou manejam na FOM, evidenciando processo de domesticação. A conservação da Araucária pode ser favorecida ao considerar populações humanas locais que usam e manejam os recursos dessa espécie, fortalecendo sua conservação ao nível de paisagens manejadas junto às Unidades de Conservação do estado.

 

 

Biografia do Autor

Mario Sergio Muniz Tagliari, Universidade Federal de Santa Catarina

Ecology and Zoology Department - ECZ,

Human Ecology and Ethnobotany Lab - ECOHE

Nivaldo Peroni, Federal University of Santa Catarina Biological Sciences Center Trindade Campus

Ecology and Zoology Department - ECZ,

Human Ecology and Ethnobotany Lab - ECOHE

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Publicado

2018-09-17

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Artigos