Interrogando a "pureza" do transtorno de conduta no campo da infância e adolescência
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Resumo
Neste texto, parte de uma pesquisa de mestrado, buscamos problematizar o uso da noção de “transtorno de conduta” no campo da atenção à saúde mental da infância e adolescência, tendo em vista sua vizinhança com as demandas de gestão da “ordem pública” e com os riscos de incapacitação sociopolítica de crianças e adolescentes. Para tanto: a) sistematizamos e discutimos o surgimento da noção e as mudanças nas descrições desse “transtorno” ao longo das sucessivas edições do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), buscando evidenciar a trama sócio histórica, cultural e política que o produz; b) analisamos o uso do diagnóstico de transtorno de conduta num serviço de saúde mental, o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil, com base na estratégia do caso-traçador e na caracterização e análise das trajetórias de cuidado. A análise de um caso diagnosticado como transtorno de conduta “puro” permitiu evidenciar, a um só tempo, os efeitos, nas sucessivas edições do DSM, do apagamento da leitura relacional dos sintomas e de sua individualização, que, combinados ao automatismo do serviço, podem impedir a produção de um cuidado ampliado e situacional que realmente envolva crianças e adolescentes em seus meios sociais e elos de existência. A construção de um crivo diagnóstico “puro” inscreve as condutas que se distanciam do padrão como desviantes, como “transtorno de conduta”, acionando um circuito reducionista que compele a etiquetar e a corrigir os corpos onde fica situada a anormalidade.
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