A raiva como combustível para lutas por reconhecimento: um olhar sobre o caso Marielle Franco

Autores

  • Francisco Gabriel Alves Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.5007/1806-5023.2023.e91429

Palavras-chave:

Raiva, Luta por reconhecimento, Marielle Franco

Resumo

Este artigo apresenta uma abordagem teórica sobre o potencial da raiva para a mobilização de lutas por reconhecimento. O argumento é o de que a raiva pode favorecer a articulação dos sujeitos marginalizados contra as opressões do racismo ou da cultura machista. Para tanto, o texto dialoga com as reflexões propostas por intelectuais do feminismo negro, incluindo as norte-americanas Audre Lorde (2019) e bell hooks (2019). As duas são acionadas para problematizar a raiva como uma reação legítima diante das injustiças sociais, pela qual seria possível questionar as estruturas de dominação na sociedade. Além disso, o trabalho explora os pilares da teoria do reconhecimento desenhada por Axel Honneth (2009), a fim de esclarecer as motivações subjetivas que levam os sujeitos a reivindicarem demandas por justiça, igualdade e respeito. Para ilustrar esta reflexão teórica, o artigo recorda o assassinato da vereadora Marielle Franco, a partir da análise de postagens do Twitter que podem indicar a presença da raiva como canalizador das lutas formadas em torno do acontecimento. 

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Publicado

2023-11-17