Maternidades subalternas

ser ou não ser mãe nas epistemologias decoloniais e do feminismo negro

Autores

  • Miléia Santos Almeida Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.5007/1806-5023.2022.e83130

Resumo

O debate sobre a construção social e cultural da maternidade, sua dimensão de controle dos corpos e da reprodução das mulheres, é um terreno bastante consolidado na teoria feminista ocidental. Não somente a História, mas a Filosofia, as Ciências Sociais, a Psicologia, entre outros campos, dedicaram muitas páginas às reflexões sobre os condicionamentos de gênero presentes no mito de um amor materno inato e incondicional. Entretanto, assim como não é possível conceber uma forma universal de ser mulher, se faz necessário entender que não existe uma única forma de ser mãe, mas sim formas plurais de maternidades, algumas delas subalternizadas e/ou marginalizadas pelo processo colonizador. Nesse sentido, as contribuições dos feminismos negro e decolonial são fundamentais para romper os limites existentes em uma perspectiva feminista eurocêntrica, branca e burguesa/liberal que, por muito tempo permaneceu alheia a diversidade das questões das mulheres ou mesmo conivente com um processo de dominação-exploração-opressão sobre suas vidas. Tais estudos permitem assim, “descolonizar” o olhar acerca da maternidade e das relações de gênero, para consolidação de uma epistemologia feminista, antirracista, anticapitalista e anticolonial. Essa é então a principal contribuição do presente artigo que, por meio de uma análise teórico-bibliográfica de orientação prática, interroga as maternidades subalternas enquanto chave de leitura da experiência de mulheres não-brancas em contextos pós-coloniais.

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Publicado

2022-03-28