O filo-helenismo da bildung alemã e a invenção da Grécia Antiga como "berço do Ocidente"
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2024.e101457Palavras-chave:
Filo-helenismo, Grécia antiga, OcidenteResumo
Partindo de uma revisão historiográfica com ênfase na história dos conceitos, o objetivo do artigo é explorar a construção histórica da concepção de que a Grécia Antiga se constitui como precursora da "cultura ocidental". Para tanto, perpassa-se alguns processos históricos fundamentais para a consolidação de tal ideia, como o filo-helenismo e os estudos da antiguidade grega impulsionados por Johann Joachim Winckelmann no mundo de língua alemã; o desenvolvimento do romantismo alemão, entrelaçado à formulação de uma identidade cultural germânica frente às invasões napoleônicas à Prússia, que se apoiou sobre a idealização da cultura grega; a reforma do sistema educacional prussiano promovida por Wilhelm von Humboldt, fundamentada em uma concepção humanista que valorizava especialmente os estudos helênicos; o desenvolvimento da linguística histórico-comparativa; a ampliação dos estudos sobre as línguas indo-europeias; e o modelo ariano de interpretação da Grécia Antiga. Como resultado, compreendemos que a grande valorização atribuída à antiguidade grega foi concebida em língua alemã por volta do período do romantismo alemão e do surgimento da Universidade de Berlim, em 1810, mas a ideia foi ampliada para outros lugares da Europa e, não só a Grécia Antiga, mas a História Antiga no geral, passou a ser utilizada como sustentáculo da ideia de "cultura ocidental", que teria origem nessa suposta herança cultural grega.
Referências
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
BEISER, Frederick C. The romantic imperative: the concept of early German romanticism. Cambridge: Harvard University Press, 2003.
BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de história. In: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre a literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin e tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222-232.
BERNAL, Martin. A imagem da Grécia Antiga como uma ferramenta para o colonialismo e para a hegemonia europeia. In: FUNARI, Pedro Paulo A. (org.). Repensando o Mundo Antigo. 2. ed. Campinas: IFCH/Unicamp, 2005. p. 13-31.
BERNAL, Martin. Black Athena: The Afroasiatic Roots of Classical Civilization. Volume I: The Fabrication of Ancient Greece, 1785-1985. Londres: Vintage/Ebury, 2002.
BUTLER, Eliza M. The Tyranny of Greece Over Germany: a study of the influence exercised by Greek art and poetry over the great German writers of the eighteenth, nineteenth and twentieth centuries. Cambridge: Cambridge University Press, 1935.
CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: postcolonial thought and historical difference. Princeton: Princeton University Press, 2000.
GUARINELLO, N. L. Uma Morfologia da História: As Formas da História Antiga. Politeia - História e Sociedade, v. 3, n. 1, 2010. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/politeia/article/view/3935. Acesso em: 01 fev. 2024.
GUIMARÃES, Géssica G. A ideia do belo na tradição germânica: debates em torno do laocoonte. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 74-94, jun. 2018. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/53865. Acesso em: 17 jul. 2023.
HALL, Jonathan M. Quem eram os gregos. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo, 11: 213-225, 2001.
HANSON, Victor D. Por que o Ocidente venceu: massacre e cultura - da Grécia Antiga ao Vietnã. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
HANSON, Victor D. The Case for Trump. New York: Basic Books, 2019.
HERING, Fábio A. Helenismo e imperialismo: a imaginação histórica britânica e a construção moderna da Grécia antiga. 2006. 164 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação - História, Unicamp, Campinas, 2006.
HEYWOOD, Andrew. Ideologias Políticas: do liberalismo ao fascismo - volume 1. São Paulo: Ática, 2010. 256 p.
CAMERON, Norman et al. Hitler's Table Talk 1941-1944. Discurso 113, Noite de 18 para 19 de Janeiro de 1942. New York: Enigma Books, 2000.
HOBSBAWM, Eric. Nações e Nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
KUHLMANN, Peter; SCHNEIDER, Helmuth. Classical studies from Petrarch to the 20th century. In: KUHLMANN, Peter; SCHNEIDER, Helmuth (eds.) Brill's History of Classical Scholarship. New Pauly. A Biographical Dictionary. Translated and edited by Duncan Smart and Chad M. Schoeder. Leiden – Boston, Brill, 2014. p. XVIII - XLVII.
LIANERI, Alexandra (org.) The Western Time of Ancient History: Historiographical Encounters with the Greek and Roman Pasts. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
MORALES, Fábio A.; SILVA, Uiran G. da. História Antiga e História Global: afluentes e confluências. Revista Brasileira de História, v. 40, p. 125-150, 2020.
MUHLACK, Ulrich. German enlightenment historiography and the rise of historicism. In: BOURGAULT, S.; SPARLING, R. A Companion to Enlightenment Historiography. Leiden/Boston: Brilll, 2013.
NETTO, Michel N. O uso da cultura no Romantismo alemão. Arquivos do CMD, [S.L.], v. 2, n. 1, p. 10-32, dez. 2014. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/CMD/article/view/7542. Acesso em: 22 maio 2023.
OLIVEIRA, Flávio dos S. Nação e unidade nacional nos pensamentos de Herder, Fichte e List. Contemporânea: Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, v. 12, n. 1, p. 221-247, abr. 2022. Disponível em: https://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/779. Acesso em: 01 fev. 2024.
PAPPA, Eleftheria. Tropicalismo in classics. Contemporary Brazilian approaches to the value of classical antiquity in research and education. Journal of Critical Education Policy Studies, v. 18, n. 2, p. 358-408, 2020.
POLIAKOV, Léon. The Aryan myth: a history of racist and nationalist ideas in Europe. Falmer: Sussex University Press, 1974.
POSER, Rachel. He wants to save Classics from Whitness. Can the field survive? The New York Times Magazine, New York, 02 fev. 2021.
QUEIROZ, Tereza A. P. O Renascimento. São Paulo: Edusp, 1995.
REBENICH, Stefan. The making of a bourgeois antiquity: Wilhelm von Humboldt and Greek history. In: Lianeri, Alexandra (ed.). The Western Time of Ancient History: Historiographical Encounters with the Greek and Roman Pasts. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. p. 119-137.
ROCHER, Rosane. The Knowledge of Sanskrit in Europe until 1800. In: AUROUX, Sylvain (ed.). History of the Language Sciences: An International Handbook on the Evolution of the Study of Language from the Beginnings to the Present. Berlin: Walter de Gruyter, 2000. V. 2.
RODRIGUES, Luzia G. Friedrich Nietzsche: “ideal clássico” e “ideal romântico” na tradição alemã. Cadernos Nietzsche, São Paulo, v. 22, n. 1, p. 93-126, 2007.
ROSENFELD, Anatol; GUINSBURG, Jacó. Romantismo e Classicismo. In: GUINSBURG, Jacó (org.) O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1985.
SANTOS, Dominique. Eurípedes Simões de Paula: pioneiro na formação da área de História Antiga no Brasil. In: MOERBECK, Guilherme; FRIZZO, Fábio (orgs.) Pesquisadores da Antiguidade. Serras: Editora Milfontes, 2023, p. 31-52.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
SILVA, Rafael G. T. da. O Evangelho de Homero: por uma outra história dos estudos clássicos. 2022. Tese (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Letras. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2022.
WILAMOWITZ-MOELLENDORFF, Ulrich von. História da Filologia. Araçoiaba da Serra: Mnēma, 2023.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Dominique Vieira Coelho dos Santos, Graziela Vansuita

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A reprodução dos textos editados pela Esboços: histórias em contextos globais é permitida sob Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0). Será pedido aos autores que assinem a licença de acesso aberto antes da publicação.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Os autores cedem à revista eletrônica Esboços: histórias em contextos globais (ISSN 2175-7976) os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).
- Essa licença permite que terceiros final remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado desde que atribua o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico.
- Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução ou como capítulo de livro).

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.


