História social de um documento global: trajetórias do filme 25 e a escrita da história da África pós-colonial (Moçambique, Brasil e Europa - 1974-2019)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2021.e78350Resumo
O artigo analisa as trajetórias da realização do filme 25 e os caminhos que levaram ao Arquivo Edgard Leuenrouth (AEL), localizado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a terem sob seus domínios o vasto acervo documental e imagético da produção. O artigo também aborda as consequências e desafios da escrita da história da África provocados pela incontornável pulverização dos acervos documentais sobre o passado africano existente em arquivos ao redor do globo. Realizado por José Celso Martinez Corrêa e Celso Luccas, ambos do grupo dramatúrgico brasileiro Teatro Oficina, com apoio financeiro português, inglês, belga, francês e moçambicano, o filme é, ao mesmo tempo, um registro da independência de Moçambique, uma imaginação visual anticolonial para o país independente e uma proposta de construção de um futuro pós-colonial global. Pensando o 25 e uma vasta gama de documentos relacionados ao filme a partir da história social, o artigo aborda questões referentes a produção cinematográfica no contexto da independência moçambicana e a escrita da história da África durante e depois da formação das nações no continente. As dificuldades contemporâneas em se ter acesso aos arquivos nos/dos países africanos acarreta a necessidade de uma escrita da história da África pós-colonial que leve em consideração o internacionalismo das dinâmicas da formação das nações no continente. Nesse sentido, o artigo analisa o 25 como uma maneira de debatermos o estudo do passado africano durante e depois das descolonização e os arquivos e o que salvaguardar ou não em seus espaços como uma maneira de produzir uma história da nação.
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