Malunguinhos: tráfico de africanos e pecuária escravista na fronteira oeste do Rio Grande do Sul (c.1820-1840)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e92886Palavras-chave:
Escravidão, Africanos, TráficoResumo
As temáticas deste artigo são o alcance do tráfico transatlântico de africanos escravizados em regiões de economia de mercado interno do Brasil, na primeira metade do Oitocentos, e as características da exploração daqueles trabalhadores. Por meio da análise de registros paroquiais de batismos e de inventários post mortem de duas localidades da fronteira oeste do Rio Grande do Sul (1820-40), investigamos a capacidade de dispersão e de adaptação da escravidão e do tráfico no território brasileiro. Percebemos que a produção pastoril, predominante no espaço estudado, estabeleceu um padrão de utilização de cativos muito jovens, o qual foi condicionado e condicionou a demanda regional de africanos escravizados desde fins do Setecentos. Concluímos que: 1) o tráfico transatlântico desempenhava um papel importante até mesmo em espaços de economia subsidiária no Rio Grande do Sul, que se conectavam ao complexo charqueada-plantations e 2) a idade dos escravos batizados indica que a iniciação deles nas atividades produtivas ocorria numa faixa etária mais próxima dos 10 a 12 anos do que dos 14 a 15, que é considerada por considerável parcela da historiografia como início da idade produtiva dos cativos.
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